sábado, 27 de julho de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 33

Também é de referir que as duas colectividades tavaredenses, e muito devido aos correspondentes da imprensa figueirense, viram as suas relações esfriarem um pouco. Não terá sido o despique travado entre os dois grupos teatrais. Ambos tinham elevada categoria, amadores muito conscientes e bons ensaiadores. Mas, e talvez como uma previsão dos acontecimentos políticos que, poucos anos depois, tiveram lugar, serviam-se das colectividades para notícias que, na verdade, não tinham outra finalidade que não defender os ideais políticos deles. E sem dúvida que as duas associações acabaram por sofrer graves problemas, embora alheias a tais lutas.

         Bailes e espectáculos teatrais sucediam-se, tanto nas sedes como fora. No caso dos grupistas o seu esforço era incansável, com a intuito de angariarem receitas. Muitas vezes, porém, o trabalho não era compensado pelos lucros, de quando em quando mesmo prejuízo. Na Sociedade uma nova opereta é posta em cena. O público acorria a estes espectáculos, que o distraia e ‘arregalava a vista’, com cenários vistosos e colorido guarda-roupa. E a música ficava no ouvido, tão agradável ela era. Noite de S. João foi mais um êxito. Foi uma récita magnífica, podendo dizer-se que não será fácil fazer-se aqui melhor, quer pela alta responsabilidade da partitura, quer pela harmonia do conjunto que agora pudemos apreciar e que não é possível ultrapassar - num grupo de amadores de aldeia, bem entendido.

Em Maio de 1926, foi a Sociedade que procedeu a melhoramentos na sua sede. A sede da Sociedade de Instrução Tavaredense vai sofrer grandes transformações. As obras começaram já, devendo ficar concluidas durante o próximo mês de Maio, para o que os trabalhos prosseguirão com a maior actividade.O átrio de entrada para a sala de espectáculos é completamente transformado, ficando mais amplo e o pavimento nivelado. A antiga e perigosa escada para o 1º andar, é substituida por uma outra mais ampla, cómoda e elegante, em dois lances perpendiculares. O salão do 1º andar, por onde se fazia a comunicação com o palco, fica agora isolado, abrindo para um corredor por uma larga porta envidraçada. Ali se estabelecerá um confortável e decente gabinete de leitura.
         No rés-do-chão fica uma grande sala para recreio dos sócios e bufete, tudo instalado convenientemente. No 2º andar, que ficará em comunicação com as dependências do palco, far-se hão amplos camarins. Na sala de espectáculos é completamente transformada a superior, onde vai construir-se um balcão, em anfiteatro, que será mobilado com cómodos fauteuils que foram mandados fazer propositadamente para aqui.
         Estes importantes melhoramentos vêm beneficiar muitíssimo a sede da Sociedade de Instrução Tavaredense, que ficará assim com tôdas as dependências necessárias a uma boa instalação: escola, sala de leitura, sala de recreio dos sócios e bufete, gabinete da direcção e arquivo; e, para a secção teatral, uma cómoda sala de espectáculos, gabinete de caracterização e camarins no 1º e 2º andares. A direcção, que tomou a iniciativa das obras, está empregando todos os esforços para que estes importantes melhoramentos sejam inaugurados em Junho, com uma grande festa. Por isso mesmo ninguém lhe regateia merecidos louvores.

