sexta-feira, 20 de agosto de 2010

José Joaquim Alves Fernandes Águas

Nasceu em Tavarede no dia 21 de Janeiro de 1841 e morreu na Figueira (Praia de Buarcos) em 12 de Janeiro de 1919.
Segundo filho de Joaquim Alves Fernandes Águas e de Ana Ribeiro, enveredou, tal como seu irmão mais velho, José Alves Fernandes Águas, pela marinha mercante, onde conseguiu uma carreira brilhante, durante muitos anos.

Contramestre piloto (imediato) no brigue “Zarco”, passou ao comando do veleiro “Olinda”, matriculado na Capitania de Lisboa para viagem a Moçambique, em Novembro de 1872. Aquela matrícula refere como comandante o capitão José Joaquim Alves Fernandes. Só mais tarde é que nos seus registos aparece o apelido Águas.

Como oficial da marinha mercante, comandou diversos navios e conhecia, na perfeição, a costa oriental da África Portuguesa (Moçambique), tendo convivido de muito perto com oficiais graduados da Marinha de Guerra Portuguesa, que não desdenhavam dos seus conselhos.

Por ocasião do seu falecimento, a imprensa figueirense publicou a seguinte notícia:
“Domingo de manhã fomos dolorosamente surpreendidos pela notícia da morte, brusca, deste nosso bom amigo, sogro dos srs. drs. Manuel e José Gomes Cruz.

Com 79 anos, o velho Capitão Águas, designação por que era mais conhecido, por na sua mocidade ter comandado vários navios da marinha mercante, ainda no sábado à noite recolhera ao leito cheio de saúde e de bonomia, nada fazendo prever o triste desenlace que na manhã seguinte, abruptamente, havia de ferir sua extremosa família e os seus muitos amigos.

Era, da numerosa família Águas, o único ancião sobrevivente, a todos infundindo respeito o seu porte austero e as suas tradições de marinheiro destemido.

O sr. Capitão Águas deixou a vida marítima há perto de quarenta anos e durante o tempo em que a exerceu cometeu feitos de audácia de que, pela sua proverbial modéstia, nunca quis tirar relevo. Ele conhecia, no seu tempo, como ninguém, a costa da nossa Africa Oriental, e alguns dos oficiais mais graduados da nossa marinha de guerra, como, por exemplo, Augusto de Castilho, conviveram de perto com o nosso malogrado amigo, apreciando com grande consideração as suas valorosas qualidades de homem do mar.

Possuidor de alguns meios de fortuna, o sr. José Joaquim Águas constituiu o seu lar na Praia de Buarcos, ali, e, nos últimos anos, na sua Quinta da Esperança, à estrada de Tavarede, passando a sua existência, jamais deixando de exercer a sua actividade.

Ultimamente, há perto de dois anos, o sr. Artur de Oliveira, gerente da Sociedade Portuguesa de Navegação, convidou o sr. Capitão Águas para auxiliar os importantes serviços desta e, aceitando o convite, como que remoçando, o saudoso extinto soube, com zelo inexcedível, interessar-se pelas propriedades da sociedade, afirmando sempre os seus excelentes conhecimentos técnicos e fazendo ouvir os seus conselhos cheios de prudência.

Além de trabalhador, José Joaquim Alves Fernandes Águas possuía um espírito profundamente liberal, nunca recusando o seu apoio às instituições propagadoras da instrução.

Caderno: Tavaredenses com História



Foi membro dos mais graduados da Maçonaria, e, como tal, justamente considerado no Grémio Fernandes Tomás, desta cidade. Interessaram-no sempre os progressos do Partido Republicano, e por vezes, em tempo da propaganda e da organização partidária, fez parte da Comissão Municipal Republicana deste concelho, de comissões paroquiais, etc.
Da consideração de que gozava o nosso saudoso amigo foi testemunho a piedosa e imponente manifestação ontem dedicada ao seu cadáver, no acompanhamento que o levou da Figueira ao cemitério de Buarcos, onde, por vontade do finado, foi sepultado na terra, para, posteriormente, serem os seus ossos trasladados para o seu jazigo ali existente.
Nessa manifestação viam-se centenas de pessoas de todas as classes sociais, sobressaindo todo o pessoal da Sociedade de Navegação, cuja bandeira cobria o féretro, sendo também a chave deste, por solicitação do sr. dr. Manuel Gomes Cruz, conduzida pelo director - gerente da sociedade, sr. Artur de Oliveira
A família deste nosso amigo e a Sociedade de Navegação ofereceram ainda duas formosas coroas de flores, sendo outra conduzida pelo menino José Cruz, dedicada por ele, sua irmã e primos, todos netos do malogrado morto e que eram agora o seu maior enlevo”.

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