sábado, 16 de abril de 2011

ASCENÇÃO E PRIMEIRO DE MAIO

QUINTA FEIRA DE ASCENÇÃO


Pela tradição do costume foram ranchos de pessoas pela fresca manhã de quinta-feira d’Ascenção colher ás cearas raminhos de espigas de trigo e ramadinhas d’oliveira para que o anno corrente seja prospero e feliz. Grupos de raparigas entoavam canções alegres fazendo um maravilhoso conjunto com os seus maviosos trinados dos rouxinoes e d’outros passarinhos que saltitavam nas ramadas das floridas arvores do campo.

Á tarde merendaram muitas pessoas á sombra saudavel de pinheiros e um rancho de raparigas, acompanhado d’um grupo musical, foram ás Caldas d’Amieira, dançando ali e regressando a Tavarede á noitinha. Ao Bussaco tambem foi bastante gente d’aqui. (Gazeta da Figueira)


1º DE MAIO


Sim, minha amiga, póde chamar-lh’o, é um costume feliz da minha terra. Sempre assim foi acolhido aqui o primeiro dia de Maio, entre risos e cantares, na folga d’umas danças vermelhas, junto á fonte d’agua clara da varzea de Tavarede.

...Este uso lindo que tanto a maravilhou e tanto a seduziu, é um velho uso que vem de muito longe. Teria, a minha deliciosa amiga, de volver os olhos para os luminosos tempos do paganismo, se a sua curiosidade irrequieta e nervosa lhe quizesse conhecer a origem. Era-lhe preciso evocar um quieto e calmo canto do socegado Lacio. Seria n’uma azulada paysagem d’ecloga. D’entre arvoredos longos, ver-se-ia surgir a cabeça velha de Pan, seguida da montada madraça de Silêno. Rondas de Nimphas, ligeiras como azas, bailariam dançares de belleza e graça n’algum tranquillo valle. Por bosques de loureiros, em florestas de platanos, por rentes de araucarias e romanzeiras em flôr, olhos vivos de Satyros espreitariam cubiçosos, carnes perfeitas de Deusas confiadas. Faunos, caprinos, hirsutos, cornicabros, pulariam pela macieza dôce dos pomares. E Venus, coroada de rosas, á frente d’uma procissão lasciva e devota da sua côrte suprema viria, ao som lento de citharas d’oiro, proclamar a chegada do Amor e da Primavera...

...Deve ter sido assim o inicial começo d’este costume feliz da minha terra...

E pela conta dos annos, sempre que chegado é o feliz dia d’hontem, se formam n’aquella estrada calma, junto á fonte d’agua clara da varzea, por entre os campos ferteis e humidos de Tavarede, as rodas largas de namorados que a minha excellente amiga encantadamente viu... N’uma viola, em violões floridos e afestoados de fitas, alguem faz vibrar, zangarrear as notas vermelhas e fortes do Vira. Vozes limpidas de raparigas, atiram ao alto, ao vasto ar perfumado a cravos, limpidas cantigas de Amor e Desvario. E no sacudido, no lesto farandoral da dança rubra, enquanto no ar volteiam petalas de rosas e tilintam sonoras risadas de crystal, corpos juntam-se, mãos enclavinham-se, boccas approximam-se, e é assim, - como os seus lindos olhos deslumbrados viram, - que a gente moça da minha terra festeja e acolhe a primeira alvorada de Maio florido, o mez das Rosas e do Amor!

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