         Uma nova saída levou o grupo dramático do Grupo Musical e a sua tuna até Santo Varão. Eis a reportagem. Uma parte da secção dramática do próspero e florescente Grupo Musical e de Instrução Tavaredense foi no pretérito domingo a Santo Varão, suburbios de Formoselha, realizar um espectáculo com as conhecidas peças do seu vasto repertório - Erro Judicial e Cada Doido...
         Da representação das peças devo dizer, em abono da verdade, que se salientaram os amadores António Medina, José Medina, José Silva, etc., não esquecendo o soberbo trabalho do seu ensaiador, o nosso amigo António Medina Júnior e de sua irmã D. Violinda Medina e Silva, que mais uma vez receberam d’uma plateia fina e delicada, aplausos particulares e sinceros, de que, aliaz, são bem dignos, pois nada mais do que eles fazem se pode exigir a amadores de teatro. Que nos desculpem ferir-lhes a sua modéstia, mas isto é a verdade.
         Uma orquestra do mesmo Grupo, sob a direcção de António Ferreira Jerónimo, elemento distinto do mesmo, abrilhantou o espectáculo, ouvindo-se fortes aplausos.
         Isto é o menos para a minha pretenção. Agora, o mais, o que não pode nem deve ficar no tinteiro, é a expressão sincera dos meus parabéns ao povo de Santo Varão, pela forma bizarramente bela e acolhedora com que recebeu os rapazes de Tavarede.
         Sim, senhores!
         Assim é que se chama fazer estreitamento de amizades. Assim é que se chama receber bem um hóspede. Enfim: a isto é que se chama a verdadeira confraternização de povos.
         Há tempos deu-se a verdadeira antítese numa outra terra onde o Grupo também foi, para o mesmo fim, terra essa que é o berço de dois dos principais elementos do mesmo grupo...
         E esses elementos - devo frizá-lo - são geralmente estimados nessa terra...
         Mas... cada terra com seu uso e...
                                               * * * * *
         Logo de manhã, os amigos António Ferreira Jerónimo e José Silva conseguiram, da benevolência de Manuel Martinho Júnior, o empréstimo do seu barco, no qual “navegaram”, além destes, Manuel Fé Varela, António Ferreira, António Ferreira Menano e Francisco José Ferreira Menano Júnior, que conseguiram pescar na enorme vala que vae desaguar no rio Mondego, entre Santo Varão e Formoselha, incontestavelmente um dos pontos mais belos do lugar, uma suculenta dose de peixe, da qual foi feita uma caldeirada para os Tavaredenses, pelo sr. Luiz Fé Varela, que é autentico culinário no género.
         Promoveram-se vários passeios fluviaes na poética vala, passeios esses que ficarão bem gravados no mais recondido de todos os rapazes de Tavarede, que não havia maneira de sairem dos barquinhos frágeis que com eles deslizaram dôcemente sobre a quietude das aguas, onde se reflectiam os esguios choupos e os frondosos salgueiros, que proporcionavam agradáveis túneis de verdura onde se gozava a frescura d’uma sombra agradabilissima e benéfica...
         Os rouxinois, os pintassilgos, os melros e tantos outros passarinhos, que tinham escondido seus ninhos nas hastes ramalhudas das arvores que ladeiam a fresca vala onde se realizou o passeio fluvial, timbram em seus gorgeios despreocupados e alegres, regalando-nos os ouvidos e enebriando-nos a alma...
         Quem pudesse traduzir por palavras aquilo que de agradável e poético nos foi dado gosar em Santo Varão...
         Muitos Tavaredenses, como Medina Júnior, João d’Oliveira, Adriano e José Silva, José M. Gomes, Manuel Nogueira e Silva, Pedro e Jorge Medina, Manuel Cordeiro, etc., etc., não esquecendo as srªs. D.D. Guilhermina Cordeiro, Violinda Medina e Silva, Emília Pedrosa Medina, Laura Ramos Ferreira, etc., etc., só abandonaram a “flotilha” quando a noite começou por lançar seu manto nêgro sôbre os sanguíneos raios de sol de um dia que tombava, depois de imensa felicidade espiritual para quem, como os tavaredenses, sabe gozar um pouco das belêsas naturaes, com que a natureza fadou a terra!
         Amigo Medina Junior, em pleno palco, fez os protestos dos inolvidaveis agradecimentos do Grupo Musical ao povo de Santo Varão.
         Está certo. Isso foi oficialmente.
         Agora particular e publicamente, desejo eu fazê-lo, em nome de todos os tavaredenses, agradecendo mais uma vez aos cavalheiros que gentilmente cederam os barquinhos para aqueles passeios que ultrapassaram o belo e o agradavel!
         São momentos de intensa felicidade e alegria...
         São dos melhores bocadinhos que se passam neste mundo...
Obrigado, pois, por mim e por todos.

         Foi mais uma ajuda para os seus cofres. Entretanto, e com a colaboração do Grupo Musical, que lhes cedeu instalações para a sua sede, no dia 3 de Outubro de 1926, um grupo desportivo festejou o seu primeiro aniversário. Chamava-se Sportsinhos Foot-ball Club, cuja principal actividade desportiva era o futebol, chegando  a disputar o campeonato regional de terceira categoria. Foi seu fundador José Maria Cordeiro, vulgarmente conhecido por Zé Neto, que conseguiu obter a colaboração de um jornal desportivo da época, o qual lhes forneceu o equipamento.

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