sábado, 8 de outubro de 2011

GRUPO DESPORTIVO E AMIZADE DO SALTADOURO


Revendo-se na obra erguida a pulso de bairrismo, onde esforço, sofrimento, muita carolice e uma indómita determinação serviram de argamassa à realidade que hoje (14 de Março) serviu de ponto de encontro às muitas pessoas que quiseram associar-se ao júbilo da 1ª sessão solene, realizada em casa própria, do Clube Desportivo e Amizade do Saltadouro, Fernando Serra, à frente de um grupo de companheiros de aventura que acreditaram ser possível pôr Saltadouro (Tavarede) no mapa das colectividades concelhias, era bem a imagem de um homem feliz.


É que, após aquela longamente dolorosa e incompreendida odisseia de 20 anos de “barraca clandestina” era reconfortante poder-se gozar a dignidade de um edifício que, apesar de inacabado, lhes permitia, pela primeira vez, comemorar condignamente o 20º aniversário daquele sonho de 11-03-1979.


E com Fernando Serra a saudar os que tornaram possível a obra e a lembrar, emocionado, os que tombaram na caminhada – Albarino Maia ali tinha a cadeira vazia e Adelaide Oliveira o agradecimento pela sua doação à causa – se iniciou esta histórica sessão solene com Padre Matos a dar o abraço de felicitações pelo “dever cumprido” e a exaltar este salutar exemplo de convivência reforçado na vontade de servir.


Também Sérgio Gouveia, servindo-se de Fernando Pessoa para realçar a lição de sacrifício dada por esta gente “que terá de ser compensada e retroactivos” pela grandeza desta obra que não poderá ser ignorada.


Era uma vez 16 amigos que sonharam num clube para o Saltadouro. Dumas tábuas fizeram uma barraquinha e... na clandestinidade dessa iguaria se atreveram a entrar no atletismo com... camisolas ali confeccionadas; unidos pela “sueca” e “matraquilhos” aventuraram-se a uma... marchinha... a “ginástica”... juntaram boas-vontades para uma escola de música... outra para lutar contra o analfabetismo, numa ambição de crescer copiada da rã que queria ser tão grande como o i... que, aqui, não estoirou.


Conseguiram terreno... mãos para abrir alicerces, erguer paredes tijolo a tijolo, regados com o suor dos rostos em sábados e domingos negados ao descanso até que a miragem dum telhado – 1600 contos – se atravessou no sonho, com a Câmara a não acreditar na determinação daquela clandestinidade que pela primeira vez erguia a mão a um subsidio.


Só que tal sonho já estava tão enraizado que não havia obstáculo que pudesse cortar-lhe as raízes e à custa das “migalhas” do Rancho e o bater à porta de todos os vizinhos o tecto apareceu e a obra saiu do anonimato. Para hoje deixar o recado a todos aqueles que a podem ver com os próprios olhos.


Aconteceu “milagre”, disse Fernando Serra.


E foi orador oficial da sessão, Lídio Lopes, a voz que veio enaltecer o exemplo deste punhado de gente que tão bem soube mostrar quanto pode o bairrismo.


Empregando uma metáfora para explicar a determinação dos responsáveis pela obra, Lídio Lopes diria mesmo que “haja quem lhes proporcione as sapatilhas e a pista para correr” e deixem o resto com eles numa alusão muito merecida ao facto de terem contado mais consigo que com a caça a subsídios, prática corrente dos nossos dias, tecla igualmente tocada por Simões Baltazar, o Presidente da Junta de Tavarede, que pôs os seus préstimos à disposição e Alice Mano que viu “na luz de esperança que todos traziam nos olhos o futuro risonho que a obra merece”.


Miguel Almeida, o vereador vindo da Câmara, não foi insensível à obra realizada e na hora de intervir não frustrou as expectativas: saudou a determinação daquela gente, reconheceu o alcance da obra feita e prometeu ajuda para a Escola de Música, Rancho Etnográfico – hoje já embaixador da Figueira – e até uma Extensão Educativa.


E porque a obra merece ser concluída para dar satisfação ao sonho, ali mesmo entregou 1500 contos com a promessa de que no próximo orçamento a obra não será esquecida, gestos saudados com grandes provas de regozijo, com direito a hino do Clube, pela primeira vez tocado/cantado pela Tuna de Tavarede que animou toda a sessão.


E com a actuação (muito aplaudida) do “Rancho Etnográfico Cavadores do Saltadouro” e exibição duma classe de ginástica de Caceira se encerrou a histórica sessão solene, assinalada com foguetes e um grande lanche a todos os presentes.


Valeu a pena tanto esforço!


Viva o Clube Desportivo e Amizade do Saltadouro!



(O Dever - 1999.03.18)

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