Dado às artes e à música, cultivou-as com enlevo quase místico, numa paixão reacendida de fé, que desafiava o tempo e as épocas. Era talvez um espírito fora do seu século, a quem não convenciam atitudes truculentas, as violências dos futebóis e outras que tais maravilhas pró-elasticidade dos bíceps, por não senti-las e não terem entrado na formação social da sua juventude. Nessa altura, pontificava serenamente a experiência de um romantismo espiritual, dando aos homens uma consciência do seu valor como potência mental e dando à emoção o sentido exacto de uma vida superior…
… no plano da Arte, foi a música o seu enlevo e o violoncelo conheceu os segredos recatados do seu coração sensível…
… na sua paleta, punha notas de ternura e intimismo e um recolhimento introvertido que eram a expressão da sua atraente e honesta maneira de ser. Os seus trabalhos de caligrafia, em que era mestre, inculcavam-no um artista de eleição no domínio completo das dificuldades dessa arte tão pessoal e rica de efeitos espectaculares…”.
Relativamente à nossa terra, António Simões foi um dedicado colaborador do grupo cénico da Sociedade de Instrução.
Compositor musical de elevada sensibilidade artística, são de sua autoria as partituras das seguintes operetas e fantasias aqui levadas à cena: Em busca da Lúcia-Lima (1925), Pátria Livre (1926), Grão-Ducado de Tavarede (1927), Retalhos e Fitas (1928), O Sonho do Cavador (1928), A Cigarra e a Formiga (1929), O Casamento da Vasca (1930), Justiça de Sua Majestade (1935) e Chá de Limonete (1950). Além destas, compôs também a música para outras peças representadas pelo nosso grupo cénico.
Começou a dirigir a orquestra da SIT em 1924, na opereta Noite de S. João e desempenhou esta tarefa até ao final da primeira série das representações de Chá de Limonete. A partir de então, sempre as suas músicas têm continuado a fazer parte do teatro musicado tavaredense.
Em 1928, a Sociedade de Instrução prestou-lhe homenagem nomeando-o seu sócio honorário e descerrando o seu retrato, que se encontra exposto no salão nobre da colectividade.
É autor, igualmente, do desenho do “ex-libris” e do actual estandarte da Sociedade de Instrução, assim como de um quadro com a partitura do hino da associação e o retrato do seu compositor, Gentil da Silva Ribeiro. Nasceu no ano de 1886 e faleceu em 1960.
(Caderno: Tavaredenses com história)
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