sexta-feira, 21 de março de 2014

Operetas em Tavarede - 9

         Muito mais haveria a contar. Mas algumas das coisas mostradas ao ilustre visitante, já nós as conhecemos. A água da nossa fonte, por exemplo, não podia ser esquecida. Quanto às bruxas, as tais das fitas da sacristia, e parece que havia muitas em Tavarede, essas levou-as o deus Mercúrio para o seu planeta. Deixaram a terra e parece que nunca mais voltaram. As fitas... bem, essas, ainda continuaram e continuam. De vez em quando há cada fita na terra do limonete!...

         Mas o que a todos os visitantes, nacionais ou estrangeiros, deuses ou humanos, o que a todos se mostra, com justificado orgulho, é a força do trabalho do bom povo da nossa aldeia. Terra de cavadores, que de manhã à noite, de verão ou de inverno, debaixo dum sol escaldante ou com a roupa empapada pelo suor e pela chuva, sempre agarrados à enxada, vão cavando o pão de cada dia. Pão de cada dia que, nas tardes quentes do verão, quando as searas estão bem maduras clamavam pela foice diligente das ceifeiras, para o colherem, depois do que para as eiras.

         E sempre, homens e mulheres, novos e velhos, labutando e cantando. A alegria do trabalho, a consolação da fartura, que os seus braços fortes e honrados arrancavam às abençoadas terras de Tavarede, é bem mostrada nas suas cantigas que, de manhã à noitinha, eram soltadas pelas suas gargantas.

  Coro
 Desde manhã ao sol posto,
Arado ou foice na mão,
Seja Inverno ou seja Agosto,
Ceifamos a loira espiga
Ou pomos à terra o grão.

Cavadores
Vamos todos sem cansaço
Na terra dura
Cavar, cavar.
A força do nosso braço
Traz a fartura
Do nosso lar.

Ceifeiras
Somos as ledas ceifeiras
Que vão as messes trigueiras
Segar, ceifar,
Sempre ligeiras,
Sempre a cantar,
 A cantar.

   Coro
  Cavar, Ceifar,
 Ceifar, cavar,
 Sem descansar.


F I M







A Fonte de Tavarede (bersos de Cardoso Marta)

  
    
       O cavador, a cigarra e a formiga




O Sonho do Cavador  (desenhos do prof. Alberto de Lacerda)

                (O serão começa ouvindo-se, em fundo musical, a “Valsa do Sonho”) O tema musical que estamos a ouvir chama-se “O Sonho”. Manuel da Fonte acabara de comer e dorme a sua sesta à sombra de uma árvore frondosa. Como desde há uns tempos atrás, está só. Aborreciam-no as cantigas e as risadas das cachopas, sempre na galhofa com os rapazes... Por isso, preferia estar sòzinho. Queria dormir descansado e, como sempre, queria sonhar...

         Era assim que se iniciava a fantasia “O Sonho do Cavador”, representada no nosso palco, pela primeira vez, em 28 de Abril de 1928. José da Silva Ribeiro havia escrito o texto e João Gaspar de Lemos Amorim os versos. A música era original ou coordenada pelo maestro amador figueirense António Maria de Oliveira Simões.

         Antes de prosseguirmos com a nossa história, não queremos deixar de aqui fazer alguns comentários a esta fantasia. E começaremos por dizer que, até aos dias de hoje, “O Sonho do Cavador” foi a peça mais representada pelos nossos amadores. Tomar, Buarcos, Figueira, Coimbra, Pombal, além de Tavarede, foram os palcos onde se representou esta fantasia. Encontram-se quatro versões diferentes. A primeira, que foi a que sofreu mais alterações, estreou-se, como dissemos, em Abril de 1928. No dia 29 de Junho de 1930, é apresentada uma segunda versão. Em Dezembro que 1936 é levada à cena a terceira versão, que se repete em 1942, e em Janeiro de 1987, em espectáculo evocativo, esta fantasia é reposta em cena, numa quarta versão, com diversas alterações. A história é sempre a mesma. Muitos dos quadros é que, ou cortados pela censura ou porque haviam perdido actualidade, iam sendo substituidos, bem como a música.

         As críticas que se encontram inseridas na imprensa da altura, são bastante elogiosas. Todas elas referem belos cenários, magnífico guarda-roupa, espectacular montagem cénica com interpretações correctíssimas e, sempre em maior destaque, uma música encantadora, muito bem cantada, que o público se não cansava de ouvir e aplaudir. Hoje, e porque será a que maior interesse pode despertar, vamos contar a primeira versão.

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