sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 43



A iniciativa de levar teatro às aldeias e lugares do nosso concelho, e não só, foi bem sucedida. Nas Alhadas, o espectáculo, que teve lugar na Boa União, reverteu a favor do Jardim-Escola. A assistência, diz-nos o correspondente local, “vibrando de entusiasmo, aclamou os distintos actores, fazendo chamada especial a José Ribeiro, o impulsionador do Teatro no nosso concelho que, com certa comoção, agradeceu”. E conclue: “Que beleza de Teatro! Que belo desempenho! Que magnífica lição! Que apresentação tão distinta! Que naturalidade! Muito bem. Assim é que se faz Teatro!”.


Três Gerações - (Maria Aurélia Ribeiro, Violinda Medina e Silva e Maria Teresa Oliveira)

Depois do “Horizonte”, o grupo tavaredense deslocou-se a Leiria para apresentar “Raça”, “Frei Luís de Sousa” e “Pé de Vento”. Foram felizes em todas as deslocações. E se a “Raça” agradou inteiramente, como nos diz esta notícia: “Nunca tinhamos tido ocasião de apreciar este conjunto dramático, e à curiosidade natural dos que apreciam Teatro, juntava-se a de ver “como se portaria” um grupo de amadores, numa peça já nossa conhecida através do palco de maior responsabilidade do país, o do Teatro Nacional D. Maria II. Confessamos gostosamente que excedeu toda a nossa espectativa! A maneira como se apresentou, o à-vontade de todos estes actores-amadores, fazem-nos esquecer esse “amadorismo” tão vulgar, e até desculpável, em realizações desta natureza”, o agrado da récita com “Frei Luís de Sousa” não foi menor.

No jornal “República”, o dr. Vasco da Gama Fernandes, figura bem conhecida dos tavaredenses, depois de ter assistido à representação daquela peça, escreveu uma extensa reportagem sobre o teatro amador, referindo-se, muito especialmente, ao Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra e ao grupo cénico de Tavarede, e da qual recortamos: “... a arte excepcional do grupo de Tavarede, cujo “Frei Luís de Sousa” recentemente representado em Leiria, demonstra a que altura pode chegar a massa anónima do povo quando iluminada pelo talento e pela humana cultura dum José Ribeiro. ... Haverá melhor expressão de riqueza popular do que esses artistas proletários, debruçados, dia a dia, nos trabalhos duros da profissão e entregues nos longos serões à “compreensão” dos seus papéis, sem cultura, alguns analfabetos e outros sabendo ler mas ilaqueados pelas dificuldades intelectuais duma rápida assimilação? ... Mesmo que tenham à sua frente um homem invulgar como José Ribeiro, seu mestre e companheiro, como desconhecer o esforço hercúleo dessa massa erguendo-se à contemplação da beleza e sabendo-a transmitir de forma a causar inveja a alguns filiados no Sindicato profissional? ... Só quem, como nós, assistiu à representação do Frei Luís de Sousa pode avaliar da emoção, da verdade e da sinceridade, que estes proletários-artistas põem ao serviço de uma arte, que eles tanto sentem nos recessos das suas almas de eleição, embora tocados por uma simplicidade comovedora e aliciante”.

Também, e durante alguns anos, fizemos parte deste grupo. Praticamente como simples figurante. Contudo, ao lermos estas e tantas outras notícias sobre o grupo de que, como tavaredense que somos, tanto nos orgulhamos, pela elevação e divulgação que sempre fez da Cultura e do Bem, por tanta localidade do nosso País, temos, forçosamente, de sentir comoção. É por isso que, numa ou noutra destas historietas, nos temos excedido em transcrições. Mas, e agora que estamos a atingir o final dos primeiros cinquenta anos, dois terços desta nossa caminhada, entendemos que era da mais elementar justiça recordar, aos actuais, o passado glorioso da nossa colectividade. Muito em especial desta primeira parte da sua vida.

No final da representação de 'Horizonte', em Leiria

A terceira e última parte, pelo menos por agora, vai das “Bodas de Ouro” às “Bodas de Diamante”, e será muito mais resumida. O passado mais recente ainda não estará esquecido. Daremos nota dos acontecimentos mais marcantes, que servirão, pelo menos, de indicação a algum futuro interessado em aprofundar os seus conhecimentos sobre a Sociedade de Instrução e sobre Tavarede, de cuja história, indubitavelmente, esta colectividade faz parte em muitas páginas brilhantes.


Ainda foi apresentada uma outra peça, de grande categoria, antes das comemorações dos 50 anos. “Serão Homens Amanhã”, uma peça de que o crítico teatral do Diário de Lisboa escreveu: “Teatro muito agradável. Esta exposição modelar de factos e cenas, mantém-se do princípio ao fim, ainda quando a história nos dá alguns truques e imprevistos, ou mesmo inverosimilhanças. Deve repetir-se que o assunto é tão habilmente explorado que desejamos, à medida que os factos se vão desenvolvendo, que se dê, na verdade, aquilo que acontece, o que só por si é uma indicação clara e valiosa da forma como se acha tratado”.


Ainda pretendeu o grupo cénico representar outra peça, da autoria de Ramada Curto. Não lhe foi permitido pela censura. E, então, escreveu-se ao autor: “Foi desejo do grupo cénico da SIT representar o drama “Justiça”, de que V.Exª é autor. ... recebeu-se comunicação de que esta peça “estava proibida”! A “Justiça” não pode ser vista – nem por maiores de 18 anos! Parece que a peça é verdadeira... Sem afrontar o inatacável critério oficial – a que se deve obediência indiscutível – cumprimentamos o Autor daquela e de outras obras que situam Ramada Curto entre os primeiros dramaturgos nacionais contemporâneos, posição que, se em Portugal não lhe dá honra nem proveito, é título verdadeiramente honroso em nações civilizadas”

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