sábado, 12 de novembro de 2011

TEATRO DA S.I.T. - NOTAS E CRÍTICAS - 4

1925

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

A opereta Em busca da Lúcia-Lima levou ao teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, no pretérito sábado, mais uma enchente. Foi extraordinária a concorrência, sendo a maior parte da assistência constituida por pessoas da Figueira.


O espectáculo agradou em absoluto, sendo calorosos os aplausos. Poucas vezes uma peça conseguiu em Tavarede o êxito alcançado por esta, despertando um entusiasmo bem significativo e que é o melhor prémio do esfôrço de quantos para êsse êxito contribuiram.


Em busca da Lúcia-Lima é, na verdade, uma linda opereta com tôdas as condições de agrado. O entrecho é interessante e os 1º. e 3º. actos têm boa côr local.


Está escrita com graça, com beleza, aqui e ali com um pitoresco feliz, e o contraste entre a linguagem do 1º. e último actos – passados em Tavarede – e o 2º. – passado na China -, está admiravelmente marcado. Mas há ainda outra coisa que muito valoriza o trabalho do sr. João Gaspar de Lemos ou êle não fôsse, além de um distinto escritor, um inspirado poeta -: os lindos versos com que são cantados os 23 números de música. Não são os versos vulgares, de rimas forçadas e vazios de sentido, geralmente encaixados à força no libreto: são autênticos versos, verdadeiras produções plásticas, com ritmo, com beleza, com alegria e expontaneidade. Citaremos, por exemplo, a romanza da Flôr de Chá, repassada de tristeza e sentimento; a Canção ingleza, tão pitoresca e característica; a lindíssima Canção da Cotovia, versos cheios de melodia, dum lirismo e duma graça ingénua que encantam; as quadras, de esplêndido sabor popular, cantadas pelo côro das lavadeiras; os pitorescos versos do Beijo, no 3º. e do dueto de Capitolina e Pinga-Amor, no 1º. acto...


Juntemos a estas qualidades da peça uma partitura soberba, feliz na inspiração e na beleza da orquestração, com números originais tão perfeitos como apropriada é a adaptação dos coordenados, e teremos a explicação do triunfo em tôda a linha desta opereta que alcançou em Tavarede um êxito até agora não atingido. João Gaspar de Lemos e o distinto amador de música António Simões bem mereceram os aplausos frenéticos com que a assistência os distinguiu.


O desempenho, à parte pequenas deficiências inevitáveis nos melhores grupos de amadores, foi bom, brilhante e perfeito por vezes. Muito bem Idalina Fernandes, representando com distinção, imprimindo ao seu papel a tristeza requerida – pena é que a sua voz pouco extensa não lhe permita dar relêvo aos números de música; Virginia Monteiro, com uma naturalidade admirável na Capitolina; Alzira Fadigas e Emilia Monteiro brilharam na Folha d’hera e na Mariposa; A Graça, Jaime Broeiro e F. Carvalho, confirmaram os seus créditos de bons amadores, como também mereceram aplausos J. Vigário, A Santos e J. Cascão, êste um principiante que promete vir a ser um elemento valioso, pois tem qualidades para isso. E todos os outros souberam contribuir para a harmonia do conjunto. Merece referência especial a desenvoltura e a graça das raparigas no côro das lavadeiras e no côro das Emilias, como é também digno de registo a forma como todos capricharam no vestuário.


A Sociedade de Instrução tem direito aos nossos aplausos pela maneira como pôs em scena a peça, não se poupando a despezas para que o scenário e a indumentária fôssem o que devia ser. A opereta teve uma apresentação brilhante, sendo de efeito deslumbrante o 2º. acto, no qual se exibiu um guarda-roupa a rigor e luxuoso.


Dificilmente se fará melhor em Tavarede, e por isso não nos surpreende o grande número de pedidos para nova representação desta opereta.


À Direcção da SIT e ao seu esplêndido grupo dramático, os nossos sinceros parabéns. (Voz da Justiça – 05.01)

EM BUSCA DA LUCIA LIMA

Por intermedio do nosso colaborador Raymundo Esteves tivémos a honra de ser apresentados ao exmo. sr. João Gaspar de Lemos, distinctissimo poeta e auctor da opereta “Em busca da Lucia Lima” que ultimamente tem sido representada com agrado no teatro da Sociedade d’Instrucção Tavaredense.


