sábado, 12 de janeiro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 5


As primeiras associações (1)

         Com o andar dos anos e com o benefício das novas salas de espectáculos, estou a referir-me ao Teatro do Terreiro, ao Teatro Duque da Saldanha e ao teatrinho Bijou Tavaredense, o Associativismo melhorou, e muito, na terra do limonete. Os tavaredenses compreenderam que beneficiariam imenso unindo esforços e, assim, não tardou a surgirem as associações devidamente organizadas e legalizadas.

         Os amadores das velhas ‘associações dramáticas, uniram-se, como referi, nas novas associações, conforme estas iam surgindo. Entretanto, e no dia 28 de Março de 1893, faleceu, na sua Quinta dos Condados, João José da Costa, grande impulsionador do associativismo em Tavarede. A sua obra, porém, prosseguiu, pois João dos Santos, que era seu procurador e foi, depois do falecimento de D. Emília Duarte da Costa, o herdeiro daquele benemérito tavaredense, adoptivo.


 Estandarte da Estudantina Tavaredense
        
         E no dia 22 de Março de 1893 foi fundada a ‘Estudantina Tavaredense 22 de Março’, a primeira que surgiu na nossa terra, estruturada para desenvolver a actividade associativa. Instalou-se numa das antigas sociedades dramáticas, mas não sabemos em qual. A primeira nota que se encontrou referente a esta associação, em 23 de Abril daquele ano, refere o seguinte: ”O progresso, na sua marcha constante, vai invadindo tudo. Da cidade à vila e desta à mais remota aldeia vão-se observando vestígios da sua passagem. Vêm a pelo estas palavras porque, em Tavarede, pequena povoação perto desta cidade, se está organizando uma estudantina de operários que, nas horas vagas, se entreteem na música, inocentemente, e muito melhor do que gastando o seu tempo em diversões perniciosas. Caminhai, caminhai. Adiante! Assim é que é andar.     Escrevendo assim parece-nos divisar umas caretas de taberneiros ofendidos… que sentem a concorrência dos cobres à gaveta. É assim; tenham paciência”.

         E logo no mês seguinte, 28 de Maio, a tuna teve a sua primeira deslocação. Foi a Montemor-o-Velho, abrilhantar as festas em honra da Senhora do Desterro. “… Atrás deles vinham  também alguns de Tavarede, sendo logo seguidos pela Estudantina Tavaredense 22 de Março, que na melhor ordem e tocando muito harmoniosamente, entrou na dita praça. Parando um bocado neste local ali executou distintamente uma linda valsa e tão afinadinha que conquistou gerais aplausos de todos os circunstantes, que até hoje não têm cessado de admirar como na pequena povoação de Tavarede se organizou uma sociedade assim e que esta, durante o curto prazo de dois mezes, avançasse tanto, pelo que damos ao digno regente as nossas cordeais felicitações. Seguiu depois rua Direita acima na mesma ordem, debandando no largo da igreja dos Anjos, onde se realizou a festa, retirando para a estrada real, defronte do pátio do convento do mesmo nome, onde estiveram em alegre pic-nic à sombra de umas árvores”.

           Também nós, na verdade, nos admiramos do progresso verificado na nossa terra no campo musical. Não esqueçamos que, menos de vinte anos antes, a orquestra dos teatros era composta por uma flauta, um violão e uma viola, e que noutros espectáculos vinham rapazes da Figueira tocar. E logo a seguir foram à Figueira tocar às festas ao Santo António: “O que podem violas e guitarras mostrou-nol-o a Tuna Tavaredense, que nessa noite veio visitar-nos, tocando harmoniosamente aqueles instrumentos e alcançando um verdadeiro successo. Muito bem! E viva a rapaziada de Tavarede!!”.

         Para melhor prosseguir na sua actividade artística, a ‘Estudantina Tavaredense’ resolveu alugar o Teatro Duque de Saldanha, no Palácio dos Condes de Tavarede, onde se estreou em Julho de 1894, com um espectáculo teatral, apresentando as comédias ‘Por um triz’, ‘Creado distraído’, ‘Dois curiosos como há poucos’ e a cena cómica ‘José Galo na cidade’.

         Não podiam deixar de abrilhantar as festas populares na nossa terra. Nem sempre eram totalmente pacíficas mas… “… As moçoilas da aldeia, vermelhas, tisnadas, contentes, acasaladas ou não, lá dançavam espertamente, como se uma noite de estopantes bailações não fosse mais que suficiente para alquebrar o mais vigoroso organismo. Houve também música, p’ra cá e p’ra lá, na rua Direita (por signal que é bem torta, como todas as ruas Direitas), foguetes, e algumas tiranas que eram de se lhe tirar o chapéu. Bordoada, pouca; apenas algumas bolachas e biscoitos ministrados com a maior convicção por um rapazelho cá da freguesia, por sinal que é pedreiro, nas lustrosas bochechas de um pimpão campesino. Resultado: Avaria na cara dum, e fatiota rasgada no corpo do outro. A polícia interveio, prudentemente, prendendo o avariador das bolachas do próximo, mas outro pedreiro interveio também, e duma forma tão habilidosa e louvável que o rapaz filado pelos gatázios do mantenedor da ordem conseguiu esgueirar-se, dirigindo-se a penates, por causa das dúvidas”.

           Em Outubro de 1894 subiram à cena as peças ‘Choro ou rio?’, ‘O creado distraído’, ‘Um filho para três pais’ e novamente a cena cómica ‘José Galo na cidade’. Uma nota diz-nos que “os rapazes foram habilmente ensaiados pelo sr. Manuel Gomes Cruz, estudante da Universidade, e natural daquela povoação, onde tem passado as férias, e a orquestra foi dirigida pelo seu irmão o sr. José Gomes Cruz, também estudante da Universidade, tocando este sr. nos intervalos alguns trechos musicais no bandolim, acompanhado ao violão pelo sr. Gentil Ribeiro, e que lhes mereceram justos aplausos pela correcção com que foram executados”.

Sem comentários:

Enviar um comentário