sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

José Maria Marques

“Mais conhecido por José Maria Peniche, por seu pai ser natural desta vila, nasceu na Figueira, passando mais tarde a residir em Tavarede. E aos 10 anos, em 7 de Janeiro, entrou as portas das Oficinas Mota, então dirigidas por Urbano Fernandes da Silva Mota, como aprendiz, com o salário de 30 reis por semana, o preço de 2 pães”.

Fez a instrução primária na escola do “anão”, na Rua da Fé, na escola de “Santo Antoninho”, na Rua 9 de Julho e na escola da Associação de Instrução Popular, na Rua da Cadeia.

Aposentou-se com 80 anos de idade, depois de ter trabalhado, na mesma empresa, mais de 70 anos, apenas faltando durante o tempo em que prestou serviço militar e para tratamento de “algumas queimaduras em serviço”. “80 anos de idade, 70 anos a trabalhar na mesma casa. 70 anos de trabalho profícuo, competente, de alto nível técnico, à escala nacional”.

“Um grupo de antigos e actuais empregados das fundições Mota de Quadros entregou-lhe uma mensagem, com desenhos alusivos à fundição de metais, em homenagem às suas qualidades de camarada e de profissional”.

“Durante uma crise, foi-lhe reduzido o ordenado e também à maior parte dos empregados. Entretanto, reconhecida já a sua capacidade, foi convidado a dirigir uma fundição a construir no Rio de Janeiro. Demovido do projecto de sair do país pelo patrão, logo lhe foi restabelecido o ordenado anterior”.

Foi um dedicado colaborador do grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, desempenhando tarefas na montagem dos cenários e respectivas cenas.

Foi regedor de Tavarede e membro da Comissão Paroquial.

Casou com Preciosa Mota Oliveira, teve duas filhas, Elisa e Augusta, e faleceu no dia 27 de Janeiro de 1982. Era filho de Henrique Marques e Rita da Silva. Nascera no dia 1 de Janeiro de 1890.
Caderno: Tavaredenses com História

Henrique Tavares de Almeida


Foi uma figura carismática em Tavarede. Casado com Beatriz Ferreira de Almeida, seguiu a carreira militar, distinguindo-se como responsável pela secretaria do quartel onde estava colocado. Todos os dias, manhã cedo, vinha a Tavarede uma charrette do quartel para o levar para o serviço, o mesmo sucedendo à hora do seu regresso a casa.

Nasceu a 14 de Outubro de 1887 e faleceu em 31 de Janeiro de 1969.


Era um casal muito procurado pelos seus conterrâneos que o solicitavam para apadrinhamento dos seus casamentos, nunca dizendo que não.

Também colaborou, por diversas vezes, com as associações locais, assumindo o cargo de presidente da direcção.

Caderno: Tavaredenses com História

António Rodrigues dos Santos


Nasceu no dia 25 de Setembro de 1896 e faleceu em 18 de Janeiro de 1974. Casou com Maria de Oliveira da Silva, tendo três filhos: José, Arménio e Antonino.

Começou a actuar no grupo cénico da Sociedade de Instrução no ano de 1920, na opereta Entre duas Ave-Marias. Até ao ano de 1969, ano em que acabou a sua actividade no grupo, figurou mais de 50 personagens, em peças como Os Amores de Mariana, Noite de S. João, Em busca da Lúcia-Lima, Grão-Ducado de Tavarede, Os Fidalgos da Casa Mourisca, A Morgadinha dos Canaviais, Justiça de Sua Majestade, A Cigarra e a Formiga, O Sonho do Cavador, O Grande Industrial, Entre Giestas, A Nossa Casa, Raça, Frei Luís de Sousa, Terra do Limonete, etc.

Uma nota triste. Num espectáculo com a peça Raça, em que figurava o personagem Dr. Magalhães, com a casa passada e praticamente tudo pronto para começar o espectáculo, recebeu António Santos a notícia do falecimento de seu filho, Arménio. O espectáculo não podia ser adiado. Foi José Ribeiro que, improvisadamente, foi fazer o papel, o que causou algumas dificuldades aos outros amadores, pois não sabia nem o papel nem as marcações.

Era sócio honorário da Sociedade de Instrução Tavaredense.

Caderno: Tavaredenses com História

António Mendes da Silva

Nasceu em Tavarede em 1836 e morreu em 7 de Novembro de 1916.

Operário carpinteiro, foi um dos fundadores da respectiva associação de classe, que o elegeu sócio honorário.