Gaspar de Lemos, sem de longe pensar que o estamos entrevistando, vae-nos dando na sua agradabilissima conversação, todos os elementos de que carecemos, apenas um pouco ennublados na parte respeitante ao valor da peça, que segundo outros é bem urdida, mas que a sua modestia, que bem se coaduna com o seu valor, faz ver eivada de erros e que só (expressões suas) a tecnica e boa vontade de José Ribeiro e a explendida musica de Antonio Simões, poderiam salvar.


Descreve-nos a peça. E o assumpto certamente bem tratado é tão curioso, tão interessante, tem tanto theatro, tamanha beleza, que a gente logo vê quanta modestia o auctor tem falando da sua peça do modo ligeiro que o fez.


Começamos então a sentir verdadeiro desgosto por a não termos visto em scena e Gaspar de Lemos dá-nos umas leves esperanças de que ella seja aqui representada em récita de homenagem à Santa Casa da Misericordia, e volta-nos a falar com entusiasmo do valor da musica, da inteligente enscenação, do seu explendido desempenho que representa uma verdadeira consagração para José Ribeiro pelo triunfo obtido d’aquelles rudes e pouco cultos amadores que por única arma de combate para vencer tantas dificuldades, possuem a boa vontade e o grande desejo de progredir.


Que Gaspar de Lemos nos perdoe a traiçãosinha e fique certo de que aguardamos ocasião de podermos satisfazer o desejo de ver na ribalta a sua “Em busca da Lucia Lima”. (Gazeta da Figueira – 05.02)

EM BUSCA DA LUCIA LIMA

Sim, senhores, a cilada foi bem planeada e bem levada a effeito, pondo isto em evidencia que o Raymundo Esteves, o estrategico do ardil, mostra natural vocação para bandoleiro. Não quer isto dizer que o cumplice entrasse subalternamente no caso como Pilatos no Crédo. Mas estão perdoados! Fiquem, porem, certos que ao largar os dois e ao afastar-me do local do sinistro, já no meu espirito eu tinha aprehensões e suspeitas da nefaria trama. E sem laivos de rancor, sem sombras de azedume ou leve ressentimento sequer, dei logo por bem empregado os poucos minutos gastos por nós trez a palrar sobre o assumpto provocador da cilada. Como bem comprehendem, esta deu ensejo a que eu prestasse homenagem bem convictamente ao maestro Antonio Simões, pessoa da minha maior estima, cuja nitida percepção das situações e fino sentimento artistico lhe deram azo a ornar o libretto com deliciosa e cativante musica, e bem assim ao José Ribeiro, admiravel rapaz, que realisou prodigios d’ensinamento na declamação e marcação da peça, manifestando mais uma vez a sua capacidade comprehensiva da techica teatral, não deixando escapar as mais subtis minucias, e tudo isto conjugado com heroica paciencia e uma vontade ferrea que contrariedade alguma conseguiu quebrantar.


Exaro aqui o meu agradecimento sincero pelas boas palavras que me dispensa e que se me afiguram excessivas. Não ignora, é certo, que nas produções literarias d’esta natureza o libretto (enredo e efabulação) constitue quasi um simples pretexto para exhibir musica e indumentaria. Já vê, pois, meu caro Sr. Sobral, que para o exito da opereta Em busca da Lucia Lima e agrado com que nas trez recitas ella foi ouvida, eu contribui com diminuta quota. Longe de mim o proposito de querer adornar-me com vistosas plumas de enfatuado pavão. Desde o primeiro ensaio d’apuro reconheci logo que o valiosissimo concurso dos meus dois amigos e colaboradores evitaria o fracasso da peça. E d’esta vez fui profeta na minha terra. De resto nunca tive pretensões a lançar a publico, já não digo uma obra prima (crédo!) no genero mas qualquer coisa com o fim d’engodar a notoriedade.


Creia-me com muita consideração, seu creado e admirador J. Gaspar de Lemos. (Gazeta da Figueira – 05.09)

EM BUSCA DA LÚCIA-LIMA

No sábado, com grande concorrência, deram os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense a sua anunciada récita em benefício da Santa Casa da Misericórdia, representando a opereta original do nosso conterrâneo sr. João Gaspar de Lemos Amorim, Em busca da Lúcia-Lima, com música original e coordenada pelo distinto amador figueirense sr. António Maria de Oliveira Simões.


