quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Associativismo - Os princípios (5)

Não sabemos em qual das velhas "associações dramáticas" se instalou a "Estudantina Tavaredense". Inclinamo-nos para a casa de Romana Cruz, ao Paço, mas não afirmamos que assim fosse. A certeza é que, em Julho de 1894, a "Gazeta da Figueira" dá a seguinte notícia:
"Existe ha tempos n’esta visinha aldeia do nosso concelho, que é, por assim dizer, um arrabalde d’esta cidade, tão proxima fica d’aqui, uma sociedade musical composta de rapazes operarios, que, nas horas disponiveis do seu labor, ali vão divertir-se. Essa mesma sociedade acaba de alugar um theatrinho que existe no palacio do sr. conde de Tavarede, a que poz o nome de um dos ascendentes d’aquelle titular -”Duque de Saldanha”- onde vae dar alguns espectaculos, sendo o primeiro no proximo sabbado, com as comedias em 1 acto “Por um triz”, “Creado distrahido”, “Dois curiosos como ha poucos”, e a scena comica “José Gallo na cidade”.
Não temos senão que applaudir a iniciativa dos arrojados rapazes, pois que o theatro é uma escola onde podem instruir-se e desenvolver-se
."
Aproveitando-se das condições que o novo teatro lhes oferecia, de imediato começaram a ensaiar diversas peças, assim como a Tuna, entretanto formada. Em Outubro daquele ano levaram à cena 'mais' um espectáculo, no sábado 6, "pelo grupo de curiosos que ali tem representado", levando à cena as comédias 'Choro ou rio?', 'O criado distraído', 'Um filho para três pais', completando o serão a cena cómica 'O Zé Galo na cidade'.
A propósito deste espectáculo temos a informação de que o ensaiador foi Manuel Gomes Cruz, então estudante na Universidade de Coimbra, e a orquestra foi dirigida pelo seu irmão, José Gomes Cruz, também estudante na mesma Universidade. Esta notícia diz-nos que nos intervalos este senhor (José) tocou alguns trechos musicais no bandolim, acompanhado a violão por Gentil Ribeiro. Ainda sobre este espectáculo, refere que as comédias foram razoavelmente interpretadas, tendo-se distinguido, contudo, José Medina, 'que mostra ter uma decidida vocação para a cena'. Voltaremos à Estudantina, para contar o espectáculo do final do ano e as comemorações do seu 2º. aniversário, em 22 de Março de 1895.
Vamos dar um pequeno salto à reportagem de Ernesto Tomás sobre a nossa terra. Quando ele visitou a nossa terra em finais de 1895 e princípios de 1896, pediu a um amigo que lhes indicasse a morada de António da Silva Proa, pois desejava falar-lhe. Sendo informado que este se encontrava atarefado na construção dum teatrinho, no centro da povoação, ali o foram procurar.
"Encontrámol-o com dois carpinteiros que trabalhavam no tecido do palco, e no meio de admirações de me ver n’aquella povoação foi me dando o braço arrastando-me a sua casa, aonde fomos dar.
A sua esposa, a Emilia do Cura, d’outros tempos, apresentava-se ainda com a sua natural bonhomia, affavel, boa moça como então era.
Enleiamos uns cumprimentos rapidos cheios de alegria mutua, e o Antonio Proa, arrastando-nos sempre, e sempre prazenteiro, ferrou comnosco na sua adega...
Pouco tempo nos detivemos n’aquella mansão, porque, afinal, o Antonio tinha o theatrito a fervilhar lhe na cabeça. Era preciso lá ir. Palco, panno da bocca, bastidores, etc., absorviam-no.
Se não conhecem o Antonio a que nos referimos, dir-lhe-emos que é o genio mais typico do genero fervilha. Não pára, não descansa, e em tendo que levar por deante um emprehendimento é capaz de não dormir seis dias ou mais.
Generoso como o pae, que a fortuna ainda lhe conserva, é como elle intelligente, e um operario esculptor digno de menção no nosso acanhado meio
".
Este teatrinho situava-se na casa de Joaquim Águas, e deram-lhe o nome de "Bijou Tavaredense". Brevemente lhes contaremos o que foi o primeiro espectáculo dado neste teatrinho. Foi a célebre peça "Os Reis Magos".
(continua)

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