Emigrou para o Brasil. Fez parte, depois, da comissão municipal republicana de 1895, que se reuniu pela primeira vez em sua casa, na Rua Fernandes Coelho; durante anos continuou a pertencer à mesma comissão.

Ocupou o lugar de vereador da Câmara. As associações figueirenses de caridade e de instrução foram largamente subsidiadas por António Mendes da Silva. Foi figura destacada da Maçonaria.
Caderno: Tavaredenses com História

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sociedade de Instrução Tavaredense - 89


Depois de uma conferência pelo Dr. António Guardado, voltou a tradição da ‘Serra a Velha’ e no Dia Mundial do Teatro, o Lions Clube da Figueira associou-se às nossas comemorações oferecendo-nos uma placa que está afixada no átrio da entrada. Houve teatro pelo Grupo de Teatro Drª. Cristina Torres, que apresentou a peça ‘Sopinha de Mel’. A nossa Colectividade aproveitou a ocasião para prestar homenagem ao saudoso amador e encenador João de Oliveira Júnior.

Foi descerrado o retrato de João de Oliveira Júnior

Em Abril houve mais uma palestra, desta vez pelo Engº. António Santos Silva e houve mais uma tradição que foi recordada: a ‘festa da Pinhata’. Realizou-se durante o almoço mensal e teve a animação da orquestra ‘Melodias de Sempre’, de Brenha. E também se voltou a recordar a ‘Queima do Judas’, no sábado de Aleluia. No dia 19 de Abril, quinta-feira de Ascenção, reviveu-se a ‘Merenda Grande’. O mau tempo, contudo, não permitiu a ida ao antigo pinhal da Borlateira, pelo que foi comemorada com a merenda no nosso pavilhão desportivo.


Padre Borga e Tuna da Universidade do Algarve

Ainda nesse mesmo mês tivémos um espectáculo com a presença do Padre Borga e no final exibiu-se a ‘Tuna da Universidade do Algarve’ que se encontrava na Figueira e nos fez uma surpresa com a sua colaboração.

O mês de Maio trouxe-nos o Grupo de Instrumentos de Sopro de Coimbra, dirigido pelo Maestro Adelino Martins, uma colaboração nas comemorações do Dia de Tavarede e o primeiro ‘Encontro de Filarmónicas do Centenário’. Estiveram presentes as Filarmónicas dos Carvalhais, de Santana e a Gualdim Pais, de Tomar. Foi uma magnífica tarde musical que encheu por completo o nosso pavilhão.


A Banda de Tomar foi recebida no salão nobre da Câmara Municipal

E no dia 29 ainda houve confraternização com a realização do ‘Rallye Paper’. As comemorações prosseguiram em Junho com ‘Teatro de Rua’.”ANTES DE SAIR PARA A RUA... Porque o Teatro é um divertimento, tem uma função cultural e educativa e porque o espectáculo se dirige ao público, assim estes meios e fins conduzem-nos à escolha de determinado processo de comunicação que é o contacto directo com as pessoas e com os lugares onde se desenrolam as acções.



Dois momentos do ‘Teatro de Rua’ (A sesta e a Fonte de Tavarede)

Vamos assim adoptar um processo bem diferente do que é usado habitualmente, nestes cem anos em que se faz teatro, porque os intérpretes vão mais do que nunca tomar consciência das respectivas personagens, dos sentimentos que lhes vai na alma, das ideias que as determinam, da época em que vivem, dos ambientes em que se movem.

Os quadros que vamos representar, são de fundo histórico caracteristicamente local – bem da terra do limonete, constituída sobre factos e com figuras da história de Tavarede, com as tradições locais, os costumes locais e o ambiente local. Ficará este trabalho como testemunho da nossa dedicação à terra humilde onde nascemos, temos vivido e de que muito gostamos, como hino ao trabalho e também como afirmação da simpatia que votamos e da solidariedade que nos liga a todos os homens e mulheres da nossa aldeia.

José Ribeiro, dizia que estes quadros eram dos tais feitos apenas para serem vistos sobre as tábuas do palco. Fomos pôr a água ao lume para fazer este chá nas ruas da terra do limonete. Mais uma vez contamos com a ajuda do mestre... Como José Ribeiro escreveu: "É tempo de bater as três pancadas. Pano acima..." E nós continuamos: ...que o TEATRO VAI À RUA.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

José da Silva Cordeiro


Nasceu em Tavarede, a 2 de Janeiro de 1897, filho de Mateus Cordeiro e de Joaquina Mendes Silva. Casou com Rosa Rodrigues Cordeiro (falecida em Maio de 1977, com 83 anos), e tiveram três filhos: José, Emília e Raul. Morreu em 13 de Dezembro de 1969, com 72 anos de idade.


