sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 61

Não se representa melhor do que eles representaram, principalmente João Cascão, que do primeiro ao último acto, tem um trabalho de maior relevo e de pura sensibilidade artística, pois ele não resiste em chorar – mas em a chorar a sério – o que sente e faz transmitir a todos os espectadores.
         O mesmo acontece a Violinda Medina, que com um papel de grande intensidade dramática, diz-nos muito, quási sem falar. O seu jogo fisionómico e cénico é belo e tem arte.
         Não podemos deixar de destacar também Maria Tereza de Oliveira, a Mamette, que muito bem representou o seu papel assim como António Jorge da Silva, o Parjolier, Otília Medina, etc.
         Os restantes personagens, todos no seu lugar e à altura dos seus papéis.
         Os cenários, de Rogério Reynaud, são bonitos e de elevado cunho artístico.
         A encenação e ensaios de José Ribeiro confirmam em absoluto o conceito por nós formado na peça “Horizonte”.
* * *
         Devido à iniciativa de António Medina Júnior, nosso muito querido director e desinteressado propagandista da nossa terra, que já muito lhe deve, veio há dias a Sintra o brilhante grupo dramático de Tavarede merecidamente considerado o melhor elenco artístico de amadores do País.
         Foi uma iniciativa feliz e arriscada, mas que muito contribuiu para a propaganda turística do concelho, pois foi esse – estamos certos – a principal objectividade de Medina Júnior, embora tenha sido nado e criado em Tavarede, risonha aldeia do concelho da Figueira da Foz, onde existe como um dom do povo, excepcional predilecção pela cultura das letras, do teatro e da música.
         Sim, de facto foi uma iniciativa feliz e de grande alcance turístico e artístico, o que não pode passar sem que “Jornal de Sintra” o registe.
         O grupo dramático da Sociedade de Instrução Tavaredense actuou no elegante e confortável teatro da Banda de Colares, perante uma das mais selectas assistências, deixando os artistas as melhores impressões sobre o seu insofismável valor.
         Antes de se iniciar o espectáculo do dia 29, o nosso director subiu ao palco e fez um improviso feliz e cheio de verdades de apresentação dos seus conterrâneos, pelo que o público lhe tributou uma calorosa salva de palmas, que bem sintetizavam o apreço com que eram tidas as suas palavras e a sua iniciativa.
         Em nome do grupo de Tavarede falou o sr. José Ribeiro, seu ilustre director, a quem já nos ligam laços de amizade e princípios ideológicos, que começou por agradecer o carinho com que todo o grupo fora recebido pelos habitantes da mais linda terra de Portugal.
         Historiou, depois, duma maneira profunda, segura e eloquente, a vida do teatro, desde o passado ao presente, pondo em significante relevo a sua influência na preparação moral e intelectual dos povos.
         José Ribeiro, cujo discurso improvisado redundou numa autêntica e brilhante conferência, em que revelou a sua superior cultura e requintados dotes de oratória, foi no final delirante e prolongadamente ovacionado pela assistência.
         Terminado o primeiro espectáculo, a direcção da Banda de Colares, por intermédio de Carlos da Luz, ofereceu uma interessante e valiosa placa artística, que marcará a passagem do grupo dramático de Tavarede por Colares e Sintra.
         Essa linda oferta, em pau santo contendo o brazão da vila de Colares e uma grande folha de parra em prata, com sincera dedicatória, consubstanciava a simpatia, a amisade e a gratidão, para sempre, da Banda de Colares pela Sociedade de Instrução Tavaredense.
         No segundo espectáculo, que registou uma concorrência sem precedentes em quantidade e qualidade, Eduardo Fructuoso Gaio, sintrense por nascimento e sentimento, no final de A Nossa Casa foi ao palco e em seu nome e de todo o povo de Colares, agradeceu ao grupo de Tavarede a grande demonstração de pura arte de representar que a todos foi dado ver e apreciar, garantindo que estava na presença, não de amadores, mas sim de artistas da mais elevada categoria.
         Pelo povo da região de Colares, Eduardo Gaio abraçou efusivamente José Ribeiro.
         Falaram, ainda, os srs. Carlos da Luz e Miguel de Castro Reis, que, com Joaquim Borges, representavam a direcção da Banda de Colares.
         Por último, falou José Ribeiro, que em seu nome e no de todo o elenco tavaredense, agradeceu as boas palavras com que os distinguiram.
         O Grupo Jazz “A Rosa”, de Colares, abrilhantou o espectáculo, findo o qual se realizou um animado baile de confraternização.

