sábado, 18 de maio de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 23


 
Alegrias e... tristezas!


         Não hesitamos em considerar como uma década dourada a que decorreu entre os anos de 1921 a 1930. Além do nascer de uma nova colectividade na freguesia e do declínio, depois de dez anos triunfais, de uma outra, veremos uma carreira extraordinária, ainda de uma terceira associação tavaredense, por sinal a mais antiga.

         Certamente que será uma década em que nos teremos de debruçar, talvez mais longamente, mas, sem nenhuma dúvida, o Associativismo viveu, durante este período, anos brilhantes e, também temos que o confessar, anos verdadeiramente dramáticos. Encontraremos de tudo. Êxitos triunfais, novas actividades, jornadas memoráveis e declínios bastante tristes e lamentáveis.

         Mas, prossigamos a nossa viagem. Mais uma vez o ano se iniciou com a representação, pelo Grupo Musical, do drama sacro Auto dos Reis Magos. A Sociedade, entretanto, havia preparado, e apresentou, um excelente programa comemorativo de mais um aniversário da sua fundação, o 17º. Deste programa, fez parte a apresentação de uma nova opereta, A Espadelada, que teve a particularidade de ser representada por crianças.
 




Grupo de crianças
que interpretou
A Espadelada





     Segundo o programa, segue-se a operetta em 1 acto, de costumes regionaes, A Espadelada, interpretada por um grupo de creanças. Assim foi, pois que após um breve intervallo o panno sóbe e a petizada começa de representar a alludida operetta.
         De principio a fim eu admirei todos, absolutamente, desde o protagonista ao simples comparsa. Com franqueza: tenho pena de infelizmente não ter competencia para poder relatar com minuciosidade o que vi. Sei que me custa a crêr que um grupo de amadores com mais annos de pratica na arte de theatro do que os que teem de vida aquelles pequenos actores fosse capazes de representar A Espadelada com tanto escrupulo e d’uma fórma tão correcta como o grupo dos 20 e tantos petizes dos dois sexos que Zé Ribeiro com a sua proverbial paciencia pôz em scena lá em cima na Sociedade de Instrucção.
         O filho mais velho do Jayme Broeiro, o Antonio, faz com tanta naturalidade o papel de Thomaz, que me dá a impressão d’um velho amador, batido. É um galã bom. A irmãsita do Zé Ribeiro, a Maria, marca authenticamente o papel de Tereza. É uma velha que eu estou a vêr e não uma creança dos seus 10 ou 11 annos. O Zé Borrasca cahiu bem no filho do Manél Loureiro, que faz sem dificuldades um velho marinheiro. O Antonio Cordeiro dá muita vida ao Ernesto. É um janota magnifico, como a Maria José, da Helena, uma camponeza authentica. Faz a Joaquina muitissimo bem, revelando para o futuro aptidões aproveitaveis. Está um outro, um piriquito, de ferrinhos em punho, que sem dizer uma palavra faz como sóe de dizer-se um papelão. Não há um só espectador, o mais sizudo, que se não ria a bandeiras despregadas com o rapaz, que ostentando ao canto da bocca um cigarro brégeiro quasi tão grande como elle, acompanha lindamente com a cabeça, com o corpo e com o batuque dos ferrinhos, todos os numeros de musica que se tocam durante o tempo que está em scena! É d’uma graça extraordinaria!
         Emfim, todos os pequenitos, desde o mais taludo ao Gentilito, indubitavelmente o mais liliputiano dos engraçados amadores, houveram se d’uma fórma tão brilhante que não devo cohibir-me de os estreitar n’um cordeal abraço de felicitações, bem como ao seu ensaiador, o amigo Zé Ribeiro, por vêr coroado de bom exito todo o seu esforço, toda a sua muita paciencia, revelados no successo obtido com a representação da Espadelada, por um grupo de gentis creanças, n’um dos theatros da minha aldeia.
        
Naquele tempo, e isto aconteceu durante décadas, os amadores dramáticos tinham actividade praticamente contínua. Não havia férias e logo que uma peça era posta em cena, de imediato se iniciavam os ensaios da seguinte. Só desta forma se pode compreender o enorme número de espectáculos levados a efeito e a diversidade de peças representadas. Mas não era só o teatro, pois, além do ensino nocturno das primeiras letras, também a música tinha aulas constantes, bem como diversas saídas e, naturalmente, muitos ensaios. Quem verificar, por exemplo, a listagem dos espectáculos realizados pela Sociedade de Instrução (cadernos 100 Anos de Teatro), pode constatar a verdade destas nossas palavras. Havia como que uma sede de instruir e de educar. Disso muito beneficiaram os tavaredenses de então. No jornal ‘A Voz da Justiça’, de 5 de Agosto de 1921, encontrámos a seguinte nota: Grupo Musical Carritense – com esta denominação organizou-se no lugar dos Carritos um grupo musical que, a avaliar pela boa vontade dos seus associados, muito poderá prosperar. É o que lhe desejamos. Estava, pois, constituida a terceira associação da freguesia. E dizemos terceira porque não encontrámos mais quaisquer indicações sobre aquela que havia sido fundada no Casal da Robala, pelo que admitimos tenha cessado o seu funcionamento. Registamos o conselho directivo eleito neste jovem Grupo Musical Carritense: presidente, António Jesus; vice-presidente, César Gaspar; secretários, José Joaquim Lemos e António Esteves; tesoureiro, Mário da Silva Jordão. O seu agrupamento musical apresentou-se ao público carritense, pela primeira vez, pelo Natal de 1921.

Como habitualmente, a tuna do Grupo Tavaredense saíu no domingo de Páscoa, em visita de cumprimentos às congéneres, entidades oficiais e sócios. Era seu regente Manuel Martins. Estavamos nós em confraternização quando ouvimos o magnífico som dos violinos, tocados por unhas bem melhores que as nossas. Viemos à porta e ali deparámos com a tuna de Tavarede que também ali ia cumprimentar o Grupo dos Carritos, lê-se numa notícia da Fontela, onde também se tinha deslocado, a cumprimentar a colectividade local, o novel grupo carritense.

Devemos recordar que o grupo cénico da Sociedade de Instrução, depois de ter reposto em cena a opereta Os amores de Mariana, com a qual deu várias representações, deu um espectáculo na sua sede, com esta opereta, em benefício da Santa Casa da Misericórdia da Figueira. Oxalá esta iniciativa fosse seguida pelos grupos dramáticos das outras freguesias do nosso concelho, visto que os infelizes de todo o concelho acodem nos momentos difíceis da doença ao hospital da Misericórdia desta cidade.

A actividade associativa proseguiu sem desfalecimentos. E damos um pequeno salto até à Páscoa de 1923, para informar que a tuna do Grupo Musical Tavaredense que é incontestavelmente uma das mais bem organizadas do nosso concelho, fez as habituais visitas de cumprimentos, sendo então seu regente o tavaredense José Nunes Medina.







Tuna do G. M.I. T. Nos anos 20 do século XX

Em Junho daquele ano as duas colectividades de Tavarede tiveram saídas. A tuna do Grupo foi ao Alqueidão e o grupo cénico da Sociedade foi representar Os amores de Mariana à sede da Filarmónica Figueirense, em espectáculo de benefício para os cofres desta filarmónica. Ambas as saídas foram muito aplaudidas.

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