sábado, 4 de outubro de 2014

Histórias e Lendas - 1

  


São Martinho de Tours
Padroeiro de Tavarede – soldado, monge e santo


            “... de boa mente e de motu próprio fazemos esta carta de doação a ti João Gondezinis ‘do lugar de S. Martinho na vila de Tavarede’”. Este apontamento foi recolhido da carta de doação que D. Elvira Sisnandis e seu marido Martinus Moniz fizeram àquele fidalgo, onde aparece o nome de Tavarede, sendo este o documento mais antigo até hoje encontrado onde está mencionado o nome da nossa terra.

         “... Pelo oriente está aquela várzea que parte com a vila de Tavarede pela penna de Azambujeiro e d’ahi corte no Sovereiro Curvo em direcção à Mamôa; pelo ocidente a villa de Emide; pelo sul estão as salinas do rio Mondego; pelo norte a villa de Quiaios”.

         Analisando o documento referido, verifica-se que então se denominava como ‘a vila de Tavarede’ toda a vasta área que rodeava o pequeno burgo e cujos limites estão referidos no mesmo. A vila propriamente dita denominava-se ‘Lugar de S. Martinho’, orago da terra, presumindo-se que atribuido anos antes de conquista de península ibérica pelos muçulmanos.
“Vida - A sua vida decorreu no século IV, que foi uma época de importantes transformações. Martinho de Tours teve um importante papel nessas mesmas transformações ao ter sido, primeiro, um convertido à religião cristã e, depois, um dos impulsionadores de uma maior cristianização da Europa, cujo processo avançou significativamente no século IV. Ainda em termos de contexto histórico, nasceu três anos após o Edito de Milão promulgado pelo imperador Constantino I no ano de 313, que havia concedido aos cristãos liberdade de culto.
Foi discípulo de Santo Hilário de Poitiers (um dos doutores da Igreja), que se distinguiu na Teologia, e também foi contemporâneo de outro importante doutor da Igreja - Agostinho de Hipona (354-430). Embora Martinho fosse um homem culto, foi na ação prática (caridade, ensino, fundação e construção de igrejas, de mosteiros e de escolas) que se distinguiu.
A sua ação missionária e pedagógica, a par da de outros, foi muito importante na cristianização da Gália (é mesmo apelidado de apóstolo da Gália ou “Pai das Gáliass ), mas também numa área geográfica e cultural mais vasta, tendo esta se repercutido em outras províncias ocidentais do Império Romano. A sua ação educativa, caritativa e religiosa revelar-se-ia fundamental a longo prazo ao ter contribuído para deixar um legado cultural e religioso que perdurou para além da queda do Império Romano do Ocidente (no ano de 476) e que faz parte da formação da própria civilização cristã europeia. Foi um dos fundadores do monaquismo na Europa Ocidental. Devido à sua vida exemplar, ainda em vida foi reverenciado.
Infância - Martinho (Martinus em latim) era filho de um Tribuno, comandante e soldado do exército romano. Nasceu e cresceu na cidade de Sabaria/Savaria (atual Szombathely), localizada na antiga província da Panónia, (atual área da Hungria a oeste do rio Danúbio), em 316, uma província nas fronteiras do Império Romano. A família na qual nasceu não era de religião cristã, a educação da sua família foi feita na religião dos seus antepassados: a da religião politeísta romana antiga (que tinha crença em deuses mitológicos venerados no Império Romano)
Por curiosidade começou a freqüentar uma Igreja cristã, ainda criança, sendo instruído na doutrina cristã, porem sem receber o batismo. Aos 10 anos de idade (no ano de 326) entrou para o grupo dos catecúmenos (aqueles que estão se preparando para receber o batismo). Assim, ele despertou para a fé cristã quando ainda menino.

Membro do Exército Romano - Ao atingir a adolescência, aos 15 anos de idade (no ano de 331), para tê-lo mais à sua volta, seu pai o alistou na cavalaria do exército imperial contra a própria vontade. Mas se o intuito do pai era afasta-lo da Igreja, o resultado foi inverso, pois Martinho, continuava praticando os ensinamentos cristãos, principalmente a caridade.
Depois, foi destinado a prestar serviço na Gália, (atual França), no entanto, mesmo como soldado da cavalaria do exército romano, jamais abandonou os ensinamentos de Cristo.
Foi nessa época que ocorreu o famoso episódio do manto, que poderá ter ocorrido no ano de 337, próximo da cidade de Samarobriva/Ambiano (atual Amiens, capital da Picardia). Um dia um mendigo que tiritava de frio pediu-lhe esmola e, como não tinha, o cavalariano cortou seu próprio manto com a espada, dando metade ao pedinte. Contam os relatos escritos que, durante a noite, o próprio Jesus lhe apareceu em sonho, usando o pedaço de manta que dera ao mendigo e agradeceu a Martinho por tê-lo aquecido no frio. Dessa noite em diante, ele decidiu que deixaria as fileiras militares para dedicar-se à religião
Batismo - Com vinte e dois anos foi batizado (no ano de 338), provavelmente por Santo Hilário, bispo da cidade de Pictávio (atual Poitiers), mas também é possível que o tenha sido pelo bispo de Samarobriva ou Ambiano (atual Amiens), cidade perto da qual ocorreu o célebre repartir do manto a um mendigo.
Monge e Professor - Afastou-se da vida da corte e do exército, tornou-se monge, tendo permanecido na Gália.
No ano de 354, aos 38 anos de idade, chega a Pictavium (Poitiers), para se tornar discípulo do seu famoso bispo - Santo Hilário, que o ordenou diácono. Nesse mesmo ano, parte em viagem de regresso à Panónia, para a sua cidade natal de Sabaria, com o objectivo de se encontrar com a sua família e tentar converter vários dos seus conterrâneos à religião cristã através da pregação e da evangelização. Entre os novos convertidos que fez contaram-se a sua mãe mas não o seu pai, que permaneceu na religião politeísta.
No ano seguinte (355), no entanto, é expulso da Panónia por questões relacionadas com a perseguição movida pelos partidários do arianismo, pois Martinho era um firme defensor do cristianismo católico ou catolicismo.
Durante 5 anos permaneceu isolado, vivendo como monge, numa ilha do Mar Tirreno, na Ilha de Galinária, ao largo da costa de Itália.
No ano de 361, aos 45 anos de idade, Martinho regressou à Gália, no mesmo ano em que Santo Hilário voltou do exílio e regressou à cidade de Pictavium (atual Poitiers). Tendo sabido esta informação, Martinho viaja para essa cidade. Ambos contactam diretamente e Santo Hilário doou a Martinho um terreno em Ligugé, a doze quilômetros de Pictavium (Poitiers). Lá, Martinho fundou uma comunidade de monges. Mas logo eram tantos jovens religiosos que buscavam sua orientação, que ele construiu o primeiro mosteiro da França e da Europa ocidental.
Missionário e Evangelizador - No ocidente, ao contrário do oriente, os monges podiam exercer o sacerdócio para que se tornassem apóstolos na evangelização.

 Martinho liderou então a conversão de muitos habitantes da região rural. Com seus monges ele visitava as aldeias pagãs, pregava o evangelho, derrubava templos e ídolos e construía igrejas. Onde encontrava resistência fundava um mosteiro com os monges evangelizando pelo exemplo da caridade cristã, logo todo o povo se convertia.


Dizem os escritos (como os de Sulpício Severo) que, nesta época, havia recebido dons místicos, operando muitos prodígios em beneficio dos pobres e doentes que tanto amparava. A sua vida foi uma verdadeira luta contra o paganismo e em favor do cristianismo.

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