sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Sociedade de Instrução Tavaredense - 65


Retomando uma tradição de cerca de cinquenta anos, a Sociedade de Instrução Tavaredense levou o seu teatro, uma vez mais, a Tomar. Foi no dia 5 de Junho de 1980 e a peça ‘Comédia da Vida e da Morte’ agradou em absoluto. ‘Houve um grande interregno, e há já muitos anos que a SIT se não deslocava a Tomar. No passado dia 5 os jovens amadores – jovens de todas as idades, onde permanece firme mestre José Ribeiro – foram recebidos com as manifestações de carinho de sempre’.

Antes de passarmos à peça seguinte, mais uma escrita pelo Mestre José Ribeiro, lembremos um pouco de uma entrevista que lhe foi feita, sobre o tema: “O elenco feminino da SIT através dos tempos”. ‘Durante 30 anos fizemos parte do grupo dramático da SIT (sempre sob a orientação de mestre José da Silva Ribeiro) e verificámos ao longo desses anos, que no naipe feminino (aliás também no masculino) havia sempre grandes revelações.

Quando se “perdia” uma figura de primeiro plano e se pensava que ficaria uma “brecha” incurável, logo aparecia outra senhora (ou menina) que “tapava” essa ferida por forma a que a unidade do grupo se mantivesse em bom nível. Para satisfazer a nossa curiosidade e no intuito de dar a conhecer ao público a opinião de José Ribeiro acerca deste facto curioso, resolvemos pedir-lhe para nos responder às seguintes perguntas, o que amavelmente fez este homem de teatro que apesar dos seus 85 anos continua a trabalhar incansavelmente:

- Tem o Grupo Cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, ao longo da sua carreira artística, contado com “grandes” amadoras.
Acontece, nesta altura, Ana Paula Fadigas aparecer em primeiro plano. Pode José Ribeiro falar-nos desta revelação, e dizer-nos se realmente se trata de uma amadora de grandes recursos?
“Sem dúvida nenhuma a Ana Paula foi uma revelação. Dei por ela numa rábula de 4 palavras num quadrozito do “Cântico da Aldeia” que cozinhei para uma festa de aniversário da SIT. Deu belíssimas provas na peça de Shakespeare “Tudo está bem quando acaba bem”, depois da “Rosalinda”, também adaptação de outra peça de Shakespeare e, notavelmente, na “Comédia da Morte e da Vida”. Oxalá ela se dedique e continue a estudar para corrigir defeitos que ela conhece”.

Ana Paula Fadigas
‘Comédia da Morte e da Vida’

- Somos do tempo de Violinda Medina, Emília Monteiro de Lemos, Maria Teresa Ribeiro (sempre em papéis de velha), Guilhermina da Silva Ribeiro, Maria Isabel Medina, Maria do Saltadouro (a quem dedicou um dos seus livros), e tantas outras boas amadoras. Quer falar-nos sobre elas?
“A nossa Maria do Saltadouro, de quem guardo muita saudade, não teve tempo para se aperfeiçoar. Tinha intuição e era apaixonada pelo teatro. Pouco menos que analfabeta, mas que inteligência! Guardo as cartas que ela me escreveu para a cadeia da PIDE no Porto. Na dedicatória a que tu aludes eu escrevi: Maria do Saltadouro, “a inteligente e humilde rapariga que amanhava as suas terras, fazia o seu vinho e costurava as suas roupas”. Não eram palavras de retórica, era literalmente a verdade”.

- Antes destas senhoras, tivemos outras de boa craveira artística. Qual, de todas com quem trabalhou, foi a mais brilhante? Considera que alguma delas poderia ter sido uma boa actriz como profissional?
“Ah! Sim. Posso citar-te a Eugénia Tondela. A Eugénia Tondela, filha de Manuel Tondela, que foi professor da escola nocturna logo no começo da SIT, casou com o pintor António Piedade, de quem ficou viúva. Também ela já morreu, que começou ainda no tempo do João dos Santos e do velho José Maria Cordeiro. Excelente e regularmente culta amadora. Durante anos representei com ela – éramos ainda novos, e já lá vão quase 70 anos! Depois da Eugénia tivemos a Helena Medina, que foi primeira figura durante anos. Era uma figurinha agradável e tinha uma linda voz que a fazia brilhar na opereta.Não posso dizer, em consciência, qual foi a “mais brilhante”, como tu pedes. Cada uma teve o seu tempo. Mas posso citar-te uma de qualidades excepcionais: a Violinda Medina e Silva. Mas a Violinda é um caso excepcional, um caso à-parte, como só raramente aparece. Claro que sim. Algumas das nossas amadoras podiam vir a ser boas actrizes profissionais. Para isso teriam de alargar e aperfeiçoar a sua cultura geral e especial. Sem estas “ferramentas” não se é bom trabalhador no teatro”.


Helena de Figueiredo Medina
(bisavó de Ana Paula Fadigas)

Aqui fica o depoimento de um dos maiores ensaiadores do teatro amador do nosso País, que, através da sua competência e invulgares qualidades de trabalho, levou o Grupo de Teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense a ser considerado como um dos melhores agrupamentos de Portugal.

É chegada a ocasião de entrarmos no ano de 1981. A pedido da Direcção, e tendo em vista os êxitos que alcançavam as peças musicadas, Mestre José Ribeiro escreveu e ensaiou nova fantasia, na linha das anteriores. Chamou-lhe ‘Ecos da Terra do Limonete’.

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