sexta-feira, 20 de junho de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 81

Com a sede em obras, houve interrupção do teatro em Tavarede. Mas o grupo cénico não parou. Depois de outras deslocações, foram a Vila Real e a Amarante. Mais do que a falia de tempo de que actualmente podemos dispor, o nosso estado de saúde, cano de costume, sobrepondo-se aos nossos desejos, não nos permitiu acompanhar o grupo dramático da Sociedade de InstruçãoTavaredense, nos dias 10, 11 e 12 do corrente, nas suas jornadas de bem-fazer, desta vez a Amarante e Vila Real, facto que, nos penalizou sobremaneira por não podermos viver, pessoalmente, as carinhosas e entusiásticas manifestações de simpatia e apreço de que foram alvo os nossos conterrâneos, naqueles importantes localidades nortenhas.
Mas nem por isso deixámos de acompanhar em espírito os briosos rapazes e simpáticas senhoras, que tão longe levaram o nome da nossa aldeia em missão cultural e beneficente, de sentir em nosso coração de tavaredenses o festivo ambiente que a todos rodeou.
E, assim, para que pudéssemos registar em nossos "apontamentos", informando os estimados leitores, da triunfal excursão tavaredense, pedimos a um nosso amigo, que a acompanhou, nos dissesse algo das suas impressões, pondo-se inteiramente à nossa disposição, gentileza que, alem dos nos cativar, reconhecidamente agradecemos.
Chegados a Amarante, à entrada da vila esperavam os visitantes a corporação dos Bombeiros, Filarmónica local, representantes das colectividades com seus estandartes, a Comissão promotora do espectáculo, que era a favor do Hospital da Misericórdia e muito povo. Formou-se um cortejo que percorreu várias ruas, e das janelas, donde pendiam colgaduras, foram lançadas flores.
No edifício da Câmara Municipal deu as boas vindas o Vereador do pelouro da Cultura e Presidente da Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão, tendo agradecido a carinhosa recepção dispensada o director do grupo cénico.
À noite, no teatro, com a grande sala repleta dum público que aplaudiu calorosamente, fez a apresentação do grupo de Tavarede, num brilhantíssimo discurso, o ilustre advogado sr. dr. Balbino de Carvalho, que é um grande amigo e admirador da Figueira.
A impressão deixada com a representação de "Os Velhos" foi excelente.
Num dos intervalos foram oferecidos por simpáticas crianças, a José da Silva Ribeiro e às distintas amadoras, D. Violinda Mediria e Silva, menina Maria Isabel de Oliveira Reis, lindos ramos de flores, gentileza que muito os sensibilizou.
No dia seguinte, os distintos figueirenses sr. Engenheiro António Gravato e sua esposa ofereceram aos visitantes, no belo parque florestal onde têm a sua residência, um almoço que foi motivo para que todos trouxessem de Amarante lembrança inesquecível.
Findo o almoço seguiram os nossos conterrâneos para Vila Real.
Nesta cidade o espectáculo realizado foi também com "Os Velhos", a favor da instituição local "A Nossa Casa", obra benemérita do Padre Henrique Maria dos Santos, que protege da fome para cima de 3 centenas de crianças.
A chegada houve na sede de "A Nossa Casa" uma breve sessão de boas-vindas. Ali se encontravam o sr. Presidente da Câmara de Vila Real, o sr. Heitor Correia de Matos, director do jornal "O Vilarealense"; Aquiles de Almeida, entusiasta promotor desta visita dos tavaredenses a Vila Real; as senhoras da Conferência de S. Vicente de Paulo e muitas crianças, que cobriram de flores os visitantes à sua entrada; e outras pessoas de representação. O discurso de boas-vindas foi proferido pelo sr. Padre Henrique, cujas palavras, cheias de beleza e bondade, deixaram em todos funda impressão, tendo José Ribeiro, num vibrante discurso, agradecido as amáveis referencias que o bondoso sacerdote acabara de dirigir ao grupo dramático que superiormente orienta.
No teatro, a apresentação do grupo foi feita pelo sr. dr. Otílio de Carvalho Figueiredo. Nessa ocasião, uma das crianças da obra do Padre Henrique Maria dos Santos ofereceu à SIT um jarrão que é uma artística obra de faiança. Como em Amarante, o público de Vila Real que enchia a enorme plateia do teatro aplaudiu com extraordinário entusiasmo a representação de "Os Velhos".
As já numerosas crianças protegidas pelo Redv° Padre Henrique obsequiaram os visitantes, como lembrança da sua inesquecível digressão artística e beneficente, com miniaturas de louça regional.
No dia seguinte realizou-se um almoço de despedida, no qual falaram o sr. Padre Henrique Maria dos Santos e o Director do "Vilarealense", sr. Heitor de Matos.
Ao agradecer, José Ribeiro, proferiu um brilhante improviso, cheio de ternura, em que a sua alma de eleição, dedicada aos pobres, deu largas aos seus sentimentos filantrópicos.
Comentava-se: nós, aqui na Serra, orgulhamo-nos de possuir águias, mas lá para as bandas da Figueira da Foz, nos choupos e salgueiros do ribeiro da pitoresca aldeia de Tavarede, também se criam extraordinários rouxinóis, que, pelas suas melodias e cantares, nos transportam, por momentos, às regiões do sonho.
À saída de Vila Real foram os nossos conterrâneos acompanhados até ao limite do concelho pelo Revdº Padre Henrique Maria dos Santos e outras distintas pessoas, que lhes prodigalizaram as maiores gentilezas.
As nossas felicitações ao grupo dramático da SIT por mais esta sua excursão que, sendo de arte e caridade serviu, também, de pretexto para a melhor propaganda da sua e nossa ridente aldeia.
Bem haja, pois.

