sábado, 1 de agosto de 2015

Tavarede no Teatro -8

         Era este o entrecho da fantasia “Em busca da Lúcia-Lima”. Simples e acessível aos tavaredenses, como era intenção do autor e seus colaboradores.

         Para que fique para a “história”, vou aqui deixar mais alguns apontamentos daquilo que encontrei na imprensa de então. Como referi na parte inicial, não houve uniformidade de opiniões quanto ao chamado “libreto”. No entanto, o que praticamente não teve contestação foi a parte musical, que se considerou “uma partitura soberba, feliz na inspiração e na beleza da orquestração, com números originais tão perfeitos como apropriada é a adaptação dos coordenados”.

         E enquanto o comentarista da “Gazeta da Figueira”, sobre este tema, escreveu “empreste-lhe (o leitor) o culto gosto de António Simões, fornecendo-lhe música viva, saltitante, travessa, achando sempre o motivo próprio para cada recorte do poema”, em “O Figueirense”, o tal crítico que não tinha gostado do texto, refere: “Principio por dar um abraço no António Simões, que foi feliz na música que coordenou e na instrumentação com que a compôs. Só não gostei de ver chinesas a cantar música regional portuguesa. Mas, áparte este senão, escolheu música muito bonita, que se ouviu com agrado e soube manter em ordem os coros que por vezes quizeram fugir dela. Bravo, seu maestro!”.

         Quanto ao desempenho que “áparte pequenas deficiências inevitáveis nos melhores grupos de amadores, foi bom, brilhante e perfeito por vezes”. Também aqui arquivo alguns comentários sobre intérpretes e seus personagens.

         Idalina Fernandes fez com distinção a Flor de Chá, imprimindo à personagem a tristeza requerida, “sendo pena que a sua voz seja tão pouco extensa e não lhe permita vencer as dificuldades da parte que lhe coube na partitura, devendo, no entanto, dizer-se que cantou muito bem a romanza do segundo acto”.

         Virgínia Monteiro fez uma Capitolina insinuante, alegre, risonha. “Com o tique da menina de aldeia educada na cidade mas que não pode desmentir o ditado: - o que o berço dá...”. Jaime Broeiro e António Graça afirmaram-se como amadores distintos e conscienciosos; A. Santos, J. Cascão e A. Silva também são amadores com qualidades aproveitáveis; J. Vigário foi bem no Mandarim não parecendo um principiante e F. Carvalho, que é também um bom elemento, cantou com segurança a sua parte no concertante final do segundo acto, outro tanto não podendo dizer-se do dueto com Flor de Chá, que saíu incerto. Os outros amadores em papéis de menor responsabilidade, bem como os coristas, mostraram-se cuidadosos, contribuindo para o agradável conjunto”.

         O já referido crítico de “O Figueirense” que não gostou do “libreto”, também não gostou de alguns pormenores do guarda-roupa e quanto ao desempenho gostou “porque os amadores esforçaram-se por bem desempenhar os seus papéis”. Aponta alguns casos que lhe pareceram mais fracos, como, por exemplo, José Vigário, no Mandarim, que “enquanto todos os seus familiares e respectivo povo andavam e revelavam gestos como é uso nos habitantes do Celeste Império, ele dava passos de metro e gesticulava largo de mais, dando-lhe, por vezes, a impressão de estar a ver o diabo do Presepe!”.

         Termino as notas sobre “Em busca da Lúcia-Lima” referindo a encenação. “A Voz da Justiça” diz que “a Sociedade de Instrução tem direito aos nossos aplausos pela maneira como pôs em cena a peça, não se poupando a despesas para que o cenário e indumentária (o guarda-roupa foi fornecido pela Casa Cruz, de Lisboa) fossem o que devia ser. A opereta teve uma apresentação brilhante, sendo de efeito deslumbrante o segundo acto, no qual se exibiu um guarda-roupa a rigor e luxuoso”.

         E enquanto a “Gazeta da Figueira” regista a “encenação primorosa desse inteligente moço que é José Ribeiro, tão profundamente fino e esperto, quanto simpaticamente modesto”, o nosso crítico de “O Figueirense” escreve: “Para quem vai a minha admiração máxima é para o ensaiador, sr. José Ribeiro. Só quem sabe o que é ensaiar amadores, sejam de que arte forem, é que pode avaliar o trabalhão que ele teve para apresentar a opereta como ela foi apresentada. Sim, senhor, muito bem. Boas marcas e muita ordem na entrada e saída de cena dos diversos personagens. Se tivesse duas mulheres que cantassem bem, e um rapaz que tivesse boa figura e boa voz, o sr. José Ribeiro podia abalançar-se a representar operetas, já não digo de autores consagrados, mas peças escritas com ordem e que um público ilustrado ouvisse com agrado, porque tem jeito para ensaiar e sabe disciplinar a sua gente”.


         E pronto. Desço o pano sobre a opereta “Em busca da Lúcia-Lima” e vou imediatamente passar à seguinte.

Em busca da 'lúcia-Lima - 2º. acto

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