sábado, 28 de dezembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonerte - 55

       Segundo está referido numa acta da Direcção do Grupo Musical de Fevereiro de 1941, pagaram a renda deste ano no montante de 740$00. O senhorio ofereceu a quantia de 50$00 e, na mesma acta, diz-se nesta altura não se deve nada a ninguém. Já estavam bem distantes os tempos difíceis. Em grande parte, esta situação era devida à colaboração do Lúcia-Lima-Jazz, que actuava gratuitamente em todas as festas realizadas na sede. Também a verba de 566$50, liquida da representação do Presépio, contribuiu para isso, pois foi uma iniciativa que nos deu muito trabalho é certo, mas que veio desafogar a situação em que nos encontrávamos e que hoje, felizmente, já conseguimos resolver.

         Nas nossas buscas na imprensa, encontrámos uma notícia que julgamos seja relativa à primeira deslocação da orquestra privativa do Grupo. O “Lucia Lima Jazz” deslocou-se a esta cidade, no passado domingo, afim de abrilhantar o Baile de Gala comemorativo do aniversario do Grupo Columbofilo Mondego. O homogeneo agrupamento musical, foi aplaudidissimo pela numerosa assistencia, que assistiu à referida diversão.
         É-nos grato constatar que, apesar da malévola propaganda que certos “musicos” andam tecendo à sua volta a rapaziada continua a marcar... dentro dos seus limitados conhecimentos. Ainda bem. O mesmo agrupamento acaba de receber um honroso convite, para se deslocar à visinha povoação de Lavos, em principios de Fevereiro proximo.

         O teatro da Sociedade continuava com a sua extraordinária carreira beneficente. Sucediam-se os espectáculos, com esta finalidade, na Figueira, Coimbra, Tomar, etc. A sua escola nocturna, que funcionou ininterruptamente até ao ano de 1941, foi encerrada, devido à impossibilidade de dar cumprimento a novas disposições legais, que obrigavam à contratação de professores profissionais para as suas aulas. A propósito da actividade desta escola nocturna, não podemos deixar de aqui copiar um apontamento inserido no livro editado pelas Bodas de Oiro da SIT, por Mestre José Ribeiro. Escrevemos estas notas e vemos surgir diante de nós a figura de António da Silva Broeiro. Estamos a ouvi-lo naquela sessão solene em que, pouco antes de morrer, a todos surpreendeu e comoveu com a sua expontânea e impressionante confissão. Apresentava-se como produto da Sociedade de Instrução Tavaredense: Eu sou, dizia ele, o que a Sociedade de Instrução Tavaredense de mim fez. Devo-lhe tudo. Comecei lá em baixo, na escola da noite, onde me ensinaram a ler, escrever e contar. Só à noite podia ir à escola: teria ficado analfabeto se não fosse a escola nocturna. Depois trouxeram-me para o teatro (e recordava o nome de João dos Santos), ensinaram-me a compreender o que lia, ensinaram-me a falar, a conversar, a ouvir. Aqui fui instruído e educado. Recebi lições, aprendi coisas, tive ensinamentos, fixei exemplos que me serviram pela vida fora. A acção da Sociedade de Instrução Tavaredense exemplifico-a em mim próprio.

                                   António da Silva Broeiro

         Já dissemos anteriormente que, por ocasião do Natal, os antigos amadores do Grupo apresentaram, novamente no palco da SIT, o Presépio. Neste ano o lucro foi ligeiramente superior, pois o mesmo teve o valor de 643$75. A propósito, comemorou-se o segundo aniversário do Lúcia-Lima-Jazz. No Grupo Musical, festejou-se no passado domingo, o 2º. aniversário do “Lúcia Lima Jazz”, agrupamento que se vai impondo dia a dia, mercê do esforço e dedicação dos seus componentes e da activa e inteligente direcção do seu ensaiador, sr. José Nunes Medina. Fundado há dois anos, embora com grandes sacrificios para que, com a sua desinteressada cooperação, minorar um pouco a sua situação precária em que se debatia o Grupo Musical, e para que, uma vez extinta a tuna tavaredense, de tão gratas recordações, se não extinguisse de vez a razão de ser da colectividade - a música -, esse punhado de tavaredenses bem mereceu a singela homenagem que a Direcção do Grupo Musical lhes prestou num dos intervalos da matinée, em reconhecimento aos inestimáveis serviços prestados à colectividade.
         Depois da sua actuação de domingo, em que executaram um programa completamente novo, ficou-nos esta consoladora certeza: - o “Lúcia Lima Jazz, já pode, sem desonra, enfileirar ao lado, não digamos, das melhores, mas das boas orquestras do concelho, com o que nos congratulamos. O salão de festas, lindamente decorado, apresentava um aspecto interessante, tendo a matinée registado elevada concorrência apesar da tarde invernosa que se fez sentir. Nesta festa foi descerrada a fotografia que inserimos na abertura deste capítulo.