         Igualmente temos de referir que, em diversas ocasiões, o director cénico, Mestre José Ribeiro, fez algumas conferências, nas quais, como que conversando, contava as origens e a evolução do teatro. Para inauguração da época 1945-1946, realizou-se no pretérito sábado, 27 de Outubro, a segunda palestra sobre Origens e Evolução do Teatro.
         Os amadores de Tavarede sentem-se orgulhosos por terem um ensaiador que conhece profundamente de teatro. Técnico distinto, ensaia duma forma admirável; conhecendo os segredos da Arte, ele consegue que os seus colaboradores façam milagres.
         Para conseguir o seu fim educativo não se limita só aos ensaios, quere que os amadores tenham um mínimo de cultura. E então resolveu ensinar, através das suas palestras, um pouco do muito que ele conhece sobre a arte de Talma.
         A segunda sessão não foi inferior à primeira. Apesar de não ter sido acompanhada de projecções – por não se conseguir lanterna para projectar gravuras – ela não deixou de ser brilhante. José Ribeiro consegue dar-nos através do seu grande poder descritivo imagens cheias de vida.
         Formidável diseur, leu-nos o célebre Monólogo do Vaqueiro, uma passagem de A Castro e os finais do 2º. e 3º. actos de Frei Luiz de Sousa, que impressionaram a assistência pela maneira como foram ditos.
         Damos a seguir o sumário da palestra: Teatro Português – Do “Monólogo do Vaqueiro” aos nossos dias – Autos, farsas e tragicomédias de Gil Vicente – A Censura na obra vicentina – A tragédia clássica em Portugal – Os anátemas da Igreja – A tragicomédia dos Jesuítas – O Judeu – Almeida Garrett e o renascimento do Teatro – Os dramaturgos do século findo – Os contemporâneos – Teatro de hoje.
         Que a sua modéstia nos perdoe estas ligeiras e despretenciosas considerações.
         Falta a terceira e última palestra da série. Oportunamente se dirá alguma coisa.

         A Sociedade, embora com muito menos frequência que o Grupo, também realizava festas dançantes, como, por exemplo, uma a que deu o nome de ‘Trajos Portugueses’. Duas noites de enchente e de constante alegria, as de sábado e domingo passado, na Sociedade de Instrução Tavaredense que, com dois bailes de “Trajos Portugueses” iniciou as festas que oferece aos seus sócios e famílias, para inauguração da época de 1946-47.
         Toda a casa estava decorada com motivos portugueses, dando aspecto de arraial festivo.
         Duas orquestras animaram as festas das duas noites da SIT – “Os Tivolis” e “Os Pardais”, e a numerosa assistência, muitos rapazes e muitas raparigas novas, sangue novo, a escaldar, também animaram os componentes das duas orquestras, para que tocassem até lhes faltar o fôlego. Assim aconteceu! Dançou-se alegremente até altas horas, nas duas noites de Tavarede!
         A garridice dos “Trajos Portugueses”, o que dava título à festa, apresentou-se bem, em quantidade e em qualidade, quer por parte dos rapazes como por parte das raparigas. Vistosos trajos vestiam as mais lindas cachopas da alegre terra do limonete e das cercanias. O juri viu-se em palpos de aranha, quando quis classificar os “três trajos mais expressivos que se apresentaram na festa”, pois o salão regorgitava de pares dansantes, vestindo trajos ou de fantasia ou característicos de regiões portuguesas. Finalmente, visto que os prémios eram apenas três, foram classificadas as seguintes: 1º. “Saloia”, Celeste Dias; 2º. “Padeirinha de Bolos”, Albertina de Almeida; 3º. “Tricana de Coimbra”, Maria da Piedade Lontro.
         O Concurso de quadras, em que era obrigatória a referência a trajos portugueses, também constituiu um triunfo. A lírica, em Tavarede tem muitos cultores, tanto no elemento feminino como no outro! Eram muitas as quadras que, sócios da SIT ou pessoas de família, apresentaram ao Concurso. Pois adivinhavam-se muitos versos de autor feminino. Foram lidas muitas das quadras mas só poderiam ser três as premiadas! Alcançaram os louros da vitória 1º. “António da Figueira”, pseudónimo de António Martins de Sousa Gomes; 2º. “ Maria do Limonete”, Albertina Ferreira de Almeida; 3º. “Olhos Gaiatos”, Maria Luísa Medina e Silva.

         “Carroussel” musical e outras surpresas, todas bastante agradáveis, entretiveram a gente mais nova e a menos nova, nas duas noites de festa.

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