quarta-feira, 16 de setembro de 2009

António Maria de Oliveira Simões


“Esse a quem a morte cerrou as pálpebras há dias, era um figueirense de gema. Boa têmpera, num ambiente familiar que não ia além de si. Bairrismo de boa cepa, apego ao seu torrão, zelo e dedicação por tudo quanto concorresse para o seu prestígio e maioridade – tudo isso reunia-se fervorosamente nele, no quadro de apagada discrição e modéstia, que talvez fosse o seu maior crime se não a sua maior virtude.
Dado às artes e à música, cultivou-as com enlevo quase místico, numa paixão reacendida de fé, que desafiava o tempo e as épocas. Era talvez um espírito fora do seu século, a quem não convenciam atitudes truculentas, as violências dos futebóis e outras que tais maravilhas pró-elasticidade dos bíceps, por não senti-las e não terem entrado na formação social da sua juventude. Nessa altura, pontificava serenamente a experiência de um romantismo espiritual, dando aos homens uma consciência do seu valor como potência mental e dando à emoção o sentido exacto de uma vida superior…
… no plano da Arte, foi a música o seu enlevo e o violoncelo conheceu os segredos recatados do seu coração sensível…
… na sua paleta, punha notas de ternura e intimismo e um recolhimento introvertido que eram a expressão da sua atraente e honesta maneira de ser. Os seus trabalhos de caligrafia, em que era mestre, inculcavam-no um artista de eleição no domínio completo das dificuldades dessa arte tão pessoal e rica de efeitos espectaculares…”.


Relativamente à nossa terra, António Simões foi um dedicado colaborador do grupo cénico da Sociedade de Instrução.
Compositor musical de elevada sensibilidade artística, são de sua autoria as partituras das seguintes operetas e fantasias aqui levadas à cena: Em busca da Lúcia-Lima (1925), Pátria Livre (1926), Grão-Ducado de Tavarede (1927), Retalhos e Fitas (1928), O Sonho do Cavador (1928), A Cigarra e a Formiga (1929), O Casamento da Vasca (1930), Justiça de Sua Majestade (1935) e Chá de Limonete (1950). Além destas, compôs também a música para outras peças representadas pelo nosso grupo cénico.
Começou a dirigir a orquestra da SIT em 1924, na opereta Noite de S. João e desempenhou esta tarefa até ao final da primeira série das representações de Chá de Limonete. A partir de então, sempre as suas músicas têm continuado a fazer parte do teatro musicado tavaredense.
Em 1928, a Sociedade de Instrução prestou-lhe homenagem nomeando-o seu sócio honorário e descerrando o seu retrato, que se encontra exposto no salão nobre da colectividade.
É autor, igualmente, do desenho do “ex-libris” e do actual estandarte da Sociedade de Instrução, assim como de um quadro com a partitura do hino da associação e o retrato do seu compositor, Gentil da Silva Ribeiro. Nasceu no ano de 1886 e faleceu em 1960.

(Caderno: Tavaredenses com história)

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