sábado, 7 de julho de 2012

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 11

Meses mais tarde, e prevendo os ataques dos espanhóis, mandou o rei aviso a D. Luís de Almada, capitão mor de Coimbra, recomendando obras de fortificação da praça de Buarcos. D. Luís de Almada. Eu, El-Rei, vos envio muito saudar. Tereis entendido que tenho nomeado para capitão mor da vila de Montemor o Velho, a Gonçalo da Costa Coutinho, que há-de governar as armas dela e dos lugares de seu termo, que forem da Casa de Aveiro, e estão nos Coutos da Universidade de Coimbra, na mesma forma que o faziam os que de antes ocupavam este cargo por nomeação do Duque, porque assim o tenho resoluto, sem que nele tenhais superintendência alguma, com declaração que, sobrevindo algum caso em que convenha juntar-vos com ele, estará à vossa ordem e não em outra maneira.

E Fernão Gomes de Quadros, que está nomeado para capitão mor de Buarcos, estará subordinado a vós, e por ter entendido que aquele porto foi sempre infestado de inimigos e o poderá ser no presente de biscainhos, que têm notícia daquela barra e se poderá resolver facilmente fazendo-se nela duas plataformas em que se possam plantar as peças de artilharia que aí e no lugar da Figueira estão.

Vos encomendo ordeneis se façam com toda a brevidade que pede a necessidade presente, que não serão de muito custo e com os frades de Santa Cruz e a Universidade comunicareis esta obra, para que ajudem a despesa dela e por se meter advertido que são obrigados a ajudar a fortificar esses lugares, por ser conveniente para todos. E espero que no efeito de tudo o que fôr necessário acudir se enxergará sempre vosso grande zelo, prudência e cuidado com que vos aplicais no que convém ao meu serviço, para ter muito que vos agradecer. Escrita em Lisboa 3 de Abril de 1642. El-Rei.

No mesmo dia escrevia El-Rei a Fernão Gomes de Quadros, sobre as ordens da construção dumas plataformas, para a defesa da praça de Buarcos e da barra do Mondego. Fernão Gomes de Quadros. Eu, El-Rei, vos envio muito saudar. Tende entendido que no cargo de capitão mor de Buarcos, de que estais encarregado, ficais subordinado ao capitão mor de Coimbra, D. Luís de Andrade, porque assim o tenho resoluto e que ele vos dê as ordens necessárias para que nesse porto se façam duas plataformas em que se assentem as peças de artilharia que nele e no lugar da Figueira estão, com que se poderá rebater qualquer intento dos inimigos e por haver avisos de que os biscainhos tratam de vir a essa costa e se pode ter deles algum risco, pela notícia que têm desse porto e barra dele.

Vos encomento o cuidado e brevidade desta obra e que procureis acomodar a gente do povo à despesa dela, que não será muita, a que também ajudarão os frades de Santa Cruz e a Universidade de Coimbra, a quem mando lembrar, por via do capitão mor D. Luís de Almada, cujas ordens guardareis também no que mais se oferecer e em tudo tereis muito cuidado e vigilância, como de vós se espera. Escrita em Lisboa, 3 de Abril de 1642.

Com o intuito de defender a praça contra possíveis invasores, Fernão Gomes de Quadros resolveu, por iniciativa própria, escrever para o Couto das Alhadas a seguinte ordem: Por carta de Sua Majestade de 3 do presente, fui avisado de que nestes mares 37 navios grossos de Dunquerque, que podiam dar costado, e que eu o tivesse nestas vilas e nos lugares do meu distrito, provendo neles o que necessário fosse para acudirem a estas vilas com o cuidado que convinha, aviso disto a Vossa Mercê para que prova o facto em que não haja descuido, e no mais tocante aos soldados dessa companhioa esteja tudo disposto de feição, que tendo aviso meu acuda Vossa Mercê com eles a estas vilas, com o cuidado e zelo que de Vossa Mercê se espera, e avise Vossa Mercê ao capitão mor de Montemor para que mande fazer a mesma prevenção na dita vila, e de como Vossa Mercê o há feito me avisará Vossa Mercê, para dar disso conta a Sua Majestade . Tavarede, 8 de Outubro de 1642.

