quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 49

Merece, também, uma referência a oferta que o grande amigo da colectividade e distinto artista, professor Alberto de Lacerda, fez de um quadro, de sua autoria, para que fosse sorteado a favor das nossas obras. Esse quadro “Quimono”, esteve exposto numa montra do Bairro Novo. “Reconheci, na pureza das linhas e no valoroso equilíbrio dos tons, a arte de quem pinta como poucos... Quimono, uma figurinha de Musmée, é um trabalho perfeito, equilibrado, de colorido bizarro e difícil, que o pintor conseguiu com extraordinária visão e perfeita técnica. A cor baça, macilenta, sem brilho dos Orientais, em contraste com a luz e o esplendor das sedas e dos atavios é difícil de conseguir, principalmente em trabalhos a têmpera, nos quais a luminosidade, a nitidez e os contrastes só podem ser obtidos por artistas com larga experiência do género”, escreveu, então, Orsini Miranda, também ele pintor distinto.

E em Março de 1959, nova peça é representada pelo nosso grupo, “As árvores morrem de pé”, que foi um dos grandes êxitos da Companhia do Teatro Nacional, onde atingiu duas centenas de representações. Tivemos sorte em ver as duas representações: em Tavarede e em Lisboa. E, se não pudemos deixar de apreciar a extraordinária categoria de Palmira Bastos, no papel de Avó (aquela Palmira Bastos que foi casada com o tavaredense Almeida Cruz), também o mesmo papel teve interpretação de igual nível pela nossa amadora Violinda Medina. Isto no dizer de críticos de teatro de reconhecido valor. “Minucioso e perfeito no detalhe, correcto e elegante nas atitudes, belo na intuição e na intenção do dizer, nada mais dizemos a não ser que esta Amadora é uma Grande Artista!”. Estas palavras referiam-se à interpretação de Violinda Medina.




















E chegámos ao primeiro Concurso de Arte Dramática das Colectividades de Cultura e Recreio. Quando recebeu o regulamento, a direcção quis ouvir o grupo cénico sobre o assunto. “O director do grupo cénico, senhor José Ribeiro, expôs o seu ponto, manifestando-se contrário à participação da SIT naquele concurso, prometendo, no entanto, assumir as responsabilidades atribuidas no regulamento aos ensaiadores dos grupos, se a Sociedade resolvesse concorrer. Após demorada troca de impressões resolveu-se, não obstante o parecer contrário do director cénico, que a SIT fizesse a sua inscrição”.

O resultado obtido é visivel nos diplomas que estão expostos na nossa sede. O grupo concorreu com as peças “Frei Luís de Sousa”, na categoria “drama”, e com “Os Velhos”, em “comédia”. Depois das provas eliminatórias realizadas em Tavarede, o nosso grupo foi apurado para a fase final com “Os Velhos”.

Recordamos, aqui, os prémios que nos foram atribuídos no referido concurso, na categoria B – comédia:
= Prémio “Francisco Taborda” – 2º lugar, para a colectividade;
= Prémio “Carlos Santos” – para o ensaiador;
= Prémio “Maria Matos” – Melhor interpretação feminina – Violinda Medina, no papel de “Emília”;
= Prémio “Chaby Pinheiro” – Melhor interpretação masculina – António Jorge da Silva, no papel de “Bento”.

Ainda foram atribuídas duas “Menções Honrosas”: a João da Silva Cascão, no papel de “Patacas” e a José da Silva Ribeiro, pela encenação de “Frei Luís de Sousa”.
Violinda Medina e Silva (Melhor interpretação feminina - comédia) - Na foto 'O Pranto de Maria Parda - outra das suas enormes criações

Como nota curiosa, recordamos que Violinda Medina e José Ribeiro ofereceram, para o fundo das obras, o valor pecuniário dos seus prémios. “Infelizmente, porém, o prémio do ensaiador não foi recebido, em virtude de contra o estabelecido no regulamento, o prémio “Carlos Santos” atribuído, ter sido reduzido para 2.500$00, recusando-se o sr. José da Silva Ribeiro a receber do SNI outra importância que não seja os 5.000$00 fixados no regulamento”. Lá ficaram!
Foi o grupo cénico que mais prémios obteve. Não resistimos a transcrever um bocado de uma crónica que, a propósito deste concurso, escreveram “Os engenheiros de obras feitas”, num jornal figueirense: “... Quer dizer, os primeiros Artistas-Amadores do teatro português de comédia, são tavaredenses. As distinções que definem bem o valor de uma colectividade com uma vida dedicada ao teatro, e que traduzem, ainda, uma enorme honra para a Figueira da Foz. E é aqui que queríamos chegar: Como se manifestou a Figueira no seu regozijo e no merecido agradecimento à Sociedade de Instrução Tavaredense? Em nada, absolutamente nada. Que contraste, que tristíssimo contraste com o acolhimento que a nossa vizinha Leiria dispensou ao seu grupo “Miguel Leitão”, que alcançou 2 prémios com a representação do drama “Tá-Mar”. O grupo leiriense foi recebido nos Paços do Concelho da sua terra por toda a vereação municipal, numa sessão solene em que participou toda a população. A Câmara Municipal, atribuindo-lhe a medalha de ouro da cidade deliberou, ainda, aumentar de 6 para 10 contos o subsídio que lhe dá anualmente”. Outras manifestações ainda teve o grupo “Miguel Leitão” pelos 2 prémios obtidos.

“E as entidades oficiais como é que manifestaram o seu reconhecimento à SIT pelos quatro prémios que ela alcançou para a nossa terra? Nem uma simples referência, nem um modesto voto de louvor se tornou público (e tem havido tantos nestes últimos tempos!) a galardoar tanto esforço, tanto trabalho pela instrução e pela beneficência do nosso concelho! E se nos anais da nossa Câmara há registos que honram e enobrecem, a obra da SIT devia ficar ali vinculada em letras de ouro, em preito do muito que ela tem prestigiado a nossa Figueira da Foz”.

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