Já neste jornal se disse com certa largueza, quando da sua representação em Tavarede, o que era esta opereta, de entrecho simples, com muita côr local, alguns tipos trazidos para o palco com felicidade, e em cujos três actos as brilhantes qualidades de poeta de Gaspar de Lemos se afirmam com pujança. Os versos da Lúcia-Lima fogem ao ramerrão das rimas forçadas, têm sentimento, têm princípio, meio e fim, são espontâneos, ajustam-se perfeitamente à acção da peça e à oportunidade em que são cantados. Os espectadores, fazendo ao autor chamadas calorosas no final do 2º. acto, foram justos. Dessas ovações coube grande quinhão a António Simões, que o público, merecidamente, chamou ao proscénio. António Simões é um distinto amador, com sentimento artístico e com excelentes qualidades de interpretação. A partitura com que faz cantar a opereta Em Busca da Lúcia-Lima é um trabalho de valor. Tem números originais lindíssimos e os coordenados estão perfeitamente adoptados. Não há dúvida: foi um colaborador valiosíssimo de Gaspar de Lemos. A êle se deve, incontestavelmente, uma grande parte do agrado com que a peça tem sido acolhida.


O desempenho deixou bem impressionada a assistência. Trata-se dum grupo de amadores que vivem na aldeia, sem a ilustração e sem os sentimentos que o meio fornece aos amadores da cidade. Não têm também a menor educação musical – e isto é importante. Todavia, reconhecemos a êste grupo um certo valor, e por isso o julgamos com direito a algumas breves observações.


Os primeiros papéis femininos foram entregues a Idalina de Oliveira, que fez com distinção a Flôr de Chá, imprimindo ao personagem a tristeza requerida. É pena que a sua voz seja tão pouco extensa e não lhe permita vencer as dificuldades da parte que lhe coube na partitura, devendo, no entanto, dizer-se que cantou muito bem a romanza do 2º. acto; e a Virginia Monteiro, que nos deu uma Capitolina insinuante, alegre, risonha. Com o tique da menina d’aldeia educada na cidade mas que não pode desmentir o ditado: - o que o berço dá... Jaime Broeiro e António Graça afirmaram-se como amadores distintos e conscienciosos; A. Santos, J. Cascão e A. Silva, são também amadores com qualidades aproveitáveis; J. Vigário foi bem no Mandarim, não parecendo um principiante; e F. Carvalho, que é também um bom elemento, cantou com segurança a sua parte no concertante final do 2º. acto, outro tanto não podendo dizer-se do dueto com Flôr de Chá, que saíu muito incerto. Os outros amadores, em papéis de menor responsabilidade, bem como os coristas, mostraram-se cuidadosos, contribuindo para o agradável conjunto.


Os coros, a duas e três vozes, muito seguros, revelando o trabalho e a paciência de António Simões.


A opereta está posta em scena com rigor de scenários e guarda-roupa. No 1º. acto há um belo fundo representando o Largo da Igreja de Tavarede, sendo também de excelente efeito a vista chinesa do 2º. acto. Rogério Reynaud tem na Lúcia-Lima um magnífico trabalho scenográfico.


Abel Santos, caracterizador, foi igualmente muito feliz. Optimos os tipos do Regedor e de Cosme Papóia.


A assistência manifestou-se calorosamente com palmas nos finais de acto, tendo ainda aplaudido vários números de música.


A impressão deixada por esta récita foi lisonjeira para os amadores tavaredenses, que têm motivos para estar satisfeitos com o seu esfôrço, que foi justamente apreciado.


E merece também os maiores louvores a Sociedade de Instrução Tavaredense, que desta forma quis auxiliar a benemérita instituição que é a Santa Casa da Misericórdia. (Voz da Justiça – 06.16)

EM BUSCA DE LUCIA-LIMA

Primeiro que tudo, - registêmos consoladôramente o triunfo alcançado pelo nosso querido amigo e dedicado colaborador. O espectaculo de sabado, a favor do Hospital, satisfez a quantos. O Parque, não tinha poiso vago. De galerias, balcão, camarotes, frizas, descia uma bicha humana que alastrava pela plateia. E toda a gente, quer pontuando com salvas quentes de palmas, a maior parte dos córos, quer no final do 2º acto aclamando com entusiasmo autores e seus auxiliares, - n’uma chamada ao proscenio vibrante de sinceridade – claramente demonstrou o seu agrado.


