quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 48

A Conspiradora (Violinda Medina 'Marquesa dos Arcos' e João de Oliveira Júnior 'Conde de Riba d'Alva')

Voltemos, uma vez mais, ao teatro. Pelo 53º aniversário da sua fundação, foi levada à cena, em primeira representação, a peça “A Conspiradora”, “peça duma categoria indiscutível (ainda há muito pouco esteve em cena em Lisboa, no Monumental), que agradou em absoluto”.
A um espectáculo que se realizou no final de Fevereiro de 1957, no Casino Peninsular, assistiu o autor da peça, Dr. Vasco de Mendonça Alves, que veio de Lisboa, propositadamente, assistir à récita daquela peça pelos amadores tavaredenses. Mestre José Ribeiro, antes de se abrir o pano, “fez a apologia dos seus dotes de dramaturgo e, no final do 2º acto, a assistência solicitou a sua comparência no palco, tendo-lhe D. Violinda Medina feito entrega de um delicadíssimo ramo de flores, gesto que foi sublinhado com calorosos aplausos”. O ilustre visitante manifestou, publicamente, nítida satisfação pelo feliz desempenho e triunfo obtido pelos tavaredenses com esta sua peça.

Em todas as deslocações que efectuaram, com esta peça, triunfaram em absoluto. As críticas foram unânimes. “Efectivamente, foi um dos mais belos espectáculos a que temos assistido. É que “A Conspiradora” é, simplesmente, uma admirável peça de Teatro repleta de emoções. O seu enredo tem-nos presos do princípio ao fim da representação. Na sua acção perpassa e vibra a alma das antigas lutas liberais. As situações, por vezes hilariantes, casam-se perfeitamente com as cenas dramáticas, algumas das quais violentas. A dedicação à Pátria, o amor da Família e o sacrifício por uma Causa, são temas nela tratados pelo ilustre autor, na realidade, de maneira superior. Fala-nos simultaneamente à inteligência e ao coração – o precioso relicário que guarda os sentimentos bons e maus do homem. Apesar de terem decorrido já algumas dezenas de anos sobre a data da sua estreia, o assunto é actual.
E os humildes amadores, ensaiados pela mão de fada de José da Silva Ribeiro, conseguiram, o que constitue um dos seus maiores títulos de orgulho, na interpretação das figuras que lhe foram distribuidas, “dominam” completamente a selecta e distinta assistência, que enchia o teatro, arrancando-lhe vibrantes e entusiásticos aplausos, pois a representação, por vezes, foi interrompida, tal a profunda emoção causada durante algumas cenas e em que, para não ferirmos susceptibilidades não citaremos nomes, alguns brilharam a grande altura. Não exageramos, portanto, em afirmar que todos ficaram satisfeitos: o autor, o grupo e o público, cuja opinião é sempre de considerar. Assim vale a pena trabalhar...”.

Entre as várias localidades aonde se deslocou com esta peça, conta-se Torres Novas. “O grupo dramático da SIT inscreveu, com a sua ida, pela primeira vez, a Torres Novas, onde foi dar mais um espectáculo de beneficência, nova página gloriosa nos anais da vida da humanitária colectividade”. Foi uma jornada triunfante. “A retirada, fez-se eram já 4 horas, tendo todos os tavaredenses regressado saudosos e gratos por tantas provas de gentileza, que calaram bem fundo no coração de todos e tornaram inesquecível esta sua triunfal jornada a Torres Novas”.
Em Novembro de 1957, Mestre José Ribeiro proferiu, na colectividade, a sétima palestra sobre teatro. Deu-lhe o título “O Teatro na Antiguidade”, descrevendo representações teatrais anteriores aos clássicos gregos; um drama do século de Salomão, que a Bíblia conservou entre os livros do “Velho Testamento”: o Cântico dos Cânticos. “Apesar de convalescente do forte ataque de gripe asiática, que o reteve no leito alguns dias, o brilhante orador soube com seu habitual à-vontade e profundo conhecimento do assunto versado, em que é considerado Mestre, prender a atenção da assistência, pois lhe ofereceu mais uma das suas esplêndidas lições, sob o ponto de vista Teatral e até Religioso”.
Para comemorar o cinquentenário da morte do poeta e dramaturgo D. João da Câmara, o grupo cénico tavaredense levou à cena a sua principal obra teatral, “Os Velhos”. Esta efeméride passou despercebida por toda a parte, menos em Tavarede. No “Despertar”, de Coimbra, vem o comentário. “Este desinteresse dos doutores em Teatro em Lisboa e Porto e dos grupos dramáticos de Coimbra por D. João da Câmara, foi quebrado (e, vá lá!, digamo-lo com um hiper-bairrismo que cremos perdoável, “puxemos a brasa... ao nosso distrito”) pelas raparigas e rapazes de Tavarede, por essas moças e moços – e sê-lo-ão sempre porque, em boa verdade, o que conta não é o embranquecimento dos cabelos ou o enrugamento do rosto, mas o encanecimento e as rugas do espírito – Amadores do Teatro e da Cultura que, conduzidos por um outro Amador, cujos limites da sua “cultura oficial” desconhecemos, mas cuja “cultura real” sabemos ser grande, ocuparam os ócios dos seus mesteres tão árduos a erguer sobre as tábuas do palco da Sociedade de Instrução Tavaredense, a obra-prima do teatro de D. João da Câmara, uma das mais belas senão a mais bela obra de todo o nosso teatro – Os Velhos”.

Os Velhos - Cena da ceia - 3º. acto

Figueira, Marinha Grande, Alhadas, Coimbra, Alfarelos, Quiaios, Santana, Torres Novas e Vila Verde foram as localidades onde se apresentaram os tavaredenses com esta peça e em espectáculos cuja receita reverteu a favor das obras da nossa colectividade.

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