segunda-feira, 28 de setembro de 2009

António Medina Júnior


Nasceu a 21 de Abril de 1898, em Tavarede, filho de António Medina e de Otília Nunes do Espírito Santo.
Fez a instrução primária com a professora Maria Amália de Carvalho e continuou os estudos na Escola Industrial e Comercial da Figueira da Foz, frequentando o curso nocturno, empregando-se, como aprendiz de tipógrafo, na Tipografia Lusitana, na Figueira.
Fundou o semanário “Praia Elegante”, em 1915, de companhia com António Amargo e Mário Reis, seus companheiros de trabalho naquela tipografia. No ano de 1921, fundou em sociedade com João Fernandes Nascimento, a tipografia “Nascimento & Medina”, com instalações na Rua das Flores, mas que teve curta duração.
Muito novo, integrou-se no associativismo, primeiro na Sociedade de Instrução Tavaredense e depois no Grupo Musical e de Instrução, fundado por seu pai e por seu tio, José Medina, em 1911.
Executante musical de elevado nível, fez parte da Tuna e de um conjunto musical de que foi violinista, com António Cordeiro, tocando em bailes de gala e em celebrações religiosas, acompanhando, por vezes, um coral expressamente formado para estes actos solenes.
Amador dramático muito versátil, formou, com sua irmã Violinda, o par de principais protagonistas nas peças levadas à cena pelo grupo dramático do Grupo Musical, no período de 1920 a 1927.
Também foi ensaiador do mesmo grupo (ensaiou, entre outras peças, a opereta Amores no Campo) e dirigente, na direcção e na assembleia geral. Também exerceu o cargo de cobrador da Companhia do Gás e das Águas.
Começou, muito novo, a dedicar-se ao jornalismo. Além de fundar o jornal já referido, foi correspondente local do jornal “O Figueirense”, em cuja tipografia se empregou em 1923, chegando a travar acesas polémicas com correspondentes rivais a propósito de problemas da terra.
No ano de 1927, correspondendo a um convite que lhe foi dirigido, foi para Sintra trabalhar e dirigir uma tipografia onde era composto e impresso o jornal “Sintra Regional”. Com a morte do seu proprietário, adquiriu a tipografia para si e, no dia 7 de Janeiro de 1934, lançou o “Jornal de Sintra”, de que foi proprietário e director até à sua morte no ano de 1983.
Bairrista acérrimo, foi sempre o “embaixador da Figueira em terras saloias”, como ele próprio se intitulava com certo orgulho e satisfação. Organizou algumas excursões de Sintra à Figueira e a Tavarede, a última das quais, em 1958, com a vinda da conceituada banda de Pêro Pinheiro. Igualmente deu vida a deslocações de tavaredenses e figueirenses a Sintra, nomeadamente do grupo cénico da Sociedade de Instrução, que ali se apresentou, primeiro em 1945 em Colares, com as peças A Nossa Casa e Horizonte, e depois em 1957, com as peças Frei Luís de Sousa e Peraltas e Sécias, representadas no teatro-cine local.
Havia casado, em 1920, com Emília Pedrosa, também ela amadora dramática no Grupo Musical, e tiveram dois filhos: Maria Almira e António. Faleceu em Sintra, no dia 22 de Outubro de 1983.
“… aquele azougado e vivito rapazinho que nos apareceu um dia “à caixa”, a pôr as letras em pé na secção de cheio da oficina do saudoso mestre Augusto Veiga, - vindo da risonha e pitoresca aldeia, cuja gente é perfumada de limonete, - desde logo começou a ter faísca para a arte, como a teve também para coçar as tripas da sua rabeca em estudantinas da sua terra. Parece estar a vê-lo: risonho, trocista, bamboleante, com os seus ditos picantes e frescos, principalmente quando se proporcionava um bródio de alegria franca… Um dia, já homem, emigrou da sua aldeia. A trouxa era magra… A cabeça era um feixe de ilusões, o espírito um manancial de esperanças, - e a estrela que o iluminava e conduzia era como que a enviada pelo Destino a orientar a rota da sua jornada… Como caminheiro que sabe o que vê e o que sente, fixou seus olhares surpreendidos e maravilhados na deslumbrante serra de Sintra…
… Fixou-se. Desfez a trouxa. E começou a sua faina. O componedor na oficina e a rabeca nas horas vagas e caseiras vão entretendo o novo cidadão de Sintra… Fundou o “Jornal de Sintra”. Orientado pelo seu natural bairrismo e talvez por dedicações amigas e idóneas, teve a felicidade e a honra de lhe ser ligada aquela consideração que distingue as pessoas de bem!”.
A Câmara Municipal de Sintra prestou-lhe homenagem nomeando-o “Cidadão Honorário” e atribuindo-lhe a “Medalha de Ouro do Concelho”. Por sua expressa vontade, esta medalha e um livro, em pergaminho, com milhares de assinaturas em mensagem de apreço e gratidão, foram entregues à guarda do Museu Municipal Dr. Santos Rocha, da Figueira da Foz.
No almoço que uma representação da Figueira lhe ofereceu em Colares, disse: “… eu dei-me, há 43 anos, a Sintra. Dei-me todo. Todo. Desgastei a minha mocidade radiante ao serviço de Sintra, com muita pena de o não ter feito na minha terra. Mas o que Sintra não sabe, ou se sabe respeita o meu segredo, é que é aqui onde anda o corpo físico, porque o coração nunca saiu da Figueira. Está lá. O coração está sempre na Figueira!”.
Igualmente o seu nome faz parte da toponímia sintrense, o que também se verifica em Tavarede, onde, por proposta da Junta local aprovada pela Câmara Municipal, foi atribuído o seu nome a uma rua na Quinta da Esperança, em Outubro de 1996.