“José Cordeiro, pelas suas qualidades de carácter e dedicação pela sua terra, dando sempre o seu desinteressado concurso a todas as iniciativas que têm por fim elevar o nível moral dos tavaredenses, como exuberantemente o tem demonstrado na Sociedade de Instrução Tavaredense, e sua esposa, que é filha do falecido e estimado comerciante desta localidade, Francisco Cordeiro, gozam entre nós da melhor simpatia, motivo porque lhe auguramos um futuro feliz, de que são dignos”.


Foi membro da Comissão Paroquial da Freguesia e regedor, nomeado em 1921.


Tipógrafo de profissão, trabalhou na Tipografia Popular, de “A Voz da Justiça”, até ao seu encerramento em 1938, passando depois por diversas outras tipografias, acabando na Escola Gráfica Figueirense. Foi correspondente do jornal “A Voz da Justiça”, onde travou acesas polémicas, especialmente sobre a vida associativa local, e também de “O Figueirense”.


Devotado sócio e dirigente da Sociedade de Instrução, desempenhou, além de funções directivas, as mais diversas tarefas para que era solicitado. Uma dessas funções era a de porteiro, em dias de espectáculo. Passou-se com ele o seguinte caso:


Antigamente eram muitos os sócios que tinham o chamado “lugar cativo”. O teatro era o único divertimento que a maioria dos tavaredenses tinham e, então, só em casos de força maior é que deixavam de assistir aos teatros da sua colectividade. Isto fosse a peça representada uma ou 10 vezes, pois tinham sempre reservado o seu lugar. Uma noite, prestes o início do espectáculo, chega à porta da entrada sua esposa, a Tia Rosa, que, não encontrando o bilhete da algibeira, se recorda que o havia deixado em casa, por esquecimento. Pois, apesar de ter sido ele quem levara o bilhete e saber que o lugar era cativo, não deixou entrar sua mulher, obrigando-a a voltar a casa buscar o necessário bilhete.


Excesso de zelo? Talvez não. Era, isso sim, a necessidade do cumprimento do seu dever, aliás, o que sempre norteou a sua vida.


Caderno: Tavaredenses com História

Aniceto Mocho

No seu tempo, foi uma das pessoas mais conhecidas e características na aldeia.

Trabalhador rural e cabreiro, vivia, também, dos proveitos que obtinha ocasionalmente com alguns “biscates”. Era especialista na abertura de poços. Não dispomos de mais elementos sobre ele. No entanto, em 1950, Mestre José Ribeiro citou-o no quadro A Cidade e o Campo, em Chá de Limonete, quando o Campo respondendo a Frei Manuel de Santa Clara à pergunta onde ficava o “Couto de Tavarede” diz: “Couto de Tavarede? Não. Mocho temos cá, mas Couto não conheço”.

Adepto fervoroso dos jogos de cartas, era sempre desejado para parceiro nas partidas de “garujo”, que se disputavam frequentemente, à noite, na loja do Guerreiro.
Caderno: Tavaredenses com História

Manuel Frederico Pressler

Escritor e dramaturgo, nasceu em 1907 e faleceu em 1972. Autor da peça Horizonte, ofereceu a mesma para ser representada, sem quaisquer encargos, pelo grupo dramático da SIT. Assistiu a uma representação no Casino Peninsular, ficando bastante agradado da montagem e desempenho que elogiou muito.

A colectividade atribuiu-lhe o diploma de sócio honorário, recebendo, dias depois, uma carta onde se lê: “…Venho muito sensibilizado agradecer as palavras tão gentis exaradas no vosso relatório, e a grande honra que me fizeram nomeando-me sócio honorário dessa prestimosa colectividade. Mais uma vez quero afirmar o prazer que tive em que Horizonte fosse representado pelo vosso Grupo Dramático que, em todas as representações desta peça, actuou de maneira notável. Quanto à cedência dos direitos, nada há a agradecer-me. Servindo a Sociedade de Instrução Tavaredense mesmo modestamente como fiz, prestei um serviço ao Teatro Português; e, se o Teatro é vossa causa, é também a minha causa…”.
Caderno: Tavaredenses com História

Sociedade de Instrução Tavaredense - 88

No domingo seguinte, depois da tradicional arruada pela Tuna de Tavarede e de uma romagem ao cemitério, onde foi homenageada a memória dos fundadores, dos amadores e sócios já falecidos, teve lugar a Sessão Solene do Centenário, que foi presidida, honrosamente, pelo então secretário de Estado da Cultura, Dr. José Amaral Pais.

