domingo, 17 de janeiro de 2010

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense - 9

11 ANOS DOURADOS
Ao intitular este capítulo como “Um período dourado”, tive, como motivo, o grande desenvolvimento artístico verificado na colectividade entre os anos de 1917 a 1928. O despique com os amadores vizinhos da Sociedade de Instrução, que, sem dúvida, teve capital importância no nível atingido em Tavarede, muito em especial nesta última colectividade que, de forma brilhante e sob a sábia batuta de Mestre José Ribeiro, levaram o nome da nossa terra por esse Portugal fora, alcançando êxitos inesquecíveis, obrugou os directores do Grupo Musical, em 1924, a tomarem decisões importantíssimas para o futuro da progressiva colectividade.

As suas instalações, apesar de boas para o pequeno meio que era Tavarede, breve se tornaram insuficientes perante o desenvolvimento das multiplas actividades. E a abertura encontrada perante o proprietário da casa onde se encontravam sediados, o sócio benemérito e protector Manuel da Silva Jordão, para a venda do edifício em condições financeiras consideradas boas, especialmente pela facilidade do seu pagamento, levou a início das negociações.

Obtido o acordo com aquele proprietário, no dia 15 de Abril de 1924 reuniu a Assembleia Geral para aprovar o negócio e autorizar o financiamento necessário, pela emissão de acções do valor nominal de cinquenta escudos cada uma. Igualmente, e com a “missão de se ocuparem denodadamente nos bons serviços do Grupo”, foram eleitos os seguintes corpos gerentes:

Assembleia Geral
Presidente – António Medina Júnior
Vice-Presidente – António Marques Lontro
1º. Secretário – António de Oliveira Lopes
2º. Secretário – César de Figueiredo
Direcção
Presidente – João de Oliveira
Vice-Presidente – António Francisco da Silva
1º. Secretário – José Francisco da Silva
2º. Secretário – Armando Amorim
Tesoureiro – António Medina
Vogais – António Ribeiro Júnior, António Miguéis Fadigas, José Medina, José Maria Gomes de Apolónia e António da Costa Madrugada
Conselho Fiscal
Efectivos – José Maria Costa, António Victor Guerra e Francisco Silva Prôa
Substitutos – António Custódio, António Augusto de Figueiredo e José Fernandes Mota
Bibliotecário – Adriano Augusto Silva.


Registe-se o facto de que esta é a primeira acta da Assembleia Geral existente, enquanto que a primeira acta da Direcção tem a data de 20 de Março de 1924, sendo precisamente o primeiro registo existente o auto da tomada de posse dos corpos directivos acima referidos. Deste auto de posse consta o seguinte: “O saldo líquido transitado foi de 276$10 e foi procedido ao exame do inventário de todos os objectos que pertencem ao Grupo Musical e de Instrução Tavaredense e verificou-se que está conforme, sendo-lhes dada, seguidamente, a respectiva posse pelo presidente da Assembleia Geral cessante, sr. António Victor Guerra, comprometendo-se os novos corpos gerentes, sob sua palavra de honra, de bem e fielmente se desempenharem dos cargos para que foram eleitos e de que acabam de tomar posse”.

No dia 21 de Abril, a pedido da Direcção, reuniu a Assembleia Geral para discussão da seguinte proposta:



- abrir-se para a compra e adaptação do prédio para a nossa sede, um crédito de 25 000$00 (vinte e cinco mil escudos) em 500 acções de 50$00 cada:
- que essas acções fossem divididas por todos os sócios do Grupo, afim de evitar que pessoas estranhas ao Grupo fossem portadores delas;
- que cada sócio fosse obrigado a subscrever pelo menos duas acções;
- que dada a desvalorização da moeda fosse aberto um juro, que ficou assente ser de 5% para indemnizar de algum modo os dignos sócios portadores das mesmas, excluindo deste número os que subscreveram apenas as duas exigidas;
- que as acções fossem sorteadas todos os anos se a situação financeira do Grupo o permitisse, sendo este sorteio feito na nossa sede no dia do aniversário;
- que todos os sócios que comprarem já acções até duas o mínimo, sejam considerados sócios efectivos e donos da sede do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense e os restantes sócios que por qualquer circunstância não possam adquirir de momento acções fiquem considerados sócios auxiliares, mas com os mesmos direitos dos sócios efectivos no que diz respeito a assuntos da Sociedade;
- que todos os sócios efectivos portadores de acções em número superior a duas, sejam obrigados a cedê-las aos sócios auxiliares em qualquer ocasião que estes se encontrem habilitados a adquirir o mínimo delas (duas) pagando o juro correspondente 5% aos portadores que lh’as cederem, tendo de dar conhecimento deste facto à Direcção que o nomeará na sua primeira sessão sócios efectivos e donos do Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense;
- que a operação da cedência das acções principie pelo sócio que tiver maior número destas e em caso de empate proceder-se-há a sorteio;
- que a quota mensal passasse de ctos. $50 a ctos. $75, ficando este aumento a vigorar de Julho em deante assim como a respectiva joia de entrada que passou de Esc. 2$50 ctos. a Esc. 5$00;
- que para fêcho destas suas propostas fazia um apêlo a todos os dignos consócios que comprassem acções em qualquer quantidade isentassem as duas primeiras do juro estipulado o que ainda foi aprovado como obrigatório pois que representa uma economia para a nossa querida Associação.

