sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Tavarede e o Rio Mondego

Procurando informações escritas nos cadernos manuscritos do Dr. Mesquita de Figueiredo, que se encontram na Sala Figueirense da Biblioteca Municipal da Figueira da Foz, encontro, por vezes, anotações interessantíssimas, muito em especial sobre factos ocorridos na nossa terra em tempos já bastante recuados.

Desde já aviso que, sendo os referidos cadernos de leitura assáz difícil, admito cometer alguns erros de transcrição. Além disso, e como estão copiados conforme os originais, isto é, em ortografia antiga e com muitas abreviaturas, e para um não ‘especialista’ nesta matéria, de certeza que cometerei algumas ‘gralhas’. Espero, no entanto, não alterar em nada o sentido do que está escrito naqueles documentos.

Numa ‘Informação para uma demanda sobre pescarias’, que o Dr. Marcelino Mesquita anota como “sem data, mas a letra parece dos fins do sécullo XVI”, encontrei o seguinte:

“O lugar da Figueira da foz do Mondego, onde está a Alfândega de El-Rei nosso senhor do fito rio, (é termo de Tavarede, que é Couto e jurisdição cível do Cabido da Sé de Coimbra e no dito Couto e lugar haverá cento e sessenta moradores, e é um lugar muito nobre dos melhores do seu tamanho que há em todo este Reino, e vivem nele fidalgos e cavaleiros e escudeiros e homens nobres muito ricos, o qual Couto tem toda a jurisdição cível e os juizes dele conhecem dos feitos cíveis de toda a comarca e apelação e agravo para o Ouvidor dele para El-Rei nosso senhor. E no dito Couto há a Câmara com todos os oficiais, como em qualquer vila do Reino, e nele se fazem as eleições dos juizes e vereadores e os outros oficiais pela forma da ordenação e toda esta jurisdição cível é do dito Cabido…”

Sabe-se, assim, que Tavarede tinha muita importância apesar do reduzido número de habitantes. Pena é não indicarem nomes das pessoas de valimento tão elevado, como refere. Por aquela época, já Tavarede era dominada pelo seu Morgado, da família Quadros, instituido por António Fernandes de Quadros, no ano de 1540, pouco tempo antes do seu falecimento.
Mas continuo com o documento acima. “Este Couto de Tavarede começa a correr da barra da dito rio Mondego, e ao longo da margem norte vai ter a outro lugar que se chama Vila Verde, que é outro lugar que tem toda a jurisdição cível como a tem Tavarede, e é do Bispo de Coimbra. E correndo ao longo da mesma margem do dito rio, chegamos a outro lugar, que se chama Maiorca, que também tem jurisdição cível como Tavarede e que corre ao longo do dito rio, até chegar à jurisdição cível de Montemor (e este lugar é da Santa Cruz de Coimbra e a jurisdição cível da Universidae da dita cidade).

Da outra parte do referido rio Mondego, da banda do sul, começando na dita barra, está outro lugar que se chama Lavos, que é do Bispo de Coimbra, e acima dele está outro lugar que se chama Reveles e Serroventoso, que é do dito Bispo de Coimbra, e que tem toda a jurisdição como Tavarede, e acima deste, ao longo do rio, está outro lugar que se chama Verride…”
Pela continuação do texto, verificamos que os barcos iam, rio acima, até Montemor para vender o pescado e comprar “… esta comarca tem muito pão de sua lavra e não tem necessidade de todo, antes o carrega para fora, para outras partes, e no Couto de Tavarede e Figueira e vilas de Buarcos e Redondos e suas comarcas, não têm nenhum pão, nem azeite, nem legumes, nem outros mantimentos de sua colheita…”

Havia, então, a venda de pescado, sardinha, solhas, etc., e compra de cereais e legumes para abastecimento destes referidos lugares. Todavia, não era fácil o percurso e a descarga do pescado em Montemor. No Inverno, com os campos alagados durante dois ou três meses ‘… não podiam ir aos barcos a pé nem em bestas, nem noutras barcas, e é uma grande légua da dita vila de Montemor até aos navios…’. No Verão, pelo contrário, era a escassez de água no rio que não permitia a subida dos barcos para fazerem o seu negócio.

É claro que o acima descrito é só uma pequena amostra dos elementos que se encontram sobre Tavarede antiga. Pouco tenho transcrito sobre a nossa história. Como se sabe, tenho-me dedicado mais ao Associativismo e aos nossos antepassados mais ilustres. É que as nossas colectividades têm desempenhado um papel importantíssimo na terra do limonete. A Sociedade de Instrução ainda agora comemorou o seu 107º aniversário e o Grupo Musical e de Instrução comemorará o seu Centenário em Agosto próximo. Dar a conhecer o seu passado paraceu-me muito importante. O que encontrei, e espero encontrar, sobre o passado de Tavarede será transcrito lá mais para diante.

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