sábado, 8 de junho de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 26

Finalmente, as obras de remodelação do Grupo Musical e de Instrução foram concluidas. A propósito, e antes de nos debruçarmos sobre a inauguração, encontrámos uma interessante notícia relativa a esta associação e a instalação eléctrica que, pelos vistos, teve alguns problemas. Esta excelente colectividade local, incontestavelmente uma das mais prosperas do concelho da Figueira da Foz, acaba de passar por importantes melhoramentos. Ou antes, a sua sede acaba de sofrer uma remodelação absolutamente radical e amodernisada.
Aquela casa modesta em que durante tantos anos viveram muitas esperanças, muitas boas-vontades e aspirações, está emfim, transformada no idealisado meio duma plêiade de criaturas que tem por louvável divisa as prosperidades e engrandecimentos da sua terra, pois já ali se pôde expandir mais comodamente e com maior carinho na instrução das letras, da musica e do teatro. Graças a um punhado de sócios mais encorajados que ora constituem o corpo dirigente do Grupo Musical, e ainda ao caprichoso e benemérito sócio sr. Manuel da Silva Jordão - que se não deixou iludir por certos fraldiqueiros que não desejam vida ao Grupo Musical... - graças a esse honrado cavalheiro, de quem era pertença a sede do mesmo, está emfim comprada por alguns milhares de escudos a casa desta florescente colectividade da minha terra.
Um forte amor associativo, aliado a uma inabalável fé nos melhores destinos da associação de que tenho o subido orgulho de ser sócio fundador, imperam neste momento nos corações de todos os seus verdadeiros amigos. E se até hoje ela se tem sabido impor com prestigio e honra - apanágio dos modestos - d'ora avante melhor lhe ha-de acontecer, disso estou absolutamente certo. E quem isto afirma, algumas razões lhe assistem...
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De todos, um dos melhores passos da minha colectividade, foi, indubitavelmente, o da compra da sua sede. Outro, e depois das suas belas obras, o da instalação da luz eléctrica, que é aliás digna de ser apreciada, já pelo que diz respeito a gosto técnico, como pela força numérica de lâmpadas por que é iluminada, numa totalidade de mais de três mil velas. Há, no entanto, que constatar que da requintada má-vontade de uns, e da mesquinha politiquice de outros, a luz eléctrica há mais tempo não está no Grupo Musical. Só foi inaugurada - com todas as formalidades... - do dia 29 do mez de novembro ultimo.
Para assim suceder, porém, houve mosquitos por cordas. Representou-se uma alta comedia, de que foi principal interprete o capricho do gerente da Companhia Eléctrica Figueirense, sr. Manuel Tomás Harrisson, que não teve em consideração os interesses da mesma Companhia e muito menos os do Grupo Musical, para só pôr em prática os seus ódios sectários e os de uma massa anónima de inferiores hipócritas, alguns dos quais, sendo da minha terra, não merecem todavia o epíteto de bons tavaredenses. Explicar o que se ha passado, desde setembro até 29 de dezembro, entre o Grupo Musical e a Companhia Eléctrica, ou antes, entre o Grupo e o sr. Harrisson, seria coisa por demais complicada, senão vergonhosa para tudo e para todos, que nunca para o Grupo Musical.
Trazer a publico os descabidos propósitos do sr. Harrisson, em tudo quanto a isto respeita, é coisa em que me não quero meter, por com a minha pessoa nada se passar, motivo porque dou a palavra a um consócio meu que com aquele senhor tratou de perto o palpitante caso, e que aos leitores deste jornal virá expor os factos, talqualmente foram passados, se a tanto chegar a benevolência do meu amigo sr. Gomes d'Almeida, que também é sócio do Grupo Musical.
No entanto, e como sendo uma das susceptibilidades feridas pelo diploma que menos digna e reflectidamente o sr. Harrisson passou ao Grupo Musical, sempre lhe quero vir dizer que nem sempre se concretisa o tal adagio de que "quem cala consente". O que posso afirmar ao sr. Harrisson é que S.Exª. não andou bem, pois se revelou pessoa pouco tratavel, quando é certo que S. Exª  ocupa uma posição em que se deve impor á consideração do povo da Figueira, de onde é hóspede recente, e principalmente á daquele que o procura para consigo transaccionar.
S.Exa. passando um labéu ofensivo aos sócios do Grupo Musical, talvez nem se lembrasse que ia ferir gravemente o prestigio de muitas dezenas de chefes de família, todos tão dignos que nem sequer lhe quizeram dar a importância de o chamar á responsabilidade, ou a faze-lo engulir, junto da justiça, tão viperinas expressões. Acredite, sr. Harrisson, que V.Exª. deu com isso mais um passo agigantado no caminho da antipatia que vem trilhando na Figueira, caminho esse que facilmente o conduz ao desagrado geral deste povo pacato e trabalhador.
Testemunhando ao sr. director-geral da Companhia Eléctrica os desgostos que a isto me obrigaram, sou a dizer-lhe que Tavarêde, como meio educado, ultrapassou os limites d'aldeia de Paio Pires, onde habitam tanços que se deixam espésinhar por coligidas de companhias eléctricas figueirenses que não são figueirenses nem figueirenses sabem ser...
Nada, Tavarêde vê mais. Muito mais. Tem uma escola onde em pequenino se aprende a ser educado e a respeitar o próximo. E possue, para quando se é homem, duas excelentes associações de recreio e instrução, ambas com bons teatros e com gente sem inércia, gente com vida e aspirações a tudo quanto seja levantar o bom nome deste encantador torrão que pela Natureza foi fadado com ricos e invejáveis predicados...
Já vê, sr. Harrisson, que Tavarêde, e nomeadamente o Grupo Musical e d'Instruçào Tavaredense, é constituído por gente muito menos educada e ilustrada que V.Exª., é certo, mas que nunca seria capaz de cometer o petulante atrevimento de ofender fosse quem fosse, demais nos casos de V.Exª. Tem, pois, a palavra o meu prezado amigo António Victor Guerra, membro da direcção do Grupo Musical Tavaredense, que com o sr. Harrisson tratou o caso que deu motivo a este reparo. A ele cumpre o dever de explicar ao publico figueirense o que é de inteira justiça não ficar no olvido, para estimulo a uma melhor e mais agradável maneira de o sr. gerente da Companhia Eléctrica Figueirense receber os seus clientes.
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Nos próximos sábado, domingo e segunda-feira, terá lugar a inauguração da sede do Grupo, ao mesmo tempo que se comemora o 13°. aniversario, que se não levou a efeito em 17 d'agosto, em virtude de já se haverem encetado as importantes obras a que me referi. No próximo numero publicarei o respectivo programa dos festejos - e que é aliás um programa explendido. Um dos seus melhores números é o de Variedades musico-teatrais, em que brilharão vários guitarristas distinctos, entre os quais se conta o meu amigo Manuel da Cunha Paredes, de Coimbra, que também deliciará os nossos ouvidos com aqueles fadinhos que se cantam em pálidas noites de luar junto aos salgueiraes do poético Mondego.

Creio poder na quinta-feira noticiar também a vinda de um amigo que tenho em Anadia. Cândido José Ferreira é o seu nome e toca violão. Ou por outra, é o que se chama um verdadeiro concertista em violão. Se ele me quizer dar o grande prazer da sua visita, posso afoitamente dizer que o Grupo Musical terá ensejo de apresentar aos seus associados um grande artista português que desprezou uma vocação que consigo nasceu - a sublime Arte de David de Sousa - para exercer a industria de barbeiro em Anadia. Inteligências dispersas. 

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