Pelo presidente da Direcção foi ainda proposto, e foi aprovado, que: “fosse criada dentro da nossa sede uma Caixa Económica onde todo o sócio auxiliar depositasse obrigatoriamente todas as semanas Esc. 1$00 ou daí para cima, a seu arbítrio, afim de com mais facilidade poder adquirir as duas acções exigidas passando por isso mesmo a sócio efectivo e dono de Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense e que para retardatários a esta obrigação fossem dados quinze dias depois da primeira falta para satisfazerem este compromisso justificando o seu relaxe e caso não o fizessem ficam considerados ipso facto como não sócios, perdendo todos os direitos e haveres que na sede tenham, pois que mostraram claramente com este procedimento serem inimigos da nossa colectividade, que esta mesma Caixa funcionasse para os sócios efectivos notando que, para estes, era, porem, simplesmente, facultativa...”

Os documentos, depois de amplamente debatidos, foram aprovados, tendo no final o membro do Conselho Fiscal, António Victor Guerra, proposto que “fosse estabelecida uma penalidade para os sócios efectivos que porventura haja pouco escrupulosos, que de algum modo menosprezem os sócios auxiliares, indicando, com qualquer título, valerem mais por serem donos da sede”.

Obtida a indispensável aprovação da Assembleia Geral para a compra se efectuar, a Direcção mandatou alguns dos seus componentes para uma reunião com o proprietário da casa para assentar, em definitivo, o negócio. Transcrevo, na íntegra, o relatório desta diligência:

“A conferência teve lugar do dia 25 de Maio de 1924, tendo pelo sr. Vice-Presidente, António Francisco da Silva, sido abordado o assunto da sede, de alta importância para todos os associados, passando a expôr ao sr. Jordão o andamento e funcionamento do Grupo até à data em que a noda Direcção tomou posse, que era para lastimar, fazendo-o sciente dos projectos que se estudavam para a modificação completa da sala de espectáculos e outros melhoramentos que se pensava introduzir das varias dependencias do mesmo prédio, que dentro em breve serão um facto, para os quaes se trabalhava com afinco e boa vontade da parte de um limitado numero de sócios, afim de que os trabalhos a executar ficassem ultimados até ao dia do aniversário (17 de Agosto do corrente ano).
Pelo sr. Jordão foi ouvida com agrado a exposição daquele senhor, com a qual ficou deveras satisfeito, incitando-nos a que proseguissimos, com a mesma boa vonte, os melhoramentos e benefícios a que nos propuzemos, elogiando a nossa acção e informando-nos que havia concedido o prazo de 6 mezes para lhe ser entregue a quantia correspondente à venda do prédio (20 000$00), mas que, ficando bem ao facto do que se tencionava fazer, prorogava aquele prazo com egual período de tempo (mais 6 mezes), o que agradecemos, e que seria muito do seu gosto continuar a ficar sendo dono do citado prédio, como qualquer outro possuidor de acções, do que se depreendeu, pois, que nos dava a honra de ser inscrito o seu nome no nosso Registo de sócios, pedindo para que lhe fossem dispensadas 20 acções.
Em seguida, o mesmo sr. Vice-Presidente pediu ao sr. Jordão para nos indicar a ocasião em que podia ser feita a escritura da citada compra, respondendo aquele senhor, acto continuo, que se punha à nossa disposição desde aquele dia (25 de Maio) para satisfazer o desejo por nós manifestado, o que fazia com vontade, ainda mesmo sem que lhe fosse apresentada a quantia a que acima se faz referência (20 000$00), ou qualquer outra, pois que confiava, em absoluto, nos dirigentes do nosso Grupo (palavras estas que agradecemos reconhecidos), terminando o sr. Jordão por nos declarar peremptoriamente que podiamos considerar nosso o prédio, desde aquele dia, e que esperaria pela importância que se lhe ficasse a dever durante o período de 1, 2 ou 3 anos, emfim, até nós conseguirmos arranjál-o e, mais ainda, que não nos cobraria qualquer juro.
Depois das agradáveis e satisfatórias palavras do sr. Jordão, que novamente agradecemos efusivamente, ficou assente que se pensaria nas escrituras quando possuissemos alguns milhares de escudos, para naquela data lhe serem entregues à conta da importancia total.
Depois de mil e um agradecimentos que apresentámos ao sr. Jordão, retirámos entusiasmados e satisfeitissimos, e é possuidos ainda da mesma satisfação que por esta fórma vimos esclarecer aos nossos dignos colegas que não tiveram o prazer de assistir àquela conferencia, o assunto importante de que nos ocupámos e os pontos principaes que se trataram e discutiram, o que não podiamos deixar de fazer, atendendo a que todos os membros da direcção de qualquer colectividade devem ser conhecedores de todas as coisas, ainda as mais pequenas, que se passam das suas portas adentro”.

