sexta-feira, 4 de julho de 2014

O Associativismo na Terra do Limonete - 83

                O velho burgo de Tavarede não podia estar muito tempo sem teatro. Era uma tradição mais que centenária. Certamente que foi esse o motivo que levou os responsáveis pelas obras de remodelação do edifício da Sociedade de Instrução Tavaredense a acabarem, em primeiro lugar, a nova sala de espectáculos. E antes de continuarmos, seja-nos permitido recordar que, quando se iniciou o desmantelamento do velho palco, se verificou um apelo. ‘Por favor, guardem umas tábuas do proscénio, para irem comigo no meu caixão’. Sobre aquelas tábuas carunchosas, onde tantas e tantas horas de alegria e aborrecimentos imperecíveis eles passaram, assistiram ao arranque da primeira tábua, operação esta que foi executada pela categorizada e premiada amadora, srª D. Violinda Medina e Silva, e receber as entusiásticas saudações da numerosa assistência, que bem traduziam o seu reconhecimento pelos momentos de prazer que lhes haviam proporcionado.

  Reconhecida por todos a conveniência de o grupo cénico retomar, tão depressa quanto possível, a sua actividade, interrompida há um longo ano, resolveu-se pedir as vistorias à casa e à instalação eléctrica, que foram aprovadas. Assim, o teatro foi posto a funcionar, tendo-se dado o primeiro espectáculo no dia 16 de Dezembro de 1961, com a peça em 2 actos e 24 quadros Terra do Limonete. A inauguração da nova sala de espectáculos foi brilhante. Com a inauguração do novo teatro da Sociedade de Instrução Tavaredense, verificada no último sábado, a data de 16 de Dezembro de 1961, ficará assinalada nos anais da história da nossa querida terra, como marco imorredoiro.
Em cerimónia simples, imposta pelas circunstâncias, retomou a sua actividade o grupo dramático da prestante associação.
Lotação esgotada, contando-se entre a numerosa assistência figuras de relevo da distinta sociedade figueirense e muitos amigos de Tavarede, vindos das mais diversas localidades do País.
De linhas sóbrias, mas elegantes, a ampla sala de espectáculos oferecia com a sua iluminação feérica deslumbrante efeito.
Em lugares de honra, sentavam-se os srs. Engenheiro José Coelho Jordão, ilustre presidente da Câmara Municipal do nosso concelho; Severo da Silva Biscaia, activo e inteligente presidente da Comissão Municipal de Turismo; Professor António Vitor Guerra, prestigioso director do Museu Municipal Dr. Santos Rocha e da Biblioteca Pública Municipal Pedro Fernandes Tomás; António Duarte da Paz, Chefe da Polícia de Segurança Pública dessa cidade, em representação do Comandante; Arquitecto Isaias Cardoso, autor do projecto, e Vicente Braz, presidente da Junta desta Freguesia.


                          Terra do Limonete
  
"O Figueirense" estava representado pelo seu director e "A Voz da Figueira" pelo seu chefe da redacção. O jornal "O Dever" estava representado pelo Revd° Padre Fernando Ribeiro, coadjutor da Igreja Matriz dessa cidade.
Antes de o espectáculo ter início e com o velho pano de boca descido, cuja pintura representava o antigo solar da Quinta dos Condados, o presidente da Assembleia Geral da SIT, sr. Professor Rui Fernandes Martins, veio ao proscénio para saudar o sr. presidente do Município e outras entidades, evocando sentidamente a memória de João José da Costa, proprietário daquela importante propriedade, e a quem a Figueira da Foz e seu termo, quando presidente da Câmara, Provedor da Santa Casa da Misericórdia e de outras instituições ficou devendo assinalados serviços e Tavarede o antigo Teatro; recordou a figura nobilíssima de Calouste Gulbenkian, de cuja Fundação a SIT recebeu subsídio generoso, que veio impulsionar decisivamente as ambicionadas obras, que constituíram, durante algumas dezenas de anos, anseio dos sócios e amigos da benemérita colectividade.
Não esqueceu José da Silva Ribeiro e os seus humildes colaboradores de muitos anos, aquele o tavaredense a cujo talento e amor à nobre arte de Talma ficaram os seus conterrâneos devendo a magnífica realização, pois que sem a sua extraordinária actividade de todos os dias não seria possível o grupo cénico que dirige, atingir o alto nível cultural que merecidamente alcançou, e, consequentemente, a SIT obter os fundos necessários para levar por diante o arrojo do empreendimento, se considerarmos a modéstia de recursos do meio local.
A fantasia "Terra do Lirnonete", que escreveu para a inauguração do Teatro, que o distinto amigo e grande amigo da colectividade sr. Alberto Anahory vestiu primorosamente, enriquecida com cenários executados por distintos artistas,
agradou unanimemente, como o demonstraram os vibrantes e entusiásticos aplausos do público e as felicitações que recebeu das entidades e de categorizados espectadores.
Em chamadas especiais, José Ribeiro e Anselmo Cardoso, director da orquestra e autor da partitura, foram ovacionados calorosamente.
Seríamos injustos se não tivéssemos uma palavra de louvor para José Nunes Medina, músico distinto, que, com o seu esforço e boa vontade ensaiou a parte coral, contribuindo poderosamente para o êxito da representação.
Enfim, foi uma grande e inolvidável noite de arte, a de sábado, que ficará memorável na alma dos tavarederises.
Todos os amadores, sem excepção, entre os quais figuram estreantes, cumpriram plenamente, pelo que a assistência lhes tributou os seus quentes aplausos.
Oxalá que a conclusão das obras de transformação da sede da SIT não se faça demorar para os tavaredenses poderem dar largas ao seu justificado entusiasmo bairrista
No final do espectáculo, a Direcção da SIT obsequiou com um beberete as entidades e outros convidados, tendo usado da palavra os srs. professor Rui Martins e José Ribeiro e por último os srs. presidentes da Câmara e da Comissão de Turismo.

Terra do Limonete – A moura encantada


         Embora a interrupção, motivada pelas obras, tivesse sido relativamente pequena, o público estava ávido por ver, além das novas instalações, a inaugural fantasia de Mestre José Ribeiro. E foi com as lotações esgotadas, que os espectáculos se sucederam. 

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