O capitão mor de Montemor-o-Velho, a quem estava subordinado aquele Couto das Alhadas, não gostou da intromissão do fidalgo tavaredense. Resolveu queixar-se ao Conselho de Coimbra e para confirmar a sua queixa, tratou de obter a confirmação daquela ordem. Aqui fica a cópia desta certificação que acompanhou a queixa e que a seguir também transcrevemos: CERTIFICADO - Fernão Gomes de Quadros, morador no Couto de Tavarede, manda que se avise aos capitães do Couto das Alhadas, Domingos Gonçalves e Domingos Cação, que esta mostrassem a mim escrivão, a qual, eu escrivão, vi e li. Gaspar de Lemos escrivão o escrevi.

Diz Fernando Quires, publico tabelião de notas e de auto judicial nesta vila de Montemor o Velho e seus termos, pelo Duque D. Raimundo, senhor desta vila, etc . Certifico e dou fé que a letra do sinal da carta atrás é de Fernão Gomes de Quadros, morador no lugar de Tavarede, termo desta vila, e a letra da certidão ao pé desta carta e sinal é de Gaspar de Lemos, escrivão do lugar das Alhadas, outrossim termo desta dita vila.

E como se vê, da dita certidão consta mandar Fernão Gomes a carta atrás aos capitães das Alhadas que dou fé deste mesmo distrito deste Montemor de que é capitão mor Gonçalo da Costa Coutinho, por provisão de Sua Majestade e a quem os ditos capitães obedecem. E por verdade foi este que assinei. 7 de Outubro de 1642

TESTEMUNHO - Domingos Fernandes Quires e António Ferreira Lobo, tabeliães do público judicial nesta vila de Montemor-o-Velho e seu termo, pelo Duque D. Raimundo, senhor desta vila, etc.. Certificamos e damos fé que por mando de Gonçalo da Costa Coutinho, fidalgo da Casa de Sua Majestade e seu capitão mor nesta vila e termos, coutos da Universidade, bispo conde e cabido e tudo o mais do termo desta vila. Fomos ao Couto de Tavarede, distrito desta vila onde mora Fernão Gomes de Quadros, em 11 deste mês de Outubro e deste ano, para notificarmos por sua parte não alterasse nem excedesse a forma das ordens de Sua Majestade, concedidas a ele capitão mor, em se intrometer ou mandar sobre os capitães do seu distrito e outras notificações tocantes ao serviço de Sua Majestade, como da ordem que para isso constam.

E indo nós ao dito lugar de Tavarede e pousada do dito Fernão Gomes de Quadros, lhe dissemos em sua pessoa nos desse licença para lhe fazermos umas notificações da parte do dito capitão mor. E querendo começar a ler a dita ordem, ele nos respondeu que se levavamos ordem para se lhe dar a dita ordem o prestado e certidão das diligências que lhe havíamos de fazer. Ao que respondemos que não, mas que fazendo petição.

Ao referir que nos mandava lha daríamos, ao que ele respondeu … resolução que por não havíamos de dar logo certidão sem que ele a pedisse ao capitão mor, que lhe não haviamos de fazer notificação alguma. E assim por este modo não consentiu que lhe fizessemos e esta foi sua resolução e com efeito não lha fizemos por nos não obrigarmos digno por não assinarmos o respeito que se deve aos oficiais de justiça, em fé do que passemos a presente ao referido capitão mor deixemos receba esta dita ordem que nos tinha dado. (7 de Outubro de 1642)

A carta queixa acima referida está assim escrita: Senhor: Quer Fernão Gomes de Quadros, capitão mor de Buarcos, subordinado a D. Luiz de Almada, capitão mor de Coimbra, intrometer-se neste distrito que Vossa Majestade me tem encarregado, tomando a jurisdição que não tem e dando ordens aos capitães dele, uma das quais mando com esta a Vossa Majestade, para cujo serviço e acerto dele parece me devia logo e em primeiro lugar dar conta do aviso que diz teve, sem ser pelo meio que tomou para se fazer superintendente no distrito que Vossa Majestade só a mim tem encarregado.

E mais, quando a barra e entrada que esta costa tem, que é a Figueira da Foz, fica nele. E a defesa de Buarcos, que por todas as partes fica cercado deste distrito, se há-de fazer principalmente com a gente dele; é o ânimo e desejo do dito Fernão Gomes em querer mandar neste distrito, em que é morador muito conhecido e muito antigo.

E a seu respeito me disseram tem tido muitas questões com os juizes de fora desta vila, que pelo Duque senhor dela faziam aqui o oficio de capitães mores e parece ainda as quer continuar, do que me pareceu dar conta a Vossa Majestade, que mande nisso o que mais for servido.

Claro que o Conselho de Coimbra, face a tal queixa, fez o que lhe competia: mandou ao rei os documentos para que providenciasse sobre os mesmos.

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