quinta-feira, 8 de abril de 2010

Manuel Cardoso Marta



Um figueirense ilustre que para sempre ficará ligado a Tavarede. Nasceu em 5 de Abril de 1882 e morreu a 17 de Setembro de 1958.
Fez os seus estudos no Seminário de Coimbra, que frequentou no período de 1894 a 1903, e chegou a tomar ordens menores, mas acabou por não seguir a vida eclesiástica.
Exerceu o professorado livre na Figueira. Foi um dos fundadores do semanário “A Razão”, em 1904, do Centro Republicano Dr. José Falcão, da Biblioteca Pública Municipal, do Grupo “Studium”, da Sociedade Arqueológica e do Colégio Liceu Figueirense.
Deu larga colaboração a diversos jornais figueirenses e deixou publicados, relativamente à Figueira: “Folclore da Figueira da Foz”, de colaboração com Augusto Pinto; “J. M. Santiago Prezado”; “Jornalismo Figueirense”; “Um museu etnográfico na Figueira”; e “In-memorian de Aníbal Fernandes Tomás”, com Elói do Amaral.
Investigador estudioso da história local, foi ele quem descobriu, num manuscrito setecentista, o soneto “Descrição do sítio de Tavarede”, da autoria de Frei Manuel de Santa Clara, e que publicou no Boletim da Comissão Municipal do Turismo, em Julho de 1947.
“Rejubile a fidalga Tavarede com a notícia desta peça literária, e tome-a como uma jóia mais a engastar na sua coroa condal”, escreveu ele depois de transcrever o soneto.
Poeta de inspirada sensibilidade, são de sua autoria as quadras que se encontram na nossa fonte, nos bonitos azulejos desenhados por Rogério Reynaud, ali fixados em 1946:


Cardoso Marta era um grande amigo da nossa terra e aqui firmara grandes relações de amizade. Mesmo quando se mudou para Lisboa, em 1909, nunca esqueceu a terra do limonete.
“Entre os mimos que este abençoado torrão de Tavarede produz e manda ao mercado da Figueira, há que especializar um vinhinho palhete, a quem os apreciadores rendem as suas homenagens. Cardoso Marta, figueirense ilustrado que vive na capital há já longos anos, é um velho amigo e frequentador da terra do limonete e conhecedor do seu precioso néctar.
Sabendo isso, um seu amigo tavaredense, presenteou-o há tempos com um pipozito desse palhete, que o inspirou para o seguinte soneto, a que deu o título de “A um certo vinho de Tavarede”:

Encho o meu copo, à luz do claro dia
De um néctar precioso – o vinho amigo,
Puro, sem confecções, como o bebia
O bíblico Noé, no tempo antigo.

Depois, em contra luz, me delicia
Sua cor de rubi; e enquanto sigo
Na toalha o reflexo, a fantasia
Me diz mais que diria quanto eu digo…

Das cepas do torrão de Tavarede,
Ó vinho, sê benvindo à minha sede,
Tu, que de muitos és exemplo e espelho.

Gole a gole, dou co’a língua um estalinho
E razão a quem disse que o bom vinho
Traz alegria ao moço e sangue ao velho.

Mantinha permanente contacto com o grupo de tavaredenses e figueirenses residentes na zona da capital e que, frequentemente, confraternizavam. Um dia leu num jornal a notícia de que o seu amigo Medina Júnior ia fazer uma patuscada em Sintra, tendo por menu umas caras e línguas de bacalhau, que um figueirense amigo lhe enviara. Não perdeu tempo. No jornal seguinte, lá vem ele a dar-se por convidado, terminando desta forma:

Dou-me já por convidado
Para pagares o patau
Das cabeças, das entrechas
E línguas de bacalhau.

Diz-me pois, de qualquer forma,
Por bilhete, ou no jornal,
Com que é que devo contar
P’ra meu governo, afinal.

O estrago não será grande;
Pouca papa já me farta.
Saudades aos teus. Um abraço
Do amigo Cardoso Marta.
Caderno: Tavaredenses com história

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