sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 44


As Bodas de Ouro da colectividade, comemoradas durante o mês de Janeiro de 1954, alcançaram elevado nível. Relembremos um pouco dos comentários da direcção. “... com as visitas do “Orfeão de Leiria” e do “Grupo Miguel Leitão”, da mesma cidade; do “Grupo dos Estudantes da Universidade de Coimbra”; com os espectáculos “Revivendo o Passado”, nos quais colaboraram antigos elementos do nosso grupo cénico; as sessões solenes de abertura e encerramento, foram os factos mais salientes desta gerência que, se outros não houvessem, bastariam por si só para impor o nome prestigioso da SIT, pela forma brilhante como comemorou os 50 anos da sua prestimosa, cultural e beneficente existência”.

Na “Voz da Figueira” de 1 de Janeiro de 1954, vem publicada uma longa entrevista com o director do grupo cénico, que descreve, de forma admirável, a acção da nossa associação. É uma peça que merece ser lida. Leva-nos aos primeiros tempos do teatro em Tavarede e analisa, até com alguma amargura, a forma como então se fazia teatro. “... Partimos do princípio de que o teatro de amadores, praticado com devoção quase heróica pelas sociedades de educação e recreio espalhadas pelas vilas e aldeias de Portugal, constitui valioso elemento de cultura e recreio do povo, que interessa à nação manter em actividade. É assim que o Estado o encara? É seu dever, nesse caso, facultar-lhe e facilitar-lhe meios de vida. Presentemente as coisas passam-se como se os espectáculos de amadores fossem apenas... matéria colectável: cobram-se licenças, censuras das peças, vistos dos programas, imposto sobre espectáculos públicos (!) e contribuições para a Caixa Sindical de Previdência de Profissionais do Teatro (!!). Uma carga asfixiante! Não está certo. Se o Estado não presta outro auxílio, que ao menos não queira fazer dinheiro da actividade desinteressada do teatro de amadores”.


Evocação - O Sonho do Cavador - As duas Comadres (Maria José Figueiredo e Guilhermina de Oliveira)
Também José Ribeiro proferiu mais uma das suas palestras, que intitulou “A acção da Sociedade de Instrução Tavaredense como instituição de cultura e educação popular”, a qual foi muito apreciada por todos quantos a ouviram.

O primeiro acto cultural das comemorações, teve a participação do Orfeão de Leiria, “que entusiasmou a assistência, mantendo-se suspensa com a interpretação de alguns números do seu vastíssimo repertório”; do Grupo de Teatro Miguel Leitão, com a representação da peça de Anton Tchekov “O Urso”; e um acto de variedades musicais, “que deliciaram a assistência, tendo o público forçado, com os seus aplausos, a bisar alguns números”.

E no dia 30 de Janeiro, realizou-se uma “Noite Vicentina”, na qual o Grupo de Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra, sob a direcção do Prof. Dr. Paulo Quintela, apresentou os “Auto da Barca do Inferno”, “Auto da Barca do Purgatório”, “Todo o Mundo e Ninguém” e “Súplica de Cananeia”. A sua actuação “foi calorosamente aplaudida pela assistência que enchia por completo, não só as cadeiras, mas também os corredores da sala de teatro”.

O grupo cénico tavaredense apresentou um curioso programa. No primeiro acto levaram à cena a comédia “Os Medrosos”, que tinha sido a primeira peça representada depois da fundação da colectividade, em Dezembro de 1904, e a segunda parte constou da peça “Evocação”. “Tivemos o ensejo e o prazer de ver representar, com um à-vontade de causar inveja a muitos novos, antigos amadores, desempenhando papéis que criaram, alguns há mais de 40 anos. Foi com verdadeira emoção e ternura que o público viu aparecer no palco as figuras remoçadas de Helena Figueiredo, Idalina Fernandes, Emília Fadigas, Maria José Figueiredo, António Coelho, António Graça, Francisco Carvalho e outros, a quem dispensou calorosas salvas de palmas, à medida que iam entrando em cena. Nos finais de acto, caíam sobre o tablado verdadeiras chuvas de flores, lançadas por algumas senhoras da assistência. Serviu de comentador ao espectáculo o sr. José da Silva Ribeiro, que antes de iniciar-se a representação de cada acto falou das peças a que pertenciam, fazendo a apresentação dos antigos, a quem saudou comovidamente, e dos novos amadores que iriam representá-las. Evocou também velhas figuras da cena tavaredense, como os irmãos Broeiro e tantos outros que, certamente, se pertencessem ainda ao número dos vivos, não deixariam de estar presentes naquelas inolvidáveis noites de saudade”.

Sessão solene - Bodas de Ouro - Presidiu à sessão o Prof. Dr. Joaquim de Carvalho

A sessão solene da abertura das comemorações teve a presidi-la a figura prestigiosa do grande Homem de Cultura figueirense Professor Doutor Joaquim de Carvalho que, encerrando a sessão, proferiu uma brilhante oração, em que louvou a acção da SIT, afirmando a determinado passo que “a Sociedade pela sua escola, pela sua vida associativa, pelo seu teatro, é exemplar no país e toda a gente a considera”.

Registamos o facto de que, depois do falecimento daquele ilustre figueirense, foi oferecido à Sociedade, por um dos seus filhos, “um autógrafo de seu Pai, que aqui se guarda como documento valioso e como preciosa relíquia, autógrafo que serviu de mero ideário para as palavras que proferiu na altura das Bodas de Ouro”.

Sem comentários:

Enviar um comentário