segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

António Jorge da Silva

Natural de Tavarede, nascido no dia 3 de Outubro de 1915, era filho de João Jorge da Silva e de Clementina Nunes do Espírito Santo, e faleceu no dia 8 de Agosto de 1986. Casou com Maria Estrela Reis Tondela, tendo uma filha: Maria Clementina.

Como grande número de tavaredenses, enveredou pela profissão de tipógrafo, tendo-se destacado, também, como um verdadeiro artista, na difícil arte de encadernador. Começou a trabalhar na oficina de seu primo, Manuel Nogueira e Silva, sita na Figueira, defronte do antigo Liceu. Anos mais tarde, juntamente com dois sócios, estabeleceu-se com a conhecida tipografia “Cruz & Cardoso, Lda”., da qual foi gerente durante muitos anos. Foi um dos fundadores do jornal “Mar Alto”, no qual deixou muita e interessante colaboração. Também foi correspondente local da imprensa figueirense e coimbrã.
Amador dramático bastante talentoso, e de que adiante daremos alguns apontamentos, foi acérrimo defensor do regime republicano, chegando a estar preso, no Porto, pela polícia política do antigo regime. Após o movimento de 25 de Abril de 1974, foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia eleito, como independente, pela lista do Partido Socialista. A recordar a sua passagem como autarca está, entre muitas outras obras, a construção do actual edifício daquela Junta.
Começou a prestar a sua colaboração ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense na peça Entre Giestas, em 1938. Até ao final da sua carreira teatral, representou mais de 60 personagens, em peças de que destacamos: A Morgadinha de Valflor, O Sonho do Cavador, Génio Alegre, A Nossa Casa, Envelhecer, O Grande Industrial, Horizonte, Auto da Barca do Inferno, O Cão e o Gato, Pé de Vento, Chá de Limonete, Frei Luís de Sousa, Serão Homens Amanhã, Catão, O Tio Simplício, Israel, Ana Maria, Peraltas e Sécias, A Conspiradora, Os Velhos, As Árvores Morrem de Pé, O Beijo do Infante, Terra do Limonete e tantas mais.
“Merece referência especial. Dispõe de invulgares aptidões histriónicas e adapta-se, sem dificuldade, a qualquer personagem. No papel de ébrio (David Seco) é inexcedível. Consideramo-lo o amador nº 1 do elenco masculino do núcleo de Tavarede” (Chá de Limonete).
“Calorosos aplausos merece, sem dúvida, António Jorge da Silva, pelo seu Hermenegildo, cheio de ternura e à-vontade. Esquecemo-nos, ao vê-lo contracenar com a sua Delfina, que estamos defronte de um amador e cremos ser este o maior elogio que podemos render à sua intervenção na referida peça” (Serão Homens Amanhã).
”Deu-nos um Telmo Pais do melhor quilate, excelente retrato da personagem, a contrastar com a caricatura que é o Frei Tomás, dos Peraltas, desenhada pelo intérprete com perfeita correcção”. (Frei Luís de Sousa e Peraltas e Sécias).
“Entregou-se de corpo e alma a um Bento sadio e aberto, homem sem “papas na língua”, desses que retratam todo um tipo de aldeão que ainda, felizmente, se encontram” (Os Velhos).
“Arca com a pesada responsabilidade de um papel que é a verdadeira prova de exame para alunos de um conservatório dramático e o faz com direito a obter justíssima distinção. Perfeito na arte de dizer e na arte de escutar. Artista e não amador na forma como encarnou, viveu e sentiu o personagem. Comprova com o seu André, mais uma vez, que está ali um dos grandes, um dos melhores amadores figueirenses de todos os tempos, demonstrando cabalmente que nem só na comédia ocupa lugar destacado entre os amadores portugueses (O Beijo do Infante).

No ano de 1959, no concurso de arte dramática organizado pelo Secretariado Nacional da Informação, foi-lhe atribuído o prémio “Chaby Pinheiro”, melhor interpretação masculina, na comédia Os Velhos.
A Sociedade de Instrução Tavaredense homenageou a sua memória, em Janeiro de 1993, descerrando o seu retrato que se encontra exposto no seu salão nobre.
Mas, talvez a melhor crítica que terá sido feito a António Jorge da Silva e, igualmente, ao amador Fernando Reis, terá sido a proferida por Mestre José Ribeiro que, em pleno ensaio da peça Frei Luís de Sousa, quando estavam em cena, no terceiro acto, interpretando as figuras de Telmo Pais e Romeiro, desempenhavam os seus papéis com tal perfeição e consciência, que ele se levantou do seu lugar na plateia, donde dirigia o ensaio, e batendo as palmas, exclama, cheio de entusiasmo: “Basta! Acabou o ensaio! Não dou licença a filhos de p… nenhuns, que façam isto melhor do que vocês!…”. E Mestre José Ribeiro não era muito pródigo em elogios aos seus amadores…
Sua esposa, Estrela Reis, também foi amadora do grupo cénico da Sociedade de Instrução, no qual participou de 1932 a 1940. Julgamos que igualmente terá feito parte da extinta secção dramática do Grupo Musical.

Caderno: Tavaredenses com História
Fotos: 1 - António Jorge da Silva e esposa, Estrela Reis; 2 - Na peça 'Frei Luis de Sousa', como 'Telmo Pais'; 3 - Em 'O Beijo do Infante', no papel de André.

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