sexta-feira, 29 de abril de 2011

O PRIMEIRO DE MAIO DE TAVAREDE


Pote Florido -



P’ra saudar Maio florido,
Tão propício aos namorados,
Vem o cortejo garrido
Com seus potes enfeitados!

E as alegres raparigas,
Contentes com seus amores,
Enchem o ar de cantigas
E do perfume das flores...

E o pote de barro
Tremendo no ar,
Parece bailar
Alegre e bizarro,
Parece brincar
Co’a moça travessa
Que o leva à cabeça,
Feliz, a cantar...

É amanhã o 1º. de Maio. E então as raparigas correm os quintais, vão às leiras ajardinadas, e de toda a parte trazem flores!

Deixando o seu pote enfeitado, a cachopinha foi deitar-se; mas passou a noite em claro, a pensar na alegria da manhã que vai nascer... Ainda escuro, salta da cama, veste a saia ramalhuda e a blusa de rendas, põe na cabeça o cachené lavrado, e pega no cântaro florido, que cheira que consola! Ainda vem longe o dia, mas são horas de ir chamar as mais: - Ó Rosa! Ó Maria José! Ó Joaquina! Vá depressa, raparigas! Daqui a pouco nasce o Maio, e se ele dá com vocês na cama, já sabeis o que vos faz: deixa-vos amarelas todo o ano! Olha, ali vai o Manuel c’o violão... Avia-te, rapaz, que já lá estão os outros... Eia! Aí vem a Laura, mais a Anita, e a Augusta e a Teresa...

Já a música afinou os instrumentos. Potes floridos riem e bailam nas cabeças das raparigas. O ar está cheio de cor e de perfumes. Formou-se o cortejo. Tudo pronto!... Vamos! Vamos! Siga o rancho até à fonte, a cantar e a dançar e a dar a volta à Figueira!... Lá vai! Lá vai o rancho do 1º. de Maio, lá vão os potes floridos da terra do limonete!... (Mutação - Sobre um fundo azul, à luz ainda baça dum alvorecer que apenas se adivinha, mal se destacam os contornos da paisagem. Dois motivos dominam o quadro - uma fonte rústica onde a água não deixou de cantar, e o Sol, emergindo por detrás dos montes distantes. Ouve-se o rancho cantando ao longe a sua marcha tradicional do 1º. de Maio - Só vós ó belas... - enquanto o Sol vai subindo e doirando o ar. As vozes estão já muito perto; distingue-se o toque das rabecas, da flauta e dos violões. Todo o Sol se mostra já, redondo e brilhante, e a fonte está agora em plena luz, - e é quando entra o rancho cantando: - Viva o Maio! Viva o Maio! À frente da tuna o rapaz da pandeireta, depois as raparigas levando à cabeça os potes enfeitados, cada uma com seu rapaz ao lado. O rancho, sempre cantando, deu a volta e seguiu seu caminho, perdendo-se as vozes na distância...)


Espetáculo na SIT - 4.2.2004


Da peça 'Chá de Limonete - 1951 - José da Silva Ribeiro

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