sábado, 18 de agosto de 2012

Quadros - Os Senhores de Tavarede - 17


Foi com este fidalgo que, nos primeiros anos do século dezoito, se iniciou o aforamento de muitas parcelas da Morraceira, para o fabrico do sal. Com o aumento da população também foi necessário alterar os fornos da poia, O facto de os moradores estarem obrigados a cozer nos fornos da Casa, por este sistema de exploração directa, obrigava a que esta suportasse os encargos da exploração e manutenção que, no fundo, eram a justificação dos emolumentos recebidos (A Casa de Tavarede). Na Figueira, em 1717, existiam dois fornos que rendiam anualmente, para a Casa de Tavarede, 60 000 reis. Eram insuficientes e o fidalgo de Tavarede estabeleceu outro, perto da Igreja de S. Julião,

            A necessidade de terrenos para novas construções, levou a Casa de Tavarede a um rápido desmembramento dos terrenos que possuía na zona da foz do Mondego. Todos estes processos – o da exploração de sal na Morraceira e o da divisão dos cerrados da Figueira – mostram que a Casa de Tavarede não ficou de olhos fechados perante o crescimento e progresso daquelas zonas, aproveitando o fenómeno para conseguir maior e mais certo rendimento. Mas, talvez porque se tratou de um processo conduzido por factores económicos gerais, e muito rápido, parece quase certo que os administradores da Casa não se adaptaram a esse aumento de rendimento, presumindo-o constante, o que de alguma forma explicará o descalabro financeiro da administração do morgado seguinte. Diga-se, porém, que a ruína ou riqueza deste tipo de Casas não se pode explicar somente através de comportamentos individuais. Ainda está por analisar, creio eu, a influência da sazonal falta de dinheiro que as pessoas sentiam nessas épocas, fruto quase sempre do calendário agrícola. Considere-se simplesmente que nesses tempos não existiam bancos, recorrendo constantemente as pessoas de todas as classes a empréstimos particulares mais ou menos onerosos, para diversos fins, actos de que são testemunhas ainda silenciosas as escrituras de empréstimos que enxameiam os livros dos tabeliões desses tempos, escreve o Dr. Pedro Quadros Saldanha no seu trabalho ‘A Casa de Tavarede’.

Prossigamos a nossa história. Com o pai deste fidalgo de Tavarede, a sua Casa havia começado a perder influência. O enorme progresso da Figueira da foz do Mondego, devido à sua excelente localização, teve grande influência na Casa de Tavarede. Por um lado, o sal e os cereais produzidos na Morraceira, e a posse da maior parte dos terrenos circundantes da Figueira, que emprazados em parcelas, proporcionaram aos senhores de Tavarede elevados rendimentos, por outro lado perderam a iniciativa dos seus antepassados, desinteressando-se de criarem riqueza e preocupando-se apenas a gozar os rendimentos que, devido a despesas de ostentação e outras do mesmo tempo, deram início ao processo que, anos depois, levaria a Casa praticamente à ruína.

            Adiante veremos os resultados…
             

Fernão Gomes de Quadros e Sousa

7º. Senhor de Tavarede - Morgado

             Eu, Fernão Gomes de Quadros, oitavo senhor de Tavarede…

            Pois é, conforme referi no princípio deste caderno, julgo que Mestre José Ribeiro foi buscar este oitavo à mesma fonte onde eu fui quando descrevi a genealogia dos morgados tavaredenses: aos cadernos do Dr. Mesquita de Figueiredo. Outros autores também terão cometido o mesmo erro

            Na verdade, e como já atrás está referido, houve um dos considerados senhores de Tavarede que não foi empossado com este título, devido a ter falecido em vida de seu pai. Exactamente a mesma situação que encarei quando da instituição do morgadio. Considero que o primeiro morgado de Tavarede terá sido o segundo senhor de Tavarede. É que, quando o rei D. João III validou o pedido da constituição do morgadio feito por António Fernandes de Quadros, já este havia falecido, razão que considero mais que válida para não o considerar como o primeiro morgado. Simples pormenores de um curioso.

            Este Fernão Gomes de Quadros e Sousa, que nascera no período entre 1705/1710, era filho de Pedro Lopes de Quadros e Sousa e de D. Madalena de Mendonça, os quais faleceram, respectivamente, em 29 de Agosto de 1751 e em 18 de Janeiro de 1749. Presume-se, todavia, que tomou a administração da Casa de Tavarede, conjuntamente com seu pai, quando casou por volta de 1730.

            Foi sua esposa D. Beatriz Josefa da Silva e Castro, nascida em Santarém, filha de António Leite Pacheco, tenente de cavalaria e, mais tarde, capitão de-mar-e-guerra, na Índia, para onde tinha ido degredado, e de D. Joana Madalena da Silva. Não deixa de ser curioso este facto: a junção de sangues, um do carácter violento e despótico do fidalgo tavaredense, e a violência assassina de seu sogro. Esta junção terá originado o carácter bestial e sanguinário do primogénito do casal.

            E vou socorrer-me, uma vez mais, do Dr. Pedro Quadros Saldanha e do seu trabalho ‘A Casa de Tavarede’. … se com seu pai começou a reconversão de parte do património da Casa de Tavarede, exigida pelo crescimento populacional da Figueira, durante a administração de Fernão o ritmo da concessão de terrenos foi acelerado. Mas, se com Pedro Lopes de Quadros este processo não trouxe grandes implicações, para além do aumento do rendimento, com o seu filho as consequências foram enormes. Para além da alteração de parte das características económicas da Casa, houve uma radical mudança de atitude na sua administração. Esta forma fácil de obter rendimento, aliada ao crescimento da riqueza nas redondezas, levaram Fernão de Quadros a iniciar um período de dissipação e de gastos excessivos, sem dúvida facilitado pelo seu carácter. Como veremos, este período deixou marcas que se saldaram, para sempre, numa perda de influência…

            O casal teve quatro filhos:
            - Pedro Joaquim Lopes de Quadros e Sousa, que nasceu a 5 de Novembro de 1731;
            - António Leite de Quadros e Sousa, nascido em 16 de Janeiro de 1738;
            - D. Joana Madalena da Silva e Castro, que nasceu em 29 de Julho de 1740; e
            - Joaquim Leite de Quadros, nascido no dia 14 de Agosto de 1742.

            No capítulo seguinte desenvolverei a história dos três filhos primeiros, uma vez que o último morreu ainda criança.

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