Sessão solene do Centenário

“A cuidada sala de espectáculos daquela casa, onde pareciam ainda pairar os aplausos e as emoções da noite anterior, voltou a encher. Encheu a sala, encheu o palco, onde não faltavam lindas flores (pode entender-se o duplo sentido), e enriqueceu a história desta meritória associação. Esta sessão comemorativa teve razões de sobra para se tornar inesquecível. O público aderiu quase como se fosse a um espectáculo fortemente publicitado; na plateia e na galeria, os tavaredenses estiveram bem acompanhados por amigos e admiradores da sua sociedade; as colectividades congéneres fizeram-se representar em força e, algumas delas, ornamentaram as coxias laterais com os seus estandartes; as autoridades oficiais estiveram presentes: do Governo à Junta de Freguesia, com a Câmara Municipal da Figueira da Foz multipresente – Presidentes da Assembleia e do Executivo, Vereadores com e sem pelouro – e a reforçar o reconhecimento do mérito e do crédito da Sociedade, para além das presenças, várias mensagens de felicitações de gente ilustre: do Presidente da República ao actual Presidente da Câmara Municipal de Lisboa – como se sabe recente ex-presidente da CMFF – entre outras, que foram lidas pela presidente cessante a abrir a sessão que veio a ser dirigida por Sua Excelência o Secretário de Estado da Cultura.

Antes da oratória propriamente dita – os discursos da praxe – e logo após a leitura da correspondência, foram ainda distinguidos consócios ligados à sociedade há 50 anos, foi apresentado um novo estandarte da SIT e destruído o cunho da medalha comemorativa do centenário na presença do autor, o conhecido Francisco Simões, e foram referidos os nomes da equipa de dirigentes recentemente eleitos, liderada por Vítor Medina, tendo a presidente cessante, Rosa Paz, feito uma breve intervenção em que manifestou a sua confiança nos novos dirigentes e aproveitado para agradecer a colaboração da equipa exclusivamente feminina que com ela trabalhou e aos que a apoiaram ao longo dos seus mandatos.

A seguir muitos foram os oradores que teceram justos elogios à continuada acção cultural desenvolvida pela colectividade, essencialmente com o teatro amador de qualidade e que há muitos anos extravasou o concelho, com actuações também além fronteiras. De entre os vários amigos da SIT, e para além daqueles (as) que são bem mais do que isso, usaram da palavra o Dr. Bernardes, um bem conceituado entendido na arte de Talma e conhecedor da carreira do grupo, e a Drª Teresa Coimbra, desde longa data muito ligada afectivamente aos tavaredenses que, com alguma emoção, se referiu ao inesquecível “sr. Zé Ribeiro” e aos seus conselhos”.

O que eles e elas disseram:

“Considero que o teatro é a forma de arte que mais nos interpela e nos confronta com os nossos valores. Quero deixar aqui a palavra “memória”, evocativa de todas as pessoas que tanto nos deram e nos enriqueceram ao longo de cem anos, com dedicação e esforço”. Ana Pires
“Abordar a história da SIT é recordar Mestre José Ribeiro autor do Hino do Limonete e Anselmo Cardoso, meu pai, que o musicou”. Carlos Cardoso
“Esta casa vive de muito trabalho, dedicação à cultura e ao teatro. A presença do secretário de Estado da Cultura é o mais forte incentivo para continuar”. José Paz
“Sublinho o apoio de Rosário Águas e de Teresa Machado, sempre disponíveis para nos ajudar. O que nos une nesta casa é o palco das emoções para além da razão”. Ana Maria Caetano
“Falei aqui há 50 anos com Cristina Torres e Lontro Mariano. Hoje, na comemoração do centenário, quero expressar a minha satisfação por estar aqui a agradecer o trabalho realizado ao longo de cem anos. Esta casa foi uma escola de educação, instrução, cultura, convívio, teatro, onde os conceitos de liberdade, solidariedade e cidadania estiveram sempre presentes. A obra iniciada há cem anos terá continuadores em vós”. Maria Teresa Coimbra
“Tavarede não era o que é, se esta casa não existisse. Por isso, Tavarede não entrou na onda da descaracterização, mantendo a sua identidade própria. A SIT e José Ribeiro foram, ao longo de cem anos, o emblema cultural da Figueira da Foz. O futuro há-de ser sempre o que quisermos fazer, se não quisermos atraiçoar a memória do passado”. José Bernardes
“A grande referência desta colectividade é o teatro, uma das vertentes de cultura, que nos leva a todos, a estar gratos à SIT. Que estas comemorações dêem frutos e sementes que germinem na mente e no coração dos mais jovens”. Daniel Santos
“É bom sentir uma casa viva, cheia, com cem anos de história e sempre apostada em construir um caminho de futuro”. Ricardo Alves, representante do Governo Civil
“Lembro-me o que há mais de 50 anos ouvi de José Ribeiro: A SIT estará sempre presente se a Câmara Municipal necessitar da nossa presença. Esta casa é uma escola. Bem hajam pelo trabalho desenvolvido”. Muñoz de Oliveira

