terça-feira, 13 de julho de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 35

As negociações para a compra do edifício da sede resultaram frutíferas. E em nova assembleia geral extraordinária, no dia 24 de Julho de 1940, foi prestada a informação das conversações havidas com o sr. Arménio Santos. “Este esclareceu que de modo algum pensara em impor o despedimento à Sociedade de Instrução Tavaredense; que, reconhecendo as dificuldades desta, reduziria a renda para cem escudos mensais; e, tomando em conta as obras feitas pela
Sociedade, a que atribui o valor de doze mil escudos, e dando ao quintal o valor de oito mil escudos, se a Sociedade preferir adquirir o edifício, vendê-lo-ia por trinta mil escudos. Por fim, e mostrando a melhor vontade e acentuando que a Sociedade adoptaria a solução que preferisse, o sr. Arménio Santos acedeu a vender a casa por vinte e quatro mil escudos”.



Depois de discutido o assunto, e porque a colectividade tinha, naquela ocasião, os recursos necessários, foi deliberado aceitar a proposta para a compra do prédio por vinte e quatro mil escudos. Igualmente a assembleia foi informada que, caso a Sociedade viesse a ter a necessidade de adquirir algum terreno anexo para futuras obras, o sr. Arménio Santos, em caso de resolver vender esse terreno, daria a preferência à Sociedade para a sua compra total ou parcial.
O grupo dramático prosseguia, normalmente, a sua actividade. Registamos a nota de que, ao espectáculo realizado no Casino Peninsular, no dia 27 de Março de 1940, que reverteu em benefício do Hospital da Misericórdia da Figueira, com a peça “Entre Giestas”, assistiu o seu autor, Carlos Selvagem, que “exprimiu a sua admiração pelo admirável conjunto que observou na interpretação da sua peça”. Este dramaturgo havia já prescindido dos seus direitos de autor, para esta peça, em benefício da nossa colectividade.
Entre Giestas
Mais uma vez o grupo se deslocou a Tomar, em espectáculos cuja receita se destinou à Casa dos Pobres. Representaram-se as peças “Entre Giestas” e “O Grande Industrial”. Das representações destas peças “que a interpretação dos seus comediantes conseguiu arrancar à gélida plateia tomarense o quente aplauso duma verdadeira apoteose”, um jornal local termina os seus comentários desta forma: “Nesta despretenciosa resenha dum acontecimento semanal, não podemos deixar de destacar “Clara”, no “Entre Giestas”, encarnação viva do “Angelus” de Millt, ou de aplaudir “Consuelo”, na descrição primorosa do “repique” como dois extremos histriónicos de invulgar relevo. Todavia, se muito admirámos Violinda Medina, João Cascão, os Irmãos Broeiro e outros, mais admirámos ainda o milagre de Tavarede, pela fraternidade que une aquele grupo, que há tantos anos vêm dando uma lição de optimismo e de arte, fazendo do Belo o Bem, ao qual Tomar, os pobres de Tomar, já há muito são devedores”.
Durante o ano de 1941, a colectividade perdeu dedicados sócios. O director do grupo cénico, Mestre José Ribeiro, na sua qualidade de presidente da assembleia geral, na reunião da aprovação das contas daquele exercício, “disse que tinha um triste dever a cumprir: o de evocar ali a memória de três queridos e ilustres consócios que a morte nos roubara: João Gaspar de Lemos Amorim, o escritor e poeta distintíssimo, que durante muitos anos, desde o seu regresso de África até, pode dizer-se, à sua morte, deu à nossa colectividade o concurso da sua brilhante inteligência, tendo o nosso grupo cénico representado algumas peças da sua autoria; Dr. José Gomes Cruz, médico distinto, grande cidadão e fervoroso apóstolo da instrução e da educação popular, cuja acção neste capítulo foi notável no concelho da Figueira da Foz, estando o seu nome ligado à vida da Sociedade de Instrução Tavaredense; e Manuel Jorge Cruz, outro tavaredense que muito honrou a nossa terra e cuja vida foi um exemplo admirável de nobreza e de bondade, tendo prestado à vida associativa de Tavarede serviços inesquecíveis”. Propôs, então, que na acta ficasse exarado um voto de profundo pesar pela morte daqueles queridos consócios e se guardasse um minuto de silêncio em homenagem à sua memória, o que foi aprovado por unanimidade e aclamação.




Como simples registo, anotamos que, pelo Natal e Ano Novo, nos anos de 1940 e 1941, o Grupo Musical e de Instrução Tavaredense quis fazer reviver, pelo seu grupo cénico há muitos anos extinto, uma velha tradição. Para tal solicitou à Sociedade de Instrução a cedência da sua sala de espectáculos para a representação, naquelas datas, do célebre 'Presépio', no que foi atendido, tendo esta colectividade colocado à sua disposição todo o material necessário, desde cenários ao guarda-roupa, tudo gratuitamente. Nestes espectáculos a maior parte dos intérpretes eram componentes do grupo cénico da Sociedade de Instrução, para onde haviam transitado, após a extinção do grupo cénico do Grupo Musical em 1931.
Tinhamos, então, seis anos. Mas recorda-nos perfeitamente que, no quadro 'A Passarola', o intérprete do 'Pastor', o nosso saudoso Pai, Pedro Medina, nos levava às cavalitas, enquanto subia a serra amparado ao seu bordão...

Fotos: a antiga sede da SIT e o 'Presépio' (antigo) pelo Grupo Musical

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