sábado, 24 de julho de 2010

Em louvor de Tavarede


Quem seria o Fr. Manuel de Santa Clara que subscreve o soneto adiante transcrito?
Pertenceria ao convento figueirense de Santo António? Ou algum religioso de outro mosteiro, estranho à terra, que por aqui passasse a recrear-se ou aqui viesse em uso de banhos (talvez até hóspede do convento) e nalguma digressão à risonha Tavarede ali se deixasse prender nos encantos da sua paisagem?
Ignoro-o. Poucas, que se nenhumas, infelizmente, são as notívias àcerca dos nossos franciscanos, uma vez sumido, creio que para todo o sempre, o arquivo da casa conventual.
Seja como for, é curioso o soneto desse frade, descritivo da “terra do Limonete”. Nele encontramos referências ao vale e outeiros circunvizinhos; ao regatito humilde que atravessa a povoação e que há perto de 170 anos (o soneto é datado de 1779) era, como se vê, ribeiro, portador, por certo, de mais água e menos lixo; ao palácio quinhentista dos Quadros, hoje mìseramente degradado com vergonhosas mutilações e reparações imbecis; e, finalmente, à abastança de frutos e verduras, do seu fecundo vale, por onde o frade-poeta o avantaja nada menos que ao de Tempe, aos pés do Olimpo, na Grécia de Píndaro e de Anacreonte.

Do manuscrito setecentista donde transcrevi o soneto constam duas versões, se assim apreciarmos umas alterações de pouca monta lançadas à margem dele: no 1º. verso, colinas cheias, em vez de outeiros vestidos; no penúltimo, assim ganhando em vez de assim levando. Escolhi a primeira, quando há anos tive nas mãos o manuscrito; a outra, agora, se me afigura preferível. Vejamos:

Descripção do sítio de Tavarede

Entre outeiros vestidos de verdura,
Um vale gracioso à vista ocorre
Onde um claro ribeiro em giros corre,
Banhando-o de eternal, grata frescura;

Quanto nele se avista, obrou Natura;
Só um nobre Palácio ali concorre
A mostrar que, subtil, o engenho acorre
À simétrica mão da Arquitectura.

Junto às casas e muros bracejando,
Verdes parreiras vão, entre a folhagem,
Seu roxo ou loiro fruto entremostrando.

E a Ceres e a Pomona vassalagem
Rende este vale ameno, assim levando
Ao de Tempe famoso alta vantagem!

1779 De Frei Manuel de Santa Clara

Rejubile a fidalga Tavarede com a notícia deste peça literária, e tome-a como uma jóia mais a engastar na sua coroa condal.

Cardoso Marta

(Boletim C.M.Turismo - 31.Julho.1947 - nº. 18)

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