As festas foram prosseguindo com actuações do Grupo Coral David de Sousa, com o ‘contador de ‘estórias’ José Craveiro, a que se seguiu, no dia 17 de Fevereiro, a comemoração do Centenário do Nascimento de Violinda Medina. A homenagem constou de uma exposição, no nosso salão nobre e de um sarau em que, com a colaboração do nosso grupo cénico, foi evocada a passagem de Violinda Medina pelo nosso teatro e contada, em resumo a sua história. Foi apresentada uma gravação, visual e sonora, da sua representação na peça “Mesa Redonda”, em 1975, onde interpretou o papel de “Velhinha”, da peça “O Processo de Jesus”, e uma gravação sonora da sua interpretação de “O Pranto de Maria Parda”, acompanhada pela projecção de diversas fotografias tiradas aquando da representação desta peça.



Bolo do centenário do nascimento de Violinda Medina e Silva

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

TAVAREDE - PERGAMINHOS

No cartório da Câmara deste Couto, não se acham livros antigos, acham-se, sim, vários pergaminhos escritos e selados com selos reais de diferentes armas, cuja letra não se pode ler por ser antiquíssima e escura, e por isso se não pode saber de que tratam, nem há livro nem tradução dos ditos pergaminhos.

Este Couto de Tavarede tem 90 fogos, com alguns casais circumvizinhos a este mesmo Couto, ao qual pertence o lugar da Figueira da foz do Mondego, que é sujeito a esta vara em todas as matérias cíveis, o qual lugar tem 157 fogos, e uns e outros fazem 247 fogos, e tudo é jurisdição cível da vara deste Couto.
Igreja de Tavarede - cenário da Sociedade de Instrução Tavaredense

Os direitos reais que lográra dos Senhores Reis, até ao tempo do Senhor Rei D. Sancho, foram dados ao Abade Pedro e Cónegos do Cabido da Sé de Coimbra, a qual doação foi confirmada pelo Senhor Rei D. Manuel, como melhor há-de constar dos papéis e doações que o mesmo Cabido tem em seu poder. E também consta do Foral deste dito Couto, dado pelo mesmo Rei D. Manuel, com declaração dos direitos que se pagam ao Cabido de Coimbra, que são dízimos, oitavas e portagens.

Não se acha memória nem há tradição alguma acerca da antiguidade deste Couto, nem seu princípio e primeiros habitantes, salvo se consta dos pergaminhos que se não sabem ler e estão no Cartório desta Câmara. E isto melhor constará do Cartório do Cabido de Coimbra.

Este Couto está situado ao redor do rio Mondego, distando de meio quarto de légua e dista do mar e praça de Buarcos um quarto de légua. O lugar da Figueira, sujeito a este Couto, está situado ao pé do mesmo rio, e no fim dele abre a barra do dito lugar. Neste Couto se costumam fazer cada ano três procissões públicas, que ordena a Justiça, as quais são a da Visitação de Nosso Senhor, a do Anjo da Guarda e a do Corpo de Deus.

(extraído dos livros manuscritos do Dr. Mesquita de Figueiredo)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Grupo Musical e de Instrução Tavaredense



O Grupo Musical e de Instrução Tavaredense comemora, em Agosto próximo, o seu primeiro Centenário. Já aqui publiquei um pouco da sua história, um pouco do seu passado brilhante e um pouco dos tempos menos bons. Ainda hoje o seu grupo cénico e a sua tuna são recordados com imensa saudade. Mas, de vez em quando, surgem coisas que vale a pena recordar. Por exemplo, a representação da peça 'Mãe Maria', da autoria de Raul Martins, versos de António Amargo e música de Herculano Rocha.


Vem isto a propósito do seguinte: Com as mudanças forçadas que o Grupo Musical teve de fazer ao longo destes 100 anos, perdeu-se muito material que nos contaria o passado da colectividade, especialmente do seu grupo cénico, desaparecido em 1930. Em especial fotografias. E é pena porque deveria ter um espólio bastante grande.