N’uma operêta, vulgarmente, há apenas um motivo ligeiro, um fio leve de entrecho, para se fazer ouvir musica. Em busca de Lúcia-Lima, tem mais que isso, tem seu enrêdo, começo, meio, fim, tudo afinado e certo, como é proprio do talento do autor.


Conta-se em duas palavras.


Dois brazileiros, sabem por um jornal, que em Tavarede, se oferece como noiva uma linda rapariga – Lúcia-Lima. Metem-se n’um avião. E surgem no Largo da Igreja da ridente povoação visinha. Por telegrama, o povo sabe da sua chegada. Na receção, um dos aviadores apaixôna-se pela filha do regedôr, prendada rapariga cheia de graça. Pinga-Amor, galo do burgo, não vê com bons olhos que outro lhe requeste aquela a quem quer como ás meninas de seus olhos. E manhosamente faz constar que Lúcia-Lima, abalára para Macau...


Os dois brazileiros, seguem no rastro da que os fizera abalar de longes terras. E vão ao Oriente, tombando por sua desgraça, n’uns arrozaes sagrados. A lei chineza é concisa a tal respeito. São condenados á morte escura. Mas já a filha do Mandarim se rendera d’Amor por um dos brazileiros. Prepara lhes a salvação e a fuga. E vem com eles, no avião possante que os retorna a Tavarede.


Em cinco, seis scenas bem lançadas, desfaz-se o equivoco. O jornal que lhes levára a noticia, era um numero de carnaval. Lúcia-Lima, afinal, é o nome do arbusto aromatico a que sôe de chamar-se limonête. Tavarede é a terra do limonête, por conseguinte a terra de Lúcia-Lima. Desmascara-se o Pinga-Amor. E a peça acaba como tudo o que remata certo, - com o casamento da chinezinha airosa e da provocante filha do regedôr, com os dois simpaticos e endinheirados aviadores...


Vista agora o leitor tudo isto de rendas claras, de graça fina, de versos onde o ritmo cantante do poeta, se espelha como uma aza ligeira na agua clara d’um regato. Empreste-lhe o culto gosto de Antonio Simões, fornecendo-lhe musica viva, saltitante, travessa, achando sempre o motivo proprio para cada recorte do poêma. Bons scenarios. Otimo guarda-roupa. E enscenação primorosa d’esse inteligente môço que é José Ribeiro, - tão profundamente fino e esperto, quanto simpaticamente modesto. E terá um espectaculo brilhante, que sobremaneira honra a Sociedade de Instrução Tavaredense.


Para que se não cuide que olhámos a Lúcia-Lima, pelo oculo d’aumento da nossa estima pelo autor, oiçâmos impressões de quem de direito:


Sr. Rodrigo Galvão, profundo conhecedor de theatro, meteur-en-scéne distintissimo, primoroso diseur:


=Gostei. O librêto é interessante, original e tem finalidade. Musicas felizes. Que assombroso trabalho para conseguir aquilo. E sobretudo, que magnifico motivo de Educação Social...


Sr. Antonio Pereira Correia, - aclamado autor de diversas obras congeneres: Sim, senhor. Agradou-me. Estou satisfeito. Que se podia exigir mais?...


Sr. Luiz Dias Guilhermino, amador dos melhores da Figueira que há longos anos ao theatro dedica o melhor do seu esforço: A peça é bôa. E que fantastico trabalho o de José Ribeiro. Na Figueira, ninguem era capaz de fazer melhor...


E é opinião geral! (Gazeta da Figueira – 06.17)

EM BUSCA DA LUCIA LIMA

Como é meu costume em récitas de amadores, não faltei no sábado passado, no Parque-Cine, para vêr a representação da opereta em 3 actos, Em busca da Lucia Lima, da auctoria do sr. João Gaspar de Lemos Amorim.


A peça não está mal feita e melhor posta em scena, mas nasce dum disparate carnavalesco e quasi todo o seu enredo é um disparate completo.


Não é admissivel, nem mesmo em teatro, que um anuncio carnavalesco publicado num jornal de provincia, trouxesse a Tavarede, e de aeroplano, dois comerciantes brazileiros, que se faziam acompanhar dum muléque, para verem uma mulher que o já referido anuncio dizia ser formosa... Como se no Brazil não houvesse mulheres bonitas...