E vamos transcrever, agora, uma nota sobre o que foram as obras na Sociedade. Apesar da dureza dos tempos dos últimos meses, as obras de transformação do teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, têm prosseguido com certa regularidade.
E natural que, se não fôra essa imprevista circunstância, os trabalhos estivessem mais adiantados.
Entretanto, não podemos deixar de louvar a boa vontade do empreiteiro, o nosso particular amigo, sr. Constantino Ferreira Sopas, dessa cidade, que tem dedicado a tão valiosa obra uma assistência técnica digna dos maiores encómios, inclusivamente escolhendo para encarregados dos diversos serviços, operários de reconhecida competência, alguns deles sócios da colectividade, tudo fazendo, enfim, para que a SIT fique, na verdade, com um óptimo e bem construído imóvel.
Na semana passada, operários especializados concluíram a cobertura do edifício com chapas de fibrocimento, fornecidas pela considerada empresa nortenha "Novinco", de que é representante a importante firma Alberto Gaspar & Cª. da Figueira da Foz.
De tal modo, já mais seguramente se poderá caminhar para o termo das obras.
Pelo que já nos é dado observar, a SIT vai ficar com uma esplêndida sede, em que não faltam os requisitos exigidos pelas novas técnicas, outra coisa não sendo de esperar.
Assim, no rez do chão, ficarão situados, alem da plateia, que foi ampliada, com vista a comportar uma maior lotação, bar, "hall", camarins, lavabos para homens e senhoras e casa de banho.
No primeiro andar, teremos um amplo salão para recepções, gabinete da Direcção, biblioteca, camarins e lavabos para senhoras.
Ainda outros salões e compartimentos destinados a arrumos, localizar-se-ão no segundo andar.
O antigo campo de jogos, deverá ficar em condições de servir a parque de estacionamento de veículos, em dias de espectáculos e festas da SIT.
Quanto ao palco, bastará dizer, que está a ser erigido sob a orientação técnica do ensaiador e Mestre de teatro, que é José da Silva Ribeiro, o mesmo será dizer que o palco ficará de modo a permitir a representação de peças de qualquer género, aliás, como as que foram ali levadas à cena em tão precárias condições, devido ao reduzidíssimo espaço de que dispunham os amadores para se movimentar, e que só a sua grande vontade, o seu amor à causa do teatro, superava.
Obra de relevo, de concepção admirável do distinto arquitecto e grande admirador da actividade daquela colectividade, sr. Izaias Cardoso, que soube aproveitar todo o espaço livre destinado ao fim em vista - obra que viveu, durante algumas dezenas de anos, nos corações dos sócios e dos inúmeros simpatizantes da prestigiosa colectividade e que só o poderoso auxílio da benemérita Fundação Gulbenkian foi possível tornar em promissora realidade.
Nos tempos difíceis que vivemos e em que às colectividades recreativas se lhes deparam os maiores obstáculos para levar por diante sua nobre e generosa missão artística e educativa, a bem do Povo, não bastava somente a vontade de trabalhar dos homens da SIT, era preciso mais alguma coisa e, essa alguma coisa, teria que ser convertida em bom material sonante...
Por isso que, não só os sócios como também todo o povo da freguesia de Tavarede, deverá estar presente no dia da inauguração da sede profundamente remodelada da SIT, para testemunhar aos ilustres membros do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian, o seu imperecível reconhecimento.
É um dever de todo o tavaredense, pois o que é, deve-o, na sua grande maioria - e as carunchosas tábuas do palco que o digam quantos tavaredenses as pisaram para sua cultura e recreio - à SIT.

Bem sabemos que toda a obra do frágil barro humano tem seus contraditores. Porém, volvido quase meio século de actividade em benefício do seu semelhante, facilmente chegamos à conclusão de que valeu bem a pena trabalhar, porque foi precisamente o seu desinteresse, o sentido de contribuir para a elevação do nível cultural e artístico do Povo, através do teatro, que proporcionou à SIT o generoso auxílio financeiro, que lhe foi atribuído pelo exmo. Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian.

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