O meu caro amigo e primo Helder Oliveira, tavaredense entusiasta e associativista fervoroso, teve a gentileza de me oferecer quatro fotografias de uma representação teatral do grupo cénico do Grupo Musical, pedindo-me para tentar a sua identificação, não só quanto aos figurantes como, também, ao local onde foram tiradas.


E o caso acaba por ser bastante interessante. Depois de vasculhar os minhas notas, cheguei à conclusão que as mesmas diziam respeito a uma opereta, representada em 1929, com o título de 'Mãe Maria'. Adiante estarão referidos os autores e intérpretes. O curioso é que esta opereta, ensaiada por Raul Martins, também intérprete e autor, só foi representada uma única vez. E foi fora da colectividade, pois, segundo nota encontrada, as dimensões do palco não permitiam a sua representação na sede. Foi na Figueira, no Parque Cine, em Julho de 1929.


Não sei se o resultado terá sido proveitoso, tanto mais que o Grupo Musical atravessava uma das suas maiores crises financeiras. Mas isso é outra história. O facto de ser representada na Figueira e no Parque, levou-me a pensar que as fotografias não teriam sido tiradas na nossa terra. Não tenho ideia de alguma vez ter visto por cá uma palmeira. Pensando no caso, pareceu-me ter localizado o sítio: no quintal das 'Freirinhas', junto ao mercado. Lá está a palmeira e as escadas para o varandim. Estarei certo?


Entretanto, achei por bem transcrever as críticas que foram feitas a esta representação e a resposta que lhe foi dada por António Amargo. A primeira é uma pequena nota, a outra é que interessa.


Supômos que os autôres da Mãe-Maria pensavam fazer uma peçasinha ligeira e fácil, com motivos populares e simples.
Musica sob a regencia de Herculano Rocha, - e está dito tudo, que este musico distinto e habil, tem feito seus créditos. Violinda Medina, a excelente amadora de sempre. Córos fartos enchendo a scena. E vá sem favor, - formosas raparigas, de lindos rostos e garrido aspéto. A casa cheia.
E aplausos nos remates d’acto. Estas recitas são sempre um motivo de cultura – Por isso de elogiar os seus organisadores, o que fazemos com gôsto e justiça. (O Figueirense)


