quarta-feira, 3 de março de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 18


Vão ser, talvez, um pouco “maçudos” estes dois ou três capítulos das nossas histórias. Mas, para vida da Sociedade, foi um período assaz importante, e, assim, não nos atrevemos a “passar em branco” alguns factos sucedidos em 1929, 1930 e 1931, embora o façamos o mais resumidamente possível.
Já transcrevemos alguma coisa sobre “A Cigarra e a Formiga”. Faltou-nos referir que os versos desta fantasia são da autoria do professor Alberto de Lacerda, que também colaborou com José Ribeiro na feitura do enredo. Nos dias 15 e 16 de Junho de 1929, o grupo cénico tavaredense foi à Figueira da Foz, ao Parque-Cine, apresentar as fantasias “A Cigarra e a Formiga” e “O Sonho do Cavador”.
Uns dias antes, o jornal “O Século” havia publicado uma extensa reportagem sobre a primeira destas fantasias. “Em Tavarede, a dois passos da Figueira da Foz, há uma sociedade de instrução, a Sociedade de Instrução Tavaredense, que dispõe dum pequeno teatro, uma autêntica “boite”, como agora se diz, onde costuma realizar espectáculos curiosíssimos, récitas em que representa uma “companhia” de amadores absolutamente excepcionais. Basta dizer que a constituem humildes trabalhadores do campo ou das oficinas, que trabalham de sol a sol e à noite aprendem, estudam, ensaiam com as dificuldades que se adivinham, sabendo-se que entre eles muitos há que nem sabem ler”. Refere-se, a seguir, à peça. “... é um trabalho de notável merecimento literário, bem construída, interessando do princípio ao fim e visando a produzir um efeito moral dos mais salutares, qual o duma lição clara que prende os que a recebem – todos os que assistem – e fica por certo nos espíritos de todos melhor que a mais profunda prédica”.



Descreve, depois, o enredo detalhadamente. E antes de fazer uma apreciação ao desempenho, escreve: “Se é certo que a peça é, a todos os títulos, um trabalho notabilíssimo, digno mesmo dum ambiente mais amplo que um simples teatrinho de aldeia, o que principalmente interessou foi a “companhia”. É que não conhecemos nada que se compare. Temos visto muita vez grupos de “furiosos”, mais ou menos desastrados, mais ou menos aproveitáveis, mas nunca víramos um conjunto tão curiosamente organizado e tão excepcional pela circunstância de ser recrutado entre gente do campo e de profissões humildes”.
Termina a extensa reportagem da seguinte forma: “Exemplos como os da Sociedade de Instrução Tavaredense devem ser seguidos por toda a parte, deviam mesmo ser auxiliadas pelo Estado estas simpáticas iniciativas, que roubam à ociosidade e à taberna um punhado de bons trabalhadores e servem para recolher proventos destinados ao cofre duma Escola. É possível que muitos leitores destas linhas tenham para o que fica dito o encolher de ombros desdenhoso, natural em quem não acredita sem ver. Pois é pena que Tavarede fique ainda assim tão longe. Vendo se convenceriam de quanto pode conseguir a boa vontade ao serviço duma ideia generosa e sob todos os aspectos simpática”. Cite-se que esta reportagem foi da autoria do crítico e escritor teatral, de Lisboa, dr. José Tocha.


Um outro crítico, este figueirense, escreveu também uma longa notícia de que só vamos transcrever uns breves apontamentos. “Tavarede..... possui uma cigarra cantadeira, uma formiga agenciadora e um cavador com sonhos de riqueza. Pois, da cigarra, da formiga e do cavador..... fizeram duas peças teatrais a que chamaram fantasias e fantasias são de sua imaginação de artistas, a que deram toda a graça de Tália, apresentando-as ao público no palco de um modesto teatrinho de aldeia. A Fama, que não veio à Terra só para dar notícia da crueldade dos Deuses, trouxe à Figueira o nome destas fantasias, e atrás do nome vieram as próprias fantasias ao palco do grande teatro do Parque, onde nos proporcionaram, em duas noites seguidas, fugídias horas daquele prazer íntimo que se chama deleite. A cigarra fez-me sentir a alegria de viver e o cavador deu-nos uma bela lição moral”.
A extensão destes comentários tem uma razão. No próximo capítulo se verá o motivo porque o fizemos.


Entretanto, também desta vez foram feitas fotografias, as quais, e em primeiro lugar, se apresentaram numa festa de homenagem, que a direcção da colectividade ofereceu a todo o grupo cénico. Uma notícia refere que “... a projecção no écran de mais de 200 fotografias das duas peças foi vista com grande satisfação, manifestando a assistência frequentes vezes a sua alegria”.

Fotos - 1 - António Graça; 2 - Ceifeira (1928); 3 - Junta de bois lavrando a terra

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