E no dia 6 de Novembro de 1924 novamente se reuniu a Assembleia Geral para deliberar sobre o mesmo assunto. Curiosamente há duas actas desta Assembleia. A primeira, e maior, foi considerada sem efeito com um traço diagonal e e a assinatura do 1º. secretário, António Oliveira Lopes.


Teria sido uma reunião extraordinariamente importante, tendo no final da acta inutilizada sido selada com selos fiscais no valor de 1$50, certamente para tirar cópia oficial para os fins descritos na acta, que, apesar de inutilizada, vamos transcrever nalguns pontos.
Conforme os avisos convocatórios, tratou-se de “compra d’um prédio para instalação da sede e forma de contrair um empréstimo para a sua aquisição”. Pela Direcção foi referido que, relativamente ao deliberado na Assembleia Geral de 21 de Abril de 1924, se verificou “a falta de brio e vontade de certos sócios, que teem olvidado, com o maior desrespeito às leis do Grupo e portanto dos seus corpos dirigentes, o preceituado na devida acta por êles aprovado. Com bastante desgosto diz que, em virtude da maior parte dos n/consócios até ao presente, não terem cumprido com êsses preceituados, isto é, a acquisição de acções e a subscrição para a n/Caixa Económica, dando origem, por conseguinte, a que a Direcção não tenha verba alguma em seu poder, visto as importancias recebidas terem sido empregues na obras a que meteu ombros e precisando esta entidade de fazer a escritura da compra do prédio em que estamos instalados provisoriamente, pedia à assembleia se dignasse aprovar fosse contraído um empréstimo de Esc. 20 000$00, sendo Esc. 10 000$00 por meio de letra aceite por três ou mais sócios da confiança do sacador, e que os outros Esc. 10 000$00 fossem emprestados pelo dono da casa, sr. Manuel da Silva Jordão, por meio de hipoteca do aludido prédio”. Depois de discutido este assunto, foi aprovado, tendo os sócios João de Oliveira, António Francisco da Silva e António Medina se oferecido para aceitantes da letra, frisando-se que ”o Grupo Musical e d’Instrução Tavaredense não tem, nesta operação, responsabilidade alguma, a não ser a do pagamento dos respectivos juros, que são de 20% ao ano.
O membro do Conselho Fiscal, sr. José Maria Costa, vendo o sacrifício a que aqueles consócios se iam expor, ofereceu-se, também e com bastante prazer, para os ajudar, fazendo parte do número dos aceitantes.
Na acta de substituição, e referindo a mesma ordem de trabalhos, diz-se: “este assunto foi largamente discutido, sendo afinal, aprovado, por unanimidade, que a Direcção, usando de todos os poderes concedidos pela Assembleia contraísse o empréstimo da quantia necessária para a compra do prédio e efectuasse a compra dêste pelo melhor dos nossos interesses”.
O presidente da Assembleia “dirige um apelo a todos os consócios incitando-os a que já não quere mais, exclama, senão que cumpram o que está regulamentado, porque isso é o suficiente para levantar bem alto o nome já glorioso do nosso querido Grupo e, portanto, o da nossa terra”.
Antes de terminar “o sr. presidente da Assembleia lavrando o seu mais veemente protesto ao qual se associaram todos os membros da Assembleia Geral, Direcção e Conselho Fiscal, assim como todos os demais sócios presentes , contra a blague infame que pessoas mal intencionadas levantaram procurando tornar tensas as boas relações de amisade que existem entre os n/consócios e os sócios da Sociedade d’Instrução Tavaredense, encerrou a sessão no meio do maior entusiasmo.

Fotos: 1 - Auto da tomada de posse dos corpos gerentes; 2 - João de Oliveira; 3 - José Francisco da Silva; 4 - António de Oliveira Lopes.

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