Numa das suas vindas a Tavarede, nos anos 50, participou, com a rapaziada, numa corrida de sacos

Defensor entusiasta das velhas tradições da terra do limonete, foi com o maior entusiasmo que, quando nos anos 50 do século passado, fizeram reviver o primeiro de Maio, com o seu rancho dos potes floridos, não resistiu. Com a sua “rabeca” debaixo do braço, gritou bem alto: presente! Eis um pequeno recorte duma noticia que escreveu contando esta aventura:
“… na grata intenção de reviver horas largas de felicidade já distantes, e experimentar o sabor dulcificante dos sorrisos e dos cantares da gente moça da minha amada Tavarede, soltados ao espaço nas horas matutinas e orvalhadas da próxima madrugada do primeiro de Maio, em que também quero incorporar-me no naipe dos tocadores…
… Não sei a que pontos o meu virtuosismo chegará. Uma coisa garanto desde já aos ‘rapazes’ do meu tempo que porventura queiram recordar felicidades distantes que se foram para sempre e se dignem comparecer, também, ao lado do sanguinho na guelra da nossa terra: é a certeza absoluta de que, se a gloriosa Marcha do Rancho de Tavarede não sair pelos dedos destreinados das mãos, ela será arrancada à “sanfona” pelos dedos fortes da alma…”.
Assim aconteceu. E as consequências? “… de violino nos queixos – espírito remoçado, tempos revividos, evocações e saudades presentes -, que me provocaram (porque não confessá-lo?) uma tremenda comoção -, acompanhei a garbosa embaixada do Maio florido na sua clássica peregrinação.
E, - coisa curiosa! – as notas da linda marcha “saíram” todas, como se entre elas e os largos anos que separaram os meus dedos do violino, nunca tivessem existido. O pior é que, quando cheguei ao fim da jornada, em que se calcorrearam bastantes quilómetros, quase foi necessária uma “padiola” para me transportarem para o ponto de partida. Estava que nem uma passa, constituindo tal facto um primoroso “pratinho” para a minha irmã Violinda e para a minha ditadora conjugal, as quais me “repassaram” de sarcasmos durante o resto do dia e o menos que me chamaram foi ‘velho-gaiteiro’!”.
Era sócio honorário do Grupo Musical Tavaredense.

(Caderno: Tavaredenses com história)

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