sábado, 1 de dezembro de 2012

Teatro da S.I.T. - Notas e Críticas - 56 (fim)


2003.01.30     -     ANIVERSÁRIO DA SIT (O DEVER)

                Integrada nas cmemorações do 99º aniversário da Sociedade de Instrução Tavaredense (SIT) iniciadas em 11 de Janeiro e que tiveram o seu momento alto na Sessão Solene realizada no passado dia 19, acto muito prejudicado pelo mau tempo que afastou muitos ds habituais frequentadores, realizou-se neste último sábado mais uma noite de teatro com a representação das peças “O Velho da Horta” (de Gil Vicente) e “Páginas Arrancadas” (de Luís Francisco Rebello), “duas peças portuguesas distantes no tempo cerca de 500 anos, que nos remetem para dois mundos diferentes, o riso e o choro, o cómico e o trágico lado a lado, o teatro nas suas duas grandes vertentes”, duas escolas de representação, numa demonstração inequívoca de que em Tavarede a arte de representar está preparada para os desafios dos mais evoluidos conceitos do novo teatro.
                Ninguém ignora que Gil Vicente se tornara “pessoa de família” no Teatro de Tavarede onde o saudoso Mestre José Ribeiro o “chamava a palco” sempre que era preciso dar uma lição, genuína, de bem o representar. Desde Violinda Medina, que na “pele” de Maria Parda ganhou jus, a nível nacional, à honrosa distinção de melhor intérprete daquela figura no nosso país, a muitos outros nomes grandes da Escola de Tavarede que serviram de modelo até a grupos profissionais.
                Com este “Velho a Horta” voltou agora ao de cima o virtuosismo herdado da escola de Mestre José Ribeiro com a interpretação superior de Rogério Neves a mostrar-nos um velho à medida de Gil Vicente, genuinamente à século XVI, até na naturalidade do uso das roupagens, gestos e salameques tão característicos da idade média, interpretação modelar só ao alcance de um amador de excepção a um nível que qualquer profissional não enjeitaria. Peça onde os restantes intervenientes mostraram a arte e o talento de emprestar ao enredo o “sal” que contribuiu para o sucesso – traduzido em muitos aplausos da assistência! – deste “O Velho da Horta”, transplantado, com mestria, do original.
                Gil Vicente não poderá estar ausente do centenário, a comemorar no próximo ano, nem a deixar de coabitar o palco centenário por muitos mais anos.
                Preenchendo a 2ª parte do espectáculo, a peça de Luiz Francisco Rebello, “Páginas Arrancadas” é um “psico drama” de outra concepção de teatro, assente num diálogo mais intelectualizado e de aproveitamento político em que os personagens se duplicam num jogo de mudanças de situação em que os meios técnicos assumem um papel fundamental – caso de mudanças de cena através de jogo de luzes, espelhos e transparências, sem necessidade do tradicional descer do pano ou mudanças de cenários, particularidade a exigir muitos conhecimentos técnicos e grande eficiência dos bastidores (palmas para os responsáveis por tão melindrosa operação!) – e sobretudo, a nível de encenação e direcção de cena, pela forma como souberam dar resposta às exigências desta nova metodologia de teatro de vanguarda, um teatro diferente a quem muitos apontam o dedo como responsável pela menor afluência de pessoas ao teatro.
                É por isso que queremos deixar aqui um aceno de muito apreço pela coragem de Ilda Simões e Fernando José Romeiro (encenadora e director de cena) pelo alto risco que correram ao apresentar uma peça de tão difícil “digestão” e a forma meritória como souberam “dar a volta ao texto”. Graças, sem dúvida, ao traquejo invulgar das “três estrelas da companhia” – os consagrados José Medina, Fernando Romeiro e António Barbosa – pela sagacidade como souberam tornear a “intelectualidade” dos textos atribuidos aos Jorge 1, Jorge 2 e Cristóvão, classe que constituíu a chave que “deu a volta” àquele complicado “registo psidodramático”, graças também à preciosa prestação de serviços dos restantes figurantes, com destaque para o “mau da fita” (Toni) a quem coube a “fava” de uma intervenção “chocante” com selo de “palavrão” tão característico do tal teatro de vanguarda mas que ele soube “adoçar” com um bom desempenho.
                Não fôra o talento destes amadores de fina água e talvez esta peça de “risco” não tivesse a aceitação que teve.

2003.01.31     -     TAVAREDE TEM T DE TEATRO (O FIGUEIRENSE)

                Desta vez os amantes de Teatro de Tavarede prepararam, laboriosamente, para apresentar aos que gostam de teatro “O Velho da Horta”, de Gil Vicente, e “Páginas Arrancadas”, de Luís Francisco Rebelo, um nosso contemporâneo. Voltámos a ver com muito gosto esta peça tipicamente vicentina em que os gestos, as momices e as carantonhas superam por vezes o português arcaico falado e agitam a assistência como aconteceu, mas não perturbou o arredondado intérprete do velho hortelão, que já quase dedilha a preceitoo “alaúde” com que a certa altura se “acompanha”, e que foi sempre muito bem secundado pelos colegas e, particularmente, pela enérgica e bem falante que “da vida” a Branca Gil.
                A peça de Luís Francisco Rebelo apresenta-nos algum vanguardismo na cena simples mas criativa, sem o cenário de aspecto tradicional e com um mínimo de adereços, apoiada em alguns efeitos sonoros e luminosos. Começa de forma inesperada e alertante ou chocante para o espectador e leva-nos a um passado não muito distante, que pode ferir algumas sensibilidades conservadoras ou frustradas, mas respeitáveis, recorrendo, uma ou outra vez, em momentos que não nos pareceram despropositados nem excessivos, ao uso de algumas expressões melindrosas, focando um tema que anda na berlinda e que aqui não desvendamos, mas achamos bem retratado e fixador da atenção dos espectadores como nos foi possível constatar.
                Embora não conheçamos o texto, achámos o psicodrama de Francisco Rebelo muito bem montado e bem representado, com mais preocupação na dicção do que nos gestos ou nas marcações, e pareceu-nos também que os artifícios usados com a luz, o sm e os painéis semi-transparentes foram soluções enriquecedoras da peça sem dificultarem a sua compreensão. A terminar, e sem nos metermos em apreciações que envolvam critérios de valor, permitam-nos expressar aqui o nosso agrado – nada mais do que isso – quanto as interpretações de Fernando Romeiro (Jorge 2 / A voz da consciência do personagem principal) e, muito especialmente, a de Valdemar Cruz num Tony muito convicente, ainda que pouco trabalhoso.

2003.04.03     -     PÁGINAS ARRANCADAS (A VOZ DA FIGUEIRA)

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                E logo aconteceu teatro. Os amadores da Sociedade de Instrução Tavaredense subiram ao palco do Testro Trindade (União Futebol de Buarcos) e representaram o psicodrama em um acto “Páginas arrancadas”, autoria de Luís Francisco Rebelo. Esta é a estória de ajuste de contas de um homem com a sua própria consciência. Aos 60 anos, Jorge é confrontado com o próprio “eu” quando tinha 20 anos. O jovem idealista e apaixonado vem pedir-lhe contas pela forma como viveu os últimos 40 anos de vida. Prova-lhe que “não é possível esquecer” o passado. Esta é, também, uma forma de levar o público a pensar no que de bom ou mau tem feito ao longo da vida. E é justamente esta uma das funções do teatro: levar as pessoas a pensar na vida, em todos os seus aspectos, positivos ou negativos.



A seguir:



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