sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Operetas em Tavarede - 2

  


‘Em busca da Lúcia-Lima’ – 2º. acto

         O primeiro espectáculo musicado, apresentado pelo grupo cénico da Sociedade de Instrução Tavaredense, teve lugar no dia 5 de Fevereiro de 1905. Intitulava-se “O casamento da Grã-Duquesa” e fazia parte do programa comemorativo do primeiro aniversário da fundação.

         Recorde-se, no entanto, que os espectáculos musicados já eram representados, em Tavarede, antes da Sociedade de Instrução Tavaredense e, até, antes de, nesta mesma casa, ter sido fundado o Grupo de Instrução Tavaredense, antecessor da nossa colectividade. Citamos, por exemplo, “O Rei Ló-Ló”, uma opereta aqui representada e que havia sido ensaiada por João José da Costa, fundador da anterior sala de espectáculos nesta casa que era sua propriedade.

         Mas, para nós, só iremos recordar peças levadas à cena pela SIT, referindo, desde já, que estes serões evocativos serão especialmente para lembrar aquelas operetas ou fantasias que, escritas e musicadas propositadamente, se destinaram ao povo da nossa terra, dando especial relevo àquelas que falavam de Tavarede, da sua história, dos seus usos e costumes, bem como alguns tipos e figuras características.

         Como dissemos, a primeira peça musicada foi “O casamento da Grã-Duquesa”. Julgamos que seria um original de António Pereira Correia, o mesmo autor da farsa “O casamento da Vasca”, também aqui representada anos mais tarde.

 


         A música, que um apontamento crítico refere como “lindíssima e muito adequada”, havia sido composta pelo tavaredense João Nunes da Silva Prôa. Este nosso conterrâneo, que já havia assumido a direcção musical da anterior associação, foi o primeiro regente da orquestra da SIT, sendo, igualmente, professor de música na aula aqui criada, paralelamente à escola nocturna. Nesta nossa viagem ao passado é de justiça recordá-lo

         E como não conseguimos encontrar a partitura daquela opereta, prestamos singela homenagem à memória de João Prôa, escutando um pouco da sua música. Iniciámos esta conversa ouvindo, em fundo, uma melodia que, estamos certos, ainda é conhecida por alguns dos presentes, embora desconheçam o seu autor. Chama-se “Cantigas ao Vento”. Aquele nosso conterrâneo escreveu esta música para o Rancho das Rosas, da Figueira. Fez parte do seu reportório até ao final da sua existência, bem como outras da sua autoria. Recordemos, somente e por breves momentos, uma outra, também muito conhecida: “Rosas de Carne”.                 (Toca-se um pouco da gravação desta cantiga, após o que continuará a servir de fundo musical durante um pouco mais)

         Esta última canção tem uma outra particularidade interessante para nós, tavaredenses. O poema é da autoria de João Gaspar de Lemos Amorim, um figueirense que se radicou na nossa aldeia, após o seu regresso de África, e que viveu, até à sua morte, na Quinta da Mentana, ali junto à Igreja, hoje urbanização do Vale do Pereiro, aonde havia mandado construir a vivenda que todos nós conhecemos. Como adiante veremos, Gaspar de Lemos teve um importante papel na actividade do nosso grupo cénico, como autor e como poeta de fina sensibilidade.

 


                                                    João Gaspar de Lemos Amorim

         Quando, anos depois, João Prôa abandonou a direcção musical da Sociedade de Instrução Tavaredense, tomou o seu lugar um outro conterrâneo nosso, Gentil da Silva Ribeiro, pai daquele que foi a maior figura da nossa colectividade, José da Silva Ribeiro. Também Gentil Ribeiro foi um músico de elevada craveira e bastante inspiração. (durante a narração, vão-se apontando algumas das fotografias expostas no salão)

         Nos anos de 1912 e 1913, foram levadas à cena, pelo nosso grupo dramático, as primeiras revistas escritas e musicadas propositadamente para a nossa colectividade. Foram elas “Na Terra do Limonete” e “Dona Várzea”. Eram pequenas peças, de assunto simples e acessível ao nosso povo, nas quais o seu autor, João dos Santos, procurou demonstrar as vantagens da instrução e educação que se adquiriam na escola e na colectividade, em detrimento dos perigos terríveis que os trabalhadores enfrentavam nas tabernas, onde abundavam os nefastos malifícios do alcool e do jogo.

         De Gentil Ribeiro, e igualmente honrando a sua memória, recordaremos, unicamente, que é da sua autoria o nosso hino. Será, pois, para sempre recordado ao serem escutadas as notas do bonito hino que compôs.    (ouvir um pouco da gravação do hino)

 

         Várias foram as operetas que, ano após ano, aqui se apresentaram e aqui alcançaram êxitos retumbantes. O povo gostava. Estes espectáculos tinham animação e alegria; tinham colorido, mostravam costumes e tipos das nossas aldeias, e tinham muita música que, facilmente, ficava no ouvido. Podemos citar, como exemplo, “Os Amores de Mariana”, “Entre duas Avé-Marias”, “Noite de S. João”, etc.


         Mas as nossas evocações, como referimos, serão aquelas que nos falam da nossa terra. Avancemos, pois, na história.

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