sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Tavarede - Terra violenta?

A nossa querida Terra do Limonete também tem tido várias cenas de violência. E não só nos tempos mais próximos. Os jornais antigos relatam casos verdadeiramente deploráveis. Mas, na verdade, também esses casos fazem parte da nossa história, pelo que me atrevo a recordar alguns desses tristes acontecimentos.
O jornal 'Correio da Figueira, de 17 de Dezembro de 1890, relata dois casos.
" Eram 9 da noute, pouco mais ou menos, e ao som de plangente guitarra Manuel d’Oliveira batia o fado airosa e enthusiasticamente na mercearia e loja de bebidas de António de Lavos, na pacata povoação de Tavarede, domingo passado, sendo parceiro seu enteado Paulino de Figueiredo, ambos casados e trabalhadores do mesmo logar. Entre os circumstantes achava-se Joaquim Gaspar, tanoeiro, contra o qual um dos dansadores foi impellido, e que, por ter conhecimento de certas intenções do Paulino = arranjar passagem gratuita para Africa, visto não o deixarem ir para o Brazil... sahiu em direitura para sua casa.
No seu encalce partiram os dois, e encontrando-o a pequena distancia, enquanto o padrasto agarrava Gaspar, o enteado dava-lhe quatro facadas – na parte posterior do pescoço, no hombro esquerdo, nas costas, e em a nadega direita – não lhe rasgando a cara em differentes direcções por ter o agredido aparado alguns golpes que ficaram todos a superficie da pelle.
Acudindo gente, deixaram o pobre rapaz que veiu a esta cidade curar-se ao hospital da Misericordia, continuando os dois em plena liberdade – da qual usaram briosamente atacando Augusto Rodrigues Alves, do mesmo logar, que ia passando socegado, e a quem o Paulino jogou uma facada que apenas lhe roçou pela face esquerda.
Afinal appareceu o regedor que, ajudado por alguns cabos de policia, conseguiu pôr cobro àquella patuscada que ameaçava deixar os rapazes de Tavarede lardeados de facadas, mettendo na cadeia da Figueira os dois sugeitos, um dos quaes tanto quer ir de graça para a Africa.
Pena será se lhe não fazem a vontade!"
O outro caso terá tido piores consequências.
"A visinha povoação de Tavarede, que passava por ser uma das mais pacatas e ordeiras de todo o nosso concelho, ultimamente parece querer negar o bom credito em que era considerada.
No domingo, dia 14, por volta das nove horas da noite, Antonio Fadigas, morador no Saltadoiro, que seguia muito tranquillo da sua vida em direcção a casa, foi aggredido à entrada de Tavarede, junto ao paço dos Condes, por um tal Estevão, cujo nome por completo ignoramos, que lhe vibrou uma paulada com tal força que o pobre rapaz cahiu redondamente no chão. Em seguida, que figados!, depois de o ver por terra, pizou-o brutalmente, ficando o desgraçado em tão misero estado que teve de ser conduzido n’uma padiola para sua casa.
A pancada feriu-o gravemente na cabeça e o infeliz moço, que se acha em perigo de vida, apresenta tambem muitas contusões por todo o corpo, especialmente na região thoraxica.
Parece que a causa da brutal aggressão foram rixas antigas entre os dois.
Até esta hora não sabemos que se tenha dado communicação official do attentado".
Na edição seguinte o mesmo jornal noticiava:

"Verificou-se, infelizmente, o que previamos na noticia que démos em o numero anterior, sobre a brutal aggressão de que em Tavarede foi alvo o pobre Joaquim Migueis Fadigas. O misero, poucas horas depois de ferido, perdeu a falla e todos os sentidos, que não mais recuperou, até que falleceu ante-hontem à noute.
Parece-nos que, regressando à sua casa de Cabanas, no domingo à tarde, fôra por uns amigos convidado em Tavarede a arranchar n’uma pequena patuscada. Ao ajustar das contas, alguem pareceu exigir-lhe 70 reis – quota parte em que ficou aos convivas o quinhão da despeza. Allegou elle que, tendo sido convidado, não devia pagar – e com isso pareceu accommodarem-se todos.
Foi um pouco depois d’esta scena que, sem provocação, Estevam deu uma forte pancada sobre a cabeça de Fadigas, que o prostou desde logo, sendo em seguida pisado brutalmente aos pés por aquelle scelerado.
Prepararam uma padiola para levar o infeliz para casa da mãe que mora um pouco acima de Tavarede, na Ferrugenta; mas elle dispensou-a, e com uma energia extraordinaria, depois de perder grande quantidade de sangue, partiu ajudado por algumas pessoas. Apenas lá chegou cahiu em côma, de que não tornou a sahir, até fallecer à hora que apontámos.
Estevam da Silva Soares, que é morador no Valle de Sampaio, n’aquella freguezia, anda a monte, e a auctoridade constitue o processo d’este crime deploravel.
O infeliz Fadigas deixa na penuria viuva e cinco creancinhas".
Embora conheçamos diversas pessoas com alguns dos apelidos acima, não temos possibilidade de fazer qualquer relacionamento com os intervenientes nestes dois casos.

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