Conforme o nosso jornal noticiou, tivemos no domingo passado, no teatro Parque-Cine, a representação da opereta em 3 actos A Mãe Maria, original de Raul Martins, com versos de Antonio Amargo e musica de Herculano Rocha.
A acção é rasoavel, bem conduzida, e, para não fugir à tradição das peças do genero, é passada numa aldeia do verdejante Minho.
O enrêdo não é de todo vasio de intuitos. Consegue conquistar desde o começo a atenção do publico, mantendo-se o diálogo animado, natural e sugestivo, especialmente quando entra a Mãe Maria e o Prior.
Nota-se, contudo, uma sensivel falta de observação psicológica que embora não seja de gravidade, é deveras lamentavel.
O prior não desempenha ali o papel que aos padres está confiado na terra.
Anda na pandega, bebe rasoavelmente, e chega a sustentar conversas pouco correctas com uma caricata velhota, censurando-a ironicamente e troçando-a – o que não é, positivamente, o dever dum padre. E a mais rudimentar logica não permite aceitar como verosimil que o prior duma aldeia minhota ande a peitar este ou aquele para tirar um desforço violento do boticario e do sacristão, por estes terem tido o desplante de escreverem umas declarações d’amôr a uma sua irmã – como absurdo é alguns dos freguezes deste prior tratarem-no por tu, com uma familiaridade inadmissivel para quem conhece os usos e costumes das boas terras d’Entre-Douro-Minho.
Em suma: O sr. Raul Martins creando d’est’arte o prior da sua peça, deu-nos claramente a perceber a falta total de informação religiosa que domina o seu, aliás, inteligente espirito.
A missão do sacerdote não comporta, certamente, dentro dos fins da paz e amor que a orientam – o perfil moral do seu inverosimil prior que... apenas se sabe que o é por envergar em scena as vestes talares.
Apesar disso é “A Mãe Maria” uma peça interessante, devendo, contudo, dizer que esperavamos melhor, mesmo muito melhor – dada a impressão que nos deixou a representação da opereta dos mesmos auctores “A noite de Santo António” que tem sobre esta evidente superioridade de urdidura e de tecnica.
Não esperavamos, evidentemente, uma obra-prima, mas não previamos que, sobretudo, os versos de “A Mãe Maria”, - fossem duma tão manifesta inferioridade em relação aos da “Noite de Santo António”. Quasi que não parecem do mesmo auctor, poeta brilhante e de destra cultura.
Quanto ao desempenho, destacamos em primeiro logar, Violinda Medina, no papel de Mãe Maria que desempenhou com um á-vontade e uma perfeita correcção, que vieram confirmar os seus anteriores triunfos scenicos. A sua voz é como que um veio de agua cristalina, murmurando suavemente por entre fraguedos, modulando o canto com um raro e precioso sentimento que muitas artistas profissionais, certamente, invejariam. É, sem duvida, uma muito distincta amadora que honra, sobremaneira, Tavarede.
Adriano Silva no Bento Boticário satisfez-nos plenamente, como amador seguro, dizendo com graça e naturalidade. Egualmente Manuel Nogueira no Antonio Sacristão foi um comico impagavel, conquistando a simpatia do publico pela vida invulgar que imprimiu ao papel.
É sem a menor duvida um dos melhores elementos do seu grupo scenico.
Raul Martins, pela forma como se houve no Morgado, bastaria para, com Violinda Medina, salvarem a peça, se ela não tivesse outros méritos.
Foi o correcto galan de sempre, vincando com certeza e consciencia o seu logar.
Manuel Cordeiro, bem. É um novo nas lides de Talma, mas com marcada propensão para a scena e dotes muito apreciaveis.
De Jorge Medina, sómente diremos que “filho de peixe sabe nadar”... Recordámos com saudade seu pae, o malogrado José Medina, cuja boa tradição ele já sabe honrar, registando nós com aprazimento os seus constantes progressos.
Clarisse Cordeiro apesar das suas reaes aptidões para o teatro não poude brilhar no papel de Berta como poderia, pois a sua voz não lhe permitiu dar o relevo preciso. Tem, porem, uma boa dicção e pisa o palco com natural despreocupação.
Os restantes, João Nogueira no Ricardo; Antonio Medina no Mordomo e Helena Gomes na D. Ana, encarnaram bem os seus papeis, não desmanchando o conjuncto.
Os córos geralmente bons; homogeneos e com forte sonoridade tendo, por vezes, deslises sensiveis mas facilmente remediaveis para o futuro.
A musica, ligeira, viva e alegre, dispondo bem o publico. Os scenarios agradaram.
O que, porventura, não agradará é esta nossa critica aos distinctos amadores de Tavarede... Notámos deficiencias, aliás bem naturaes – mas se acharem o nosso juizo parcial ou incompetente – o melhor é recorrerem a qualquer critico amigo que lhes teça o panegirico na Pagina Teatral de “O Século”.
Já agora! Visto que entrou em moda.... (a) Vitalino Modesto (O Jornal da Figueira)

Exmo. Sr. Vitalino Modesto
Li a critica que V. escreveu em o numero passado de O Jornal da Figueira ácerca da opereta A Mãe Maria, da qual fui um dos colaboradores.
No geral, concordo com as opiniões que V. expôz com uma imparcialidade muito de louvar; a Mãe Maria não é felizmente uma obra levada nos motores da Fama – a Fama modernisou-se, já não tem azas, mas sim motores – aos pincaros da lua, nem conquistou para os seus auctores, modestos como V., um fauteuil académico ou algum hábito... nem mesmo o habito do auto elogio: é uma peçazita, sem pretensões e tambem modesta, com alguns defeitos que V. lhe apontou e outros mais passados em claro.
Só com duas afirmações não posso conformar-me:
1ª - V. não acha próprio que o Prior velhote seja um patusco, goste de alimentar a sua intrigazinha e mande sovar o sacristão e outro padecente. Eu entendo-o propriissimo: ministros de Deus tem havido, e dos bons, que nem em outros delegavam o encargo de desancar o proximo, serviço que eles mesmos faziam valentemente a varapau. Já ouviu falar no padre Domingos, de Cabeceiras de Basto, que varria feiras de cacete em punho? Ao pé dêste e de tantos outros o nosso Prior da Mãe Maria é um santo.
2ª - Pareceram-lhe muito inferiores os versos de Antonio Amargo – os versos meus – comparados com os de A Noite de Santo Antonio, outra opereta da mesma trempe, a tal ponto que dir-se-ia não serem do mesmo auctor. Evidentemente, quem anda a lidar com as caprichosas senhoras Musas faz versos melhores ou peores, dependendo o facto dum largo concurso de circunstâncias. E depois... gostos pessoaes não são discutiveis; mas com franqueza – e perdoe o sr. Modesto a minha imodéstia – não dei ainda por tão grande inferioridade, nem compreendo como conseguiu fazer de cór o cotejo dos versos das duas peças, quando eu, o seu auctor, não me atreviria a fazê-lo... sem ler uns e outros antes de escrever a critica. (a) Antonio C. Pinto d’Almeida (O Jornal da Figueira)
Da esquerda para a direita: Raul Martins, Clarice Cordeiro Oliveira, Violinda Medina, Manuel Cordeiro, Jorge Medina e José Silva. Atrás apercebemo-nos de mais figuras, só conseguindo distinguir o da direita, Fernando Reis.

