sábado, 21 de novembro de 2015

O Senhor do Areeiro - 5

         No dia 16 de Janeiro de 1897, o corresponde local da "Gazeta da Figueira" informa que "está já funcionando a escola mista de Tavarede, para a qual tinha há tempos sido nomeada professora a srª. D. Maria Amália de Carvalho, inteligente filha do sr. Inácio Pereira de Carvalho. É já quase de 40 o número de crianças matriculadas na referida escola, e por esta frequência se vê a necessidade que havia ali da sua instituição".

         Funcionava esta escola numa sala da casa que a Câmara havia alugado no chamado Largo do Forno, que, actualmente, tem o nome daquela ilustre professora. Eram mínimas as condições disponíveis para a escola. "... deliberado arrendar por 20$000 reis a casa onde se acha instalada a escola de ensino de Tavarede, pertencente a João Duarte Silva, devendo principiar a contar-se o arrendamento desta a data da instalação da mesma escola.
         Em Abril de 1899, surgia a seguinte notícia: "A srª D. Maria Amália de Carvalho, digna professora da povoação de Tavarede, ofereceu na passada segunda feira – dia da merenda grande – uma soirée familiar, que decorreu animadíssima entre despretensioso convívio, até perto da uma hora da madrugada.     

         O sr. A. Rodrigues recitou o monólogo em verso “O Terrível”, entre francas gargalhadas, sendo também bastante palmeado o sr. A. Proa nas suas cartas de magia.
Durante o baile esteve tocando, sob a direcção do sr. João Proa, um quinteto que muito agradou. De tarde estivera ali executando algumas músicas a “Troupe Gounod”, sendo-lhe oferecido um abundante copo de água".

         Em Julho daquele ano " Pela licença de 30 dias que por motivo de doença foi concedida à exma. srª D. Maria Amália de Carvalho, professora da escola primária desta localidade, fica fechada esta escola até fins de Setembro próximo, pois que ao terminar aquela licença entraremos daí a poucos dias neste mês, que geralmente é feriado para os professores oficiais. Calcule-se por isso o atraso que vão sofrer os numerosos alunos frequentadores da nossa escola, sendo de mais a mais quase todos ainda crianças, e que durante este tempo em que não há aulas vão esquecer tudo o que têm aprendido à custa dos esforços que a sua hábil professora tem empregado para os ilustrar, esforços que são atestados por muitas crianças a quem temos ouvido ler desenvolvidamente. Nada mais justo do que ter-se atendido ao pedido da srª D. Amália de Carvalho, mas também nada mais justo se faria do que nomear-se outra pessoa para a substituir no seu impedimento, obstando-se assim a uma falta que todos são unânimes em apontar. A quem competir rogamos se digne interessar pelo caso"

         Mas a escola ficou fechada durante o impedimento da professora. Entretanto, na sociedade recreativa instalada na casa do Terreiro, onde o sr. João José da Costa, da Quinta dos Condados, havia mandado fazer um teatro, o seu herdeiro, João dos Santos, e o dr. Manuel Gomes Cruz, ainda estudante de Direito, em Coimbra, haviam

instalado uma escola nocturna, que passou a ser frequentada por grande número de alunos, tanto adultos como crianças. Enquanto a escola oficial esteve encerrada por quaisquer motivos, muitas das crianças recorriam à escola nocturna. A escola do Terreiro funcionou até ao ano de 1942 e, além dela, também as outras colectividades locais e a Igreja mantiveram, por vários anos, aulas nocturnas de instrução, que retiraram da ignorância muitos analfabetos que, doutra forma, não teriam possibilidades de aprenderem os princípios básicos da instrução primária. Há notícias, também, de alguns particulares que em suas casas e nos tempos isponíveis prestavam, graciosamente, ensinamento aos seus conterrâneoCortyjo     
No ano seguinte (1930), e no dia da merenda grande, novamente houve

festa das crianças. Eis a notícia. " Ontem, ao início da tarde, quis-nos parecer que os nossos vizinhos figueirenses tinham julgado ser dia de S. João cá na parvónia. Por essas estradas além viam-se ranchos e ranchos de pessoas, e aqui na povoação passavam igualmente muitos outros com cestos enfeitados de verdura e flores e recheados de saborosos petiscos, que iam manducar à sombra de árvores dispersas por aí fora. Não era porém