segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Palácio do Conde de Tavarede

Curiosidades historicas

Escasseou-nos para tal forma o espaço, no ultimo numero da Gazeta da Figueira, que não podemos sequer notar um leve equivoco em que se embaraçou o distincto autor do artigo “À Beira-Mar”, que publicámos. Fallando da ellegante construcção que se entrevê ao aproximarmo-nos de Tavarede, diz o sr. visconde de Benalcanfôr que é propriedade do visconde de Trancoso.
Não; é propriedade do conde de Tavarede, que começou a edifical-o há annos sobre os alicerces de uma antiga torre, ou vigia, alli existente, e nas fundações da qual se encontraram ainda uns estreitos carceres com argolões que se desfizeram ao tocar-lhes, como se fôra madeira pôdre - resistindo, aliaz, muito bem á oxydação o chumbo que os fixava á pedra, e que se achou perfeitamente conservado.
O equivoco proveiu, naturalmente, de possuir a casa de Tavarede largas propriedades em Trancoso, as quaes constituiam um morgado, que por casamento se uniu áquella casa em vida do primeiro barão e primeiro conde de Tavarede. Nada tem de commum com os Tavaredes o actual visconde de Trancoso, que ha annos contrahiu matrimonio com uma dama, aparentada com a familia reinante de Hespanha.
O presente conde de Tavarede, o sr. João Carlos Emilio Vicente Francisco de Almada Quadros de Sousa Lencastre Fonseca Saldanha e Albuquerque, é neto do 1º. barão e 1º. conde de Tavarede, e de D. Maria Emilia da Fonseca Pinto de Albuquerque, filha e herdeira do Superintendente das coudelarias da comarca de Trancoso, d’onde elle era natural, e d’onde provém á casa de Tavarede as propriedades de Trancoso.
O 1º. barão e 1º. conde de Tavarede, Padroeiro do Convento de Santo António, da Figueira, era filho do grande D. Francisco de Almada e Mendonça, corregedor perpetuo da comarca do Porto, a quem tanto deve aquella cidade, e que casou com D. Antónia Magdalena de Quadros e Sousa, herdeira da antiga casa de Tavarede, de que foi 10º. senhora.
Com a mãe do actual conde de Tavarede, a srª. D. Eugenia de Saldanha, deu-se a notavel coincidência de nascer a 25 d’um mez, casar a 25, viuvar a 25 e fallecer a 25.
Em quasi todos os documentos remotos da casa de Tavarede figuram os appellidos de Quadros, que parece ter sido a familia mais antiga na ascendencia. Tem a data de 1 de Agosto de 1541 o Brazão das Armas das Familias dos Quadros e Barretos, passado a Antonio Fernandes de Quadros, Adail de Azamor, e Comendador da Ordem de Christo, descendente das ditas familias
Uma das mais antigas e principaes regalias dos senhores de Tavarede era a de receberem um imposto de cada fôrno de cozer pão, não podendo ninguem construir algum nos coutos de Tavarede sem licença dos seus senhores. N’um testamento de 1540 e n’outro de 1551 instituiram antepassados da familia Quadros um vinculo de Morgado, em que, além d’outros bens, se incluiam os “Fornos de Tavarede”. N’uma sentença de 1592 são os moradores das Lamas condemnados, a requerimento de Pedro Lopes de Quadros, a não poderem ter Fornos de coser Pão fora dos fornos do dito senhor, ou Poya, ou sem éla, com a pena de dez cruzados obrando o contrario.
Em 1711 justificava Pedro Lopes de Quadros, perante o juiz ordinario do Couto de Tavarede, que elle e seus antepassados, havia mais de 300 annos se conservavam na pose de não haver no dito Couto outros Fornos de cozer Pão senão os seus, e que os ditos Fornos estavam vinculados no Morgado da sua Casa de Tavarede.
Em 1751 concedera licença para poder fazer um forno n’uma casa, com a obrigação de pagar 800 reis cada anno.
Em 1787 é, por escritura, concedida licença a hum morador da Figueira para poder fazer hum Forno de cozer Pão broa nas suas casas com a obrigação de pagar de Foro duas Gallinhas, e na falta de cada hua dellas duzentos e quarenta reis por cada hua á escolha do Foreiro.
A esta casa pertenceu em tempo a Insoa que antigamente se chamava a Voiroa, e agora se chama a Morraceira (documento de 1537), a qual foi adquirida para a casa por transacção com o Infante D. Henrique, Arcebispo de Braga, Commendador e Administrador do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, ao qual fôra doada, em Março de 1116, por D. Afonso Henriques.

(In "Gazeta da Figueira - 23 de Outubro de 1887")

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