segunda-feira, 31 de maio de 2010

Manuel Fernandes Tomás

Era figueirense e não tavaredense. No entanto, resolvi hoje dedicar um pouco do meu espaço à memória de tão ilustre e saudoso cidadão. Foi político destacado. Graças a Manuel Fernandes Tomás a Pátria Portuguesa renasceu.

Eu não sou político, nem percebo nada de política. É certo que tive uma pequena experiência autárquica em 1975 mas não me deixou saudades nenhumas, nem vontade de continuar. Leio, porém, os jornais e vejo, diariamente, as notícias televisivas.

Como acontecerá a tantos, fico constrangido a ler e ouvir, em tempo de tão apregoada austeridade, a informação de faraónicas despesas e enormes mordomias de tantos, em contraste com o apregoado. Talvez por isso me tenha lembrado de Manuel Fernandes Tomás e de um quadro que Mestre José Ribeiro escreveu e fez representar na fantasia "Ecos da Terra do Limonete", no ano de 1981. Transcrevo essa cena.



Entrevistador - ... A carta que nos mandou mostra-nos que tem um tema para a palestra que nos vai oferecer: Manuel Fernandes Tomás.

João José - Exactamente.

Entrevistador - Um tema aliciante, rico de sugestões, escolhido muito a propósito e com louvável bairrismo, pois Manuel Fernandes Tomás é uma glória da Figueira da Foz, onde nasceu.
João José - Não apenas da Figueira da Foz, mas uma autêntica glória nacional.

Entrevistador - Muito de louvar o culto dedicado à memória do grande figueirense.

João José - É que todos aqui o conhecemos bem, desde que o vimos e ouvimos em Tavarede.

Entrevistador - Como?! Manuel Fernandes Tomás morreu há mais de um século!...
João José - Sabemos. A 19 de Novembro de 1822. Vimo-lo e ouvimo-lo em Tavarede graças a um desses milagres que o Teatro pode realizar. Ouvimo-lo, a 24 de Agosto de 1820, a ler da varanda do Paço do Governo no Porto, o "Manifesto aos Portugueses"; vimo-lo nas sessões das Constituintes, a proclamar e a defender a soberania nacional residindo no Povo, a defender a liberdade de imprensa e a combater a censura prévia. Fernandes Tomás foi o pulso forte do Sinédrio preparando a revolução, foi a inteligência esclarecida e a alma forte nas Constituintes.

Entrevistador - Muito justamente foi considerado Patriarca da Liberdade e libertador da Pátria.

João José - Esse homem, de vigorosa inteligência e rara envergadura como jurista, ocupou na vida do país os mais altos lugares. Pela sua mão passaram os mais importantes e variados negócios, e podia servir-se da sua preponderância para enriquecer. E morreu pobre. Na sua doença não havia em casa com que comprar uma galinha para fazer um caldo. Isto não é figura de retórica, é literalmente a verdade. Abriu-se uma subscrição pública para o sustento da viúva e dos filhos. Dêeem-me licença para ler esta nota que extratei dum resumo das actividades de Fernandes Tomás no primeiro período parlamentar das Constituintes. (lendo) "Março 13 - Declarou que se recusava a receber o ordenado que o Congresso acabava de arbitrar como membro do Governo Provisório, alegando que fizera esse serviço apenas a bem da Pátria". (pausa) Este foi Manuel Fernandes Tomás, o glorioso figueirense, o eminente jurisconsulto, a mais alta figura das Constituintes, o político austero, o Homem incorruptível, o grande Português - e morreu pobre.

Entrevistador - E certamente o Governo de então não fez aprovar uma lei mantendo aos deputados os seus ordenados mesmo para além do encerramento das Cortes.
João José - Muito oportuna e expressiva a observação de V.Exa. Manuel Fernandes Tomás, que recusara o ordenado como membro do Governo Provisório, recusaria com a mesma dignidade qualquer remuneração que lhe fosse atribuída por uma actividade que não exercia. Não nos esqueçamos: - este notável político morreu pobre. (levanta-se)

Entrevistador - Bem haja por ter vindo. Glória a Fernandes Tomás. (fecha a cortina)

E, assim, acaba o quadro. Em sua casa nem sequer havia com que comprar uma galinha para lhe fazer um caldo!!! E morreu pobre!!!
E quem choramos nós,
Quem lamentam os portugueses... (Alexandre Herculano)

2 comentários:

  1. Amigo Vítor,
    tenho uma correcção a fazer-lhe: "E quem choramos nós,/Quem lamentam os portugueses..." é de Garrett, não de Herculano.
    Também na peça "Mesa Redonda", José Ribeiro dedicou uma peça a este ilustre Figueirense.

    Cumprimentos,
    Inês

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  2. Amiga Inês

    Falhei, uma vez mais. Não tive o cuidado de ir confirmar e daí o erro.
    Muito agradeço todas as correcções que me sejam feitas.
    Obrigado e cumprimentos
    Vitor Medina

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