De aeroplano, só Gago Coutinho e Sacadura Cabral, atravessaram o Atlantico, não em busca duma mulher, mas em demanda de mais uma corôa de gloria para Portugal. Depois, os trez personagens referidos não me deram a impressão de terem chegado de aeroplano. Eduardo Leirosa ( Antonio Santos) entrou em scena vestindo uma imitação de um passe-montaigne, enquanto o seu companheiro Tomás Castanho (João Cascão) vestia um vulgar casaco de inverno e Juca Rabino (Emidio Santos) um fato de brim que se usa quando o calor aperta, como nestes dias. Como diz o nosso povo, preto tambem ser gente, e o desgraçado Juca Rabino, se tivesse vindo de aeroplano do Brazil a Portugal, quando chegasse a Tavarede era já cadaver, e não podia portanto, acompanhar o patrão a Macau, como acompanhou e donde regressou são e salvo, vestindo a mesma farpéla... Que diabo, ao menos vestissem-lhe uma pele de ovelha...


Tambem não é humano nem admissivel que os referidos viajantes fossem prezos em Macau por terem caido em cima do arrozal sagrado. Ainda não há muito tempo que trez aviadores portuguezes foram à mesma provincia, tendo caido dentro dum cemitério, e não consta que tivessem sido prezos por tal delicto. Ainda se podia admitir tal incidente se a acção da peça se passasse há 300 anos atraz, mas os programas dizem que é da actualidade...


E depois, aquele cabo de mar, reformado e rude como todos os cabos de mar, aparece-nos consul de Portugal em Fchin-Fou, (China). Certamente que o auctor da Lucia Lima tem em muito pouca conta a diplomacia portugueza, que apezar de pouco selecionada, ainda não conta em seu seio vulgares cabos de mar...


E para rematar as minhas considerações ácerca da peça devo dizer que era perfeitamente dispensavel a pornografia que a esmalta, que para mais nada serve se não para gaudio da gente ignorante que gosta sempre de ouvir porcarias.


O desempenho. Gostámos, porque os amadores esforçaram-se por bem desempenhar os seus papeis.


Idalina de Oliveira e Virginia Monteiro, andaram bem nos personagens, respectivamente, de Flôr-de-Chá e de Capitolina, em que revelaram um grande à vontade com que se mantiveram até ao fim da peça. Pena é que não tenham voz para bem cantar, porque declamam com sofrivel correcção.


Antonio Santos e João Cascão são dois bons amadores, que muito podem ajudar o grupo de que fazem parte.


Não gostei de José Vigario no Mandarim Chi-Sha-Lá. Emquanto todos os seus familiares e respectivo povo andaram e revelaram gestos como é de uso nos habitantes do Celeste Imperio, ele dava passos de metro e gesticulava largo demais. Deu-me por vezes a impressão de estar a vêr o diabo do Presepe.


Antonio Graça e Jaime Broeiro mostraram-se os bons amadores que são.


A musica. Principío por dar um abraço no Antonio Simões que foi feliz na musica que coordenou e na instrumentação com que a compôs. Só não gostei de ver chinezas a cantar musica regional portugueza, o que não seria admissivel nos habitantes da China, que nem casar querem com gente da Europa, como energicamente foi proclamado pelo soberano Mandarim Chi-Sha-Lá.

Mas á parte este senão, escolheu musica muito bonita, que se ouviu com agrado e soube manter em ordem os córos que por vezes quizeram fugir dela. Bravo, seu maestro!


Para quem vai a minha admiração máxima é para o ensaiador, sr. José Ribeiro. Só quem sabe o que é ensaiar amadores, sejam de que arte forem, é que pode avaliar o trabalhão que ele teve para fazer representar a opereta Em busca de Lucia Lima, como ela foi representada.


Sim senhor, muito bem. Boas marcas e muita ordem na entrada e saida dos diversos personagens. Se tivesse duas mulheres que cantassem bem, e um rapaz que tivesse boa figura e boa voz, o sr. José Ribeiro podia abalançar-se a representar operetas, já não digo de auctores consagrados, mas peças escritas com ordem e que um publico ilustrado ouvisse com agrado, porque tem geito para ensaiar e sabe disciplinar a sua gente.


E são estas as impressões que recolhi da representação da opereta Em busca de Lucia Lima e que transmito ao papel ao correr da pena. (O Figueirense – 06/18)

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