sexta-feira, 13 de junho de 2014

Usos e Costumes na Terra do Limonete - 24

         Também no Largo do Terreiro se organizaram, em 1915, festas populares, onde “... abrilhantará as danças uma excelente orquestra composta de apreciados amadores daqui e da Figueira”.
         E antes de iniciarmos as nossas próprias recordações, ainda vamos transcrever mais um recorte publicado em 1923. “Ainda na minha ultima carta profetisava uma desusada concorrência a esta terra, na noite de sábado para domingo, neste dia à tarde, e na segunda-feira, desde que o tempo o permitisse, e afinal não me enganei.
A noite de sábado era toda luar não fazendo bafo de vento, e como tal, aí por volta das 10 horas da noite em deante, foi-se notando grande animação de forasteiros, uns preparadinhos para passarem a noite encostados a um balcão, "copiando", até perder a fala, cantando ao som dum harmonium e outros ainda, - os mais ajuizados, - para na dança, conversarem os seus amores, as suas ilusões...
É a mocidade na sua pujança. É o período de tempo em que a irrequietude dos 20 anos vai testamentando à futura velhice, que caminha agigantadamente na vertiginosa marcha do dia a dia, as mais gratas e saudosas recordações...
À meia noite deu-se inicio à função dançante, que leve logar no largo do Paço, tocando a tuna da terra! À tarde, continuação do rancho que se prolongou até depois da meia noite.
Na segunda-feira houve, alem das corridas pedestres em que foram distribuídos prémios aos vencedores, a tradicional e sempre agradável "Rosquilhada". Para esta prova hipica estava inscripto grande numero de "cavaleiros", que montando "belas estampas burricais", conseguiram enfiar muitas rosquilhas, alguns à custa do seu trambolhãosinho. Teve também logar um numero muito interessante e que estava despertando grande interesse da parte dos amadores respectivos.
Foi o duelo de malha, nos taboleiros da casa comercial dos sucessores de Francisco Cordeiro. Debateram-se os dois grupos de 1as categorias Triângulos Verde e Vermelho, disputando-se varias medalhas e uma ceia. Não conseguiu nenhum ganhar, porque durante a hora e meia de jogo fizeram uma conta de pontos eguais, resolvendo o jury que os mesmos grupos se batessem no domingo seguinte, o que se não efétivou, por motivo de um dos jogadores se encontrar doente...”.

Os mais antigos pavilhões de que nos recordamos eram no Largo do Paço, organizados pelo Grupo Musical, que depois passou a utilizar um recinto, na quinta do sr. José Duarte, frente à sua sede. E se do primeiro lugar as ideias já são muito vagas, muito bem nos recordamos do segundo, até porque foi ali que nos iniciámos na dança!
Anos mais tarde, as chamadas festas de verão, começaram a ser realizadas no antigo campo de jogos da Sociedade, onde hoje está construído o pavilhão desportivo. Foi neste que iniciámos a nossa colaboração na montagem do arraial. Eram sempre serões alegres onde eram feitas cordas de bandeiras de papel, festões e argolas. Depois íamos apanhar braças de ramadas de loureiro para as cordas que enfeitavam o pavilhão, dando a volta ao recinto, de mastro em mastro, e dos cantos até ao mastro central, juntamente com os enfeites de papel colorido e gambiarras para a iluminação.
Ao centro, rodeando o mastro principal, era instalado o coreto para a música, o qual, anos depois e para protecção do vento, passou a ser feito do lado norte do recinto, junto da vedação. Aos lados eram instaladas as costumadas barracas, para a quermesse, tiro, etc. Indispensável era o bufete e o retiro dos petiscos. Muitos foram os conjuntos musicais que por ali passaram. E recordamo-nos muito bem das antigas modas de roda, que, mal começavam a ouvir-se, logo atraíam velhos e novos a formarem roda a toda a volta do recinto da dança!
Ainda uma breve recordação para os arraiais realizados no largo do Terreiro. Eram muito mais simples na ornamentação.  Para o coreto serviam as escadas da casa da ‘ti Marquitas’ dos tremoços, freiras e pevides. A orquestra, pomposamente intitulada de ‘Jazz da Malveira’, era composta por residentes locais, a sanfona, de Diamantino alfaite, o pífaro, de Manuel Lindote, e a viola, de nosso pai, Pedro Medina.

A um dos lados era acesa a fogueira, para a qual íamos à lenha e aos piteirões secos, pelo caminho do Peso e da Serra. Eram festas quase familiares, alegres na sua simplicidade, mas sempre do agrado de todos. E que deixaram muitas saudades...

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