         Uma das novas localidades visitadas pelo teatro figueirense foi Pampilhosa do Botão. A demora com que “A Ideia Livre” teve de sair, permitiu ao editor deste jornal traçar ainda umas ligeiras linhas de apreciação à récita que o Grupo Cénico da “Sociedade de Instrução Tavaredense” foi dar à Pampilhosa.
         O êxito não podia ser maior: casa cheia, à cunha, e uma representação que enlevou toda a assistência.
         O Grupo é homogénio, completo, perfeito. Há valores que sobressaiem, mas quási sem se dar por isso, tal o equilíbrio, o aprumo, a unidade do conjunto – em que o amadorismo se ultrapassa para nos apresentar verdadeiros artistas, sem exagero de expressão.
         A maneira correctíssima de representar, a dicção perfeita, com inflexões, que muitos profissionais invejariam, o desenho das figuras e os pormenores de expressão com que valorisam cada cena, são atributos, repita-se, de verdadeiros artistas – numa unidade de conjunto que o talento de José Ribeiro, ensaiando e dirigindo, eleva a invejável altura.
         A peça é linda, encantadora, com belos conceitos e sã doutrina. Apresenta-nos o conflito entre a vida triste, dogmática, íamos a dizer conventual, e a alegria moça, vibrante, de quem vê a Natureza com óculos de cristal e tira da vida, cheia de simplicidade e de candura, o partido mais saudável. Lá se diz: “Se a vida tem um lado bom e um lado mau, porque não havemos de aproveitar o bom?”.
         E é um hino à vida, que não há-de sempre ser má, porque nós tambem a podemos tornar agradável. “Alegremo-nos de ter nascido!” – conclui a peça.
         E, ao sair do Teatro, sente-se a gente feliz por viver – embora vivendo num mundo revolto, cujo aspecto mau também há-de passar…
         No intervalo do 2º acto, o Presidente da “Comissão de Assistência”, Firmino Brito da Costa, colocou no estandarte da “Sociedade de Instrução Tavaredense” umas fitas com a legenda: “Honra ao mérito e ao desinteresse”, oferta da mesma “Comissão de Assistência” como reconhecimento do beneficio que recebeu. Uma criança das que são alimentadas na casa daquela instituição, fez entrega dum ramo de flores ao director do Grupo, José Ribeiro.
         Firmino Brito da Costa, em breves mas expressivas palavras, agradeceu o beneficio e fez o elogio do Grupo Cénico, espelho do seu director – disse – homem duma só face, duma peça inteiriça…
         José Ribeiro agradeceu a lembrança das fitas e do ramo de flores. E, com eloquência admirável, como ele sabe ter, expraiou-se sobre o paradoxo que resulta do tema da peça e do momento actual, - peça que ergue um hino à alegria de viver quando pelo mundo vai um turbilhão de metralha e correm rios de sangue. Pois apesar de tudo – disse – “alegremo-nos de ter nascido!” – porque a convulsão há-de passar e a Humanidade caminhará melhorando a vida.
         A peça começou à hora certa e acabou também a boa hora. O público saiu satisfeito, desejoso de mais. E, como se tinha dito, a récita proporcionou a todos uma verdadeira noite de arte.

         Abrilhantou o espectáculo um grupo da “Orquestra Pampilhosa”, que neste dia, e por gentileza para com os directores da “Comissão de Assistência”, e para com o habitual regente, Joaquim Pleno, foi regida por José d’Oliveira, do Troviscal, fazendo-se aplaudir em alguns números. 

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