sábado, 1 de junho de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 25

E também nos parece oportuno recordar que as primeiras festas de arraial com iluminação eléctrica, tiveram lugar nos dias 13, 14 e 15 de Setembro de 1924, no antigo Largo do Forno. Parte da tuna do Grupo Musical executou, num vistoso pavilhão, iluminado a electricidade, um magnífico programa, ao som do qual numerosíssima massa de forasteiros rodopiou alegremente toda a noite de sábado e no domingo, das 19 horas à meia noite.

As obras do Grupo demoraram para além do previsto, pelo que a inauguração teve de ser adiada. Entretanto, a Sociedade de Instrução repõe em cena a opereta Os amores de Mariana, em Outubro daquele mesmo ano.
OIas amores de Mariana - Grupo feminino

Foi uma noite esplêndidamente passada a de anteontem. O teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense teve uma enchente colossal, e a linda opereta Os Amores de Mariana foi mais uma vez ouvida com o maior agrado. Os aplausos foram entusiasticos em todos os finais de acto e nalguns números de música, que tiveram de ser bisados.
         O desempenho bom, mantendo os créditos do nosso festejado grupo de amadores. Helena Figueiredo, a distinta amadora que agora reapareceu no seu antigo papel e que foi acolhida com uma quente ovação e muitas flores, cantou admiravelmente a dificil parte de Mariana. Idalina de Oliveira soube, como sempre, fazer-se aplaudir na Morgada, que interpretou com grande naturalidade e muita graça. António Coelho, o apaixonado Zé Piteira; António Silva, no seu caricatural e tão expressivo Morgado do Freixo; Jaime Broeiro, no sacrista sabichão de latinório; António Graça, insubstituivel no brasileiro Barnabé; António Santos, que fez o janota conquistador; e Francisco Carvalho, com muita naturalidade no Manuel d’Abalada – souberam manter a alegria da peça através dos três actos, devendo dizer-se que os amadores que se incumbiram de papéis secundários ajudaram bem, dando um agradável conjunto. Os coros estiveram afinados e certos, o que poderosamente contribuiu para a boa impressão geral.
         Entre a assistência estavam muitas pessoas da Figueira e Buarcos. No próximo domingo vão os nossos amadores representar esta opereta a Quiaios, no teatro do Grupo Instrução e Recreio onde, estamos certos, Os Amores de Mariana agradarão plenamente.

No espectáculo realizado em Quiaios, o grupo cénico foi alvo de justos aplausos, não só pelo mérito da peça, como pelo desempenho, que foi óptimo. Por sua vez e no dia 1 de Novembro, coube aos amadores do Grupo irem à sede da Filarmónica Figueirense representarem as peças Um erro judicial e a comédia Medicomania. Foi o princípio de uma campanha de angariação de fundos destinados a fazer face ao custo do edifício da sede e das obras ali feitas. Seguiram-se deslocações a Quiaios, Brenha e Maiorca. Os esforços feitos pelo pessoal do teatro e pelos componentes da tuna foram inexcedíveis, mas as receitas obtidas, apesar de terem sempre as lotações esgotadas, não eram grandes, mostrando-se mesmo insuficientes para fazer face aos compromissos assumidos. Por este tempo, a tuna era dirigida pelo professor de música Eduardo Pinto de Almeida.

Entretanto, na Sociedade foi levada à cena uma nova opereta, Noite de S. João, peça de grande responsabilidade, tanto pelo que diz respeito à encenação e à interpretação de alguns papéis, como pelas dificuldades da partitura, que é uma belíssima obra musical, de inspiração felicíssima.
Os amores de Mariana - Grupo dos homens
  
         Igualmente para angariar fundos para o seu cofre, o teatro da Sociedade foi representar à Figueira, ao Parque, a opereta Os amores de Mariana. Aqui reproduzimos a notícia sobre esta deslocação. Um grupo de amadores dramáticos de Tavarêde veio no sábado ultimo ao Parque-Cine dar um espectáculo com uma opereta regional, cuja acção se passa nos arredores de Coimbra, segundo rezam os programas, e por tanto paredes meias com a nossa terra.
Fui assistir com um certo interesse, porque sempre gostei do teatro musicado, principalmente quando a acção se passa em qualquer das nossas províncias, algumas delas tão ricas em motivos para uma boa partitura. Os bons auctores é que vão escasseando. As operetas do Pereira Correia são-me familiares, porque nunca deixei de assistir às suas representações, e apezar de bastante vista, ainda gosto do Barão de Antanholes, que tem musica bonita e bastante movimento de personagens. É uma opereta que vinca sempre em todos os que assistem às suas representações. O que não se dá com Os Amores de Mariana, que é uma opereta inferior e com passagens até pouco decentes, diga-se a verdade.
Do desempenho pouco há a dizer, porque se tirarmos António Coelho, que se mecheu à vontade, e Helena de Figueiredo, que tem geito, nada mais se aproveitou. Pena foi que o primeiro se não tivesse mantido na scena da embriaguez, porque teria sido perfeito e que a segunda tivesse pronunciado um tromento que a meu ver devia ter dito tormento. De resto, tem boa voz e canta com certo gosto. A marcação pareceu-me deficiente. Não percebi que o André, charlatão, surgisse no palco com a massa coral, em lugar de ali aparecer casualmente, o que deu a impressão de que entre ele e os camponios havia o melhor entendimento. Ou não?
Também não compreendi a situação de Ernesto de Melo (António Santos) depois de Mariana (Helena de Figueiredo) lhe ter dado com a tampa ter-se mantido no palco, assistindo à alegria que reinou à volta do Zé Piteira (António Coelho), quando este teve a certeza do amor de Mariana. Julgo que ele devia ter desaparecido, porque havia sido preterido pelo rival. E para terminar com os meus reparos devo dizer que não achei próprio que no coro Brazileiro di água doce, os comparsas, todos dos arrabaldes de Coimbra, quebrassem tão harmonicamente a modinha brazileira. Lá que o Pancracio a exibisse e a massa coral se manifestasse de qualquer maneira própria do seu temperamento e educação, compreendia-se, agora que a secundassem com tanta geiteira é que se tornou reparavel.

Em Tavarede é natural que estes senões não se notem, agora nesta cidade, onde nem sempre agradam os nossos melhores amadores e muitas vezes até artistas de carreira, foi arrojo exibir uma opereta inferior, mesmo muito inferior. A musica, além de cediça, está coordenada muito à ligeira e foi interpretada muito deficientemente. Pena foi que assim sucedesse, porque a orquestra estava bem organisada e apta a executar uma partitura de mais vulto. Mas o fim principal dos amadores tavaredenses foi arranjar dinheiro para o seu cofre, e esse atingiram-no, porque a casa estava quasi cheia, o que devia ter produzido uma boa receita. Felicito-os por tal motivo.

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