sábado, 21 de dezembro de 2013

O Associativismo na Terra do Limonete - 54

       Entre Giestas

   O reportório seguiu com nova peça O grande industrial. “Casa completamente cheia, - e um ambiente de interêsse a retratar-se nos rostos que, nestas coisas de teatro, sabem separar o trigo do joio: interêsse muito justificado, por que do “Le Maitre de Lorges”, do consagrado e popularíssimo romancista Georges Ohnet, só se poderia extraír uma peça de grandes responsabilidades cénicas, passado num ambiente de aristocracia, e o grupo de amadores dramáticos da Sociedade de Instrução Tavaredense é constituído, na sua maior parte, por gente do campo, por gente do trabalho – dos campos e das oficinas.
         Como é que gente tão modesta e tão humilde poderia dar-nos uma Marquesa de Beaulieu, uma Baroneza de Préfont, um Duque de Bligny e um Barão de Préfont, sem essa “gaucherie” que é sempre ridícula?

         Pois deu – e deu-nos muito bem a interessante peça, cujos quatro actos foram belamente aproveitados por Ilda Stichini, e cuja interpretação, por parte de alguns dos amadores – num conjunto muito harmónico -, foi além da nossa espectativa: se bem que, pelo que temos visto fazer a tão distinto grupo cénico noutras peças de grande responsabilidade, fôssemos dos espectadores que mais convencidos estavam, dum bom êxito.
         Como se operarão milagres assim?, qual o segrêdo dessa alquimia que transforma, no palco, à luz da ribalta, um iletrado, um humilde operário ou um trabalhador da gleba, num artista da cena  que muitos artistas, consagrados profissionais, não deixarão de ter inveja?
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         Se é certo que tudo aquilo que nós temos visto fazer ao grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, na interpretação de “O Grande Industrial”, do “Sonho do Cavador”, etc., é o resultado das competências seleccionadas, para a obtenção dum tão brilhante conjunto……
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         Lição, bem eloquente, do muitíssimo que pode conseguir-se, dispondo de boas vontades e de competências – é o que se aprende com êste muito distinto grupo de amadores dramáticos; e as boas-vontades criam-se subordinando os espíritos e disciplinando-os, e as competências, procurando-as, também, na massa anónima, como entre gangas lamacentas se procuram diamantes.
         Onde foram buscar António Pedro e muitos outros dos nossos maiores artistas de cena?

         Um apontamento, recolhido num jornal de Coimbra, em Maio de 1937, comentando a representação naquela cidade da peça Os fidalgos da Casa Mourisca, pela Companhia Berta Bivar – Alves da Cunha, não podia deixar-nos indiferentes. ... Mas sobre o desempenho, se nos sobrasse o espaço, teríamos de gastar soma larga de considerações, tanta tristeza nos produziu a figura genial de Alves da Cunha, encravada num conjunto que veio aumentar largamente, por todos os motivos, os créditos justos que entre nós disfruta o grupo de amadores de Tavarede. É bastante positivo para a categoria atingida pelos nossos amadores teatrais.
  
         Ainda vamos referir as peças Entre Giestas, Génio Alegre, Recompensa e Envelhecer, com as quais, durante os últimos anos desta década, realizaram diversas saídas e muitos espectáculos.
                                        

                                                                       Génio Alegre

         Pelo Grupo Musical, em Janeiro de 1939, pediu a demissão de regente da tuna José Francisco da Silva, tendo sido convidado para o substituir Carlos Rodrigues dos Santos. E em Maio daquele ano, reatando um velho costume, a tuna deslocou-se ao Buçaco, no dia de Ascenção, numa deslocação organizada pela Direcção e oferecida aos componentes da tuna. Colhemos a informação de que a despesa, com esta iniciativa, foi de 231$85 e a de que foi esta a última actuação deste agrupamento musical.

         Como os conjuntos para abrilhantar as festas dançantes já eram algo onerosos, tentou o Grupo organizar um conjunto privativo. Teve o título de Os Refinados, mas não vingou. E no dia 13 de Abril de 1940, fez a sua estreia um novo conjunto, o Lúcia – Lima – Jazz. Desta vez obtiveram sucesso. Durante várias décadas, este grupo musical alcançou excelente reputação. E a década acabou com o recordar de uma velhissima tradição. O Grupo Musical, uma vez mais pediu a sede da Sociedade e ali fez representar, com a participação de alguns dos seus antigos amadores, o Presépio. Foi um triunfo, que acabou por ser repetido no ano seguinte.
  







 A última saída da tuna do Grupo Musical e de Instrução Tavaredense







Lúcia Lima Jazz - 1941

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