sábado, 16 de março de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 14


No princípio de Fevereiro, ainda integrada no programa comemorativo do primeiro aniversário, foi levada a efeito uma nova festa dedicada à escola nocturna. Começou a festa pela distribuição de prémios a dez alumnos que mais se distinguiram pelo seu aproveitamento nas aulas nocturnas durante o anno findo. Os premios conferidos constavam de livros instructivos e aos alumnos extremamente pobres foram dados vestuarios. Não podemos descrever a impressão que este acto causou a todos os espectadores especialmente quando foram apresentadas as creanças orphãs e pobresitas. Vimos as lagrimas deslisarem pelas faces de muitas pessoas.
         Findo esta edificante ceremonia, subiu o panno para a exhibição da opereta n’um acto - Casamento da Grã Duqueza - seguindo-se-lhe o terceto - Dó-Ré-Mi -, a scena comica - Desabafos do Zé Leiteiro -, o monologo - O espinho -, e as comedias - Dois estudantes no prego, e Milagre de Santo António. Todas as peças estavam muito bem postas em scena e o desempenho, por parte de todos os amadores, foi magnifico. A musica, composição do sr. João Prôa, é lindissima, muito adequada, e a sua execução pela orchestra regida pelo mesmo senhor, foi magistral.

         Em Março começou a funcionar ‘uma aula de rudimentos de música’ e, também ‘um curso de desenho’. Procurava-se, desta forma, diversificar as actividades da jovem associação, procurando atrair cada vez mais crianças e adultos, a quem ministrar a educação e a instrução.



 Fradique Baptista Loureiro 1º. Presidente da Direcção da SIT

A primeira opereta que o grupo cénico apresentou, em Abril daquele ano, foi muito apreciada. ‘Bom desempenho por parte de todos os amadores (Vida Airada), que conservou os espectadores em constante hilaridade. Orquestra magnífica. A ornamentação da sala produzia belo efeito’.

A actividade teatral iniciava-se em Outubro, quando as noites começavam a serem maiores, com os ensaios das peças que seriam representadas por ocasião do Natal. É curioso o facto de que, sendo os Autos Pastoris uma das tradições mais antigas da nossa terra e cuja apresentação era sempre tão ansiosamente esperada, nunca tenham sido levados à cena pela Sociedade de Instrução. A tradição seria retomada anos mais tarde, mas por outra colectividade, como depois veremos.

Chegados a 1906, foi comemorado em Janeiro o segundo aniversário da associação. Na respectiva assembleia geral, além da eleição dos corpos gerentes, foram aprovadas as contas apresentadas pela direcção. Foi tão rigorosa e honesta a sua administração, que apesar de subirem a mais de 100$000 réis as despesas que fez durante o ano com a instalação aperfeiçoada das aulas, iluminação, etc., apresenta um saldo favorável de 81$000 réis. Não conseguimos encontrar o registo do programa das festas, pelo que se desconhece quais as peças representadas nas récitos realizadas, embora as notícias referenciem ‘bom desempenho por parte de todos os amadores e aplausos em barda’.


     
 Manuel Jorge Cruz
Primeiro presidente da Assembleia Geral e
autor do Regulamento Interno da SIT

          Temos nota de que em Abril de 1906 terá sido representado o primeiro drama por este grupo cénico, com o título de Gaspar, o serralheiro. Por essa ocasião, também começaram a ser ministradas aulas de ginástica. Temos consciência que, nalgumas ocasiões, seremos maçadores. Mas, pelo menos nos primeiros tempos, julgamos conveniente dar a conhecer a actividade da escola nocturna e do grupo cénico, sabendo nós a importância que acabaram por ter no desenvolvimento cultural do povo tavaredense.

         Assim sendo, encontrámos publicada num jornal figueirense, em 9 de Maio de 1906, a notícia de mais uma festa escolar. Sucedeu o que previramos – a festa escolar d’hontem deixou-nos as mais agradaveis impressões. Por volta das cinco horas da tarde saiu da séde da benemerita Sociedade d’Instrução Tavaredense o numeroso cortejo d’alumnos das escolas locaes e levando à frente o seu carro de munições simulando um cabaz, formado de arbustos e flores e respeitosamente guardado por seis destemidos alabardeiros. Fechava o préstito a musica da terra executando um bonito ordinario.
         Chegando à quinta do sr. Luiz João Rosa, ali, na pitoresca mata, acampou o grande exercito de creanças d’ambos os sexos, sob o comando dos seus dignos professores. Foi-lhes servida pelos membros da comissão de beneficencia uma ligeira refeição a que a rapaziada, com grande apetite, soube fazer as honras, sempre em alegre convivio. Era imponente o efeito que produzia aquele irrequieto arraial, de que foi tirada uma fotografia. Anoitecendo, regressou o cortejo ao teatro aonde se ia realisar o sarau, que abriu pelo himno escolar cantado por todos os alumnos. Em seguida, usou da palavra o sr. Manuel Jorge Cruz. Incitou as creanças a dedicarem-se ao estudo, mostrando-lhes as vantagens que d’ahi advem e indicando-lhes o melhor caminho a seguir no futuro, sobretudo pelas responsabilidades que lhes cabem como futuros chefes de familia. Falando àcerca do desenvolvimento da instrução em Tavarede, referiu-se com muita justiça à benemerita Sociedade d’Instrução Tavaredense,  e à ilustre professora oficial a ex.ma srª. D. Amalia de Carvalho, que não só se notabilisa pelas suas belas qualidades de trabalhadora infatigavel em prol da instrução, mas tambem pela maneira carinhosa como trata sem distinções as creanças que frequentam as suas aulas. Terminou aconselhando os paes a mandarem os filhos às escolas. Lidos por alguns alumnos trechos clássicos e recitadas poesias alusivas à festa, foi de novo cantado o himno. Todas as creanças foram muito aplaudidas ao terminarem a leitura dos trechos que lhe couberam e que, àparte o acanhamento próprio de quem se apresenta em auditório tão numeroso, se desempenharam muito bem da sua missão, lendo corrétamente.
         Depois de pelo antigo aluno da aula nóturna e actualmente n’ela professor, sr. Antonio Graça, ser recitada a poesia Escola da Musa da Infancia, que disse muito bem e pelo que ouviu bastos aplausos, apresentaram-se no palco os alunos da escola nóturna que desempenharam com muita precisão alguns exercicios de ginastica suéca. O seu instrutor, sr. João dos Santos Junior, foi delirantemente aplaudido. José Medina representou com muita graça, como de costume, a sena comica – Joaquim Chainça. José Cordeiro Junior recitou com corréção a poesia – Lágrima, de Guerra Junqueiro, terminando o sarau pelo entre-áto comico – Cabo d’ordens, representado por José e Antonio Medina, sendo muito aplaudidos.
         Durante o dia a fachada do edificio do teatro esteve embandeirada. A sala, muito bem ornamentada com arbustos, flores e livros, produzia bonito efeito. O teatro achava-se repléto de espétadores contando-se entre eles as pessoas mais gradas da localidade e a colonia balnear. A orquestra, composta de muitos e bons musicos, satisfez os mais exigentes.

Sem comentários:

Enviar um comentário