Raul Martins, José Silva e Clarice Cordeiro Oliveira

Adriano Silva e Helena Gomes (?)

Manuel Nogueira e, a espreitar na janela, Manuel Cordeiro

Sociedade de Instrução Tavaredense - 87

No sábado seguinte, 17 de Janeiro, teve lugar o espectáculo de gala.

Programa do espectáculo 'Marcha do Centenário'


Chá de Limonete


O espectáculo foi encenado por Ana Maria Caetano e Ilda Manuela Simões. “A comemorar os cem anos (1904-2004), de intensas e prodigiosas actividades teatrais, recordam-se os seus fundadores e todos os obreiros do teatro da terra do limonete. Enaltece-se na efeméride o inesquecível José da Silva Ribeiro, que desapareceu fisicamente há 16 anos, mas vive na memória de todos quantos ainda se regem pelos ensinamentos, subsistindo a sua escola no trabalho artístico dos actores da Sociedade de Instrução Tavaredense. Diríamos que a arte e o sonho são uma constante neste grupo de jovens e menos jovens que aliam a sua arte à solidariedade, sendo eles próprios a seiva renovadora desta colectividade que se movimenta para o povo e dele terá, sempre, o seu carinho e aplausos merecidos.

A Marcha do Centenário de lotações esgotadas. É sobretudo poesia, através da qual nos é dado conhecer as raízes do povo de Tavarede, a sua simplicidade, o seu trabalho, sua espontaneidade e alegria. Também os trajes complementam o quadro, e a música que gentes simples cantavam, ao compasso da enxada, cavando a terra. No trabalho duro, mas honrado. Mas regista, também, ao longo da sua apresentação alguns confrontos interpretativos do melhor que os actores sabem assumir nos textos que lhes cabem, transmitindo à plateia o que o autor pretende em razão e emoção.

Provou-se nesta Marcha do Centenário não serem necessários os quadros estéticos das cenografias para contagiar as plateias, já que neste espectáculo se revitaliza a cor e a graciosidade, os tons (e o cheiro) da terra, face a uma plateia que ri, e se emociona até às lágrimas, batendo palmas sem fim numa apoteose inesquecível.

Porque se entende, e é necessário entender para sentir a arte e o sonho de um espectáculo riquíssimo de amor às tradições de uma terra que nos ensina a reviver a nobre cultura de gentes que são nossas, porque iguais nas alegrias e tristezas da vida, que caminha sempre para o nada. E neste constante marchar de cada um, saibamos marchar também com as nossas palmas, marcando presença e gratidão no sonho e por forma a vencer os nossos dramas. E de tudo isto, Fernando Romeiro, o anfitrião, nos deu conta, na boca da cena, que foram 15, num ritmo profissionalizado, envolvente, vigoroso e expressivo, convidando a plateia ao espectáculo da Marcha do Centenário, de cena em cena, para rir e pensar, pois então.

Ao palco da vida
Ao palco das emoções,
Cantemos!
Este é o nosso Teatro.
Cem anos de tradição.
Festejemos!
Ao nosso mundo,
Ao nosso sonho.
Brindemos!

O chá da terra do limonete, génio alegre, as árvores morrem de pé, brasão de Tavarede, pote florido nos jardins de Tavarede, os velhos, Maria Parda, na fonte de Tavarede, laranjas de Tavarede, a forja, a mãe do Processo de Jesus, a conspiradora, foguetes na terra do limonete e, por último, o centenário da SIT, em apoteose e com o Coro de Champanhe, a encerrar de forma magnífica pela qualidade dos sons e da movimentação em palco, com o público rendido e feliz de uma noite e uma marcha que nos obriga a voltar à Sociedade de Instrução Tavaredense.
Apoios à produção vieram da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Junta de Freguesia de Tavarede, Escola Profissional da Figueira da Foz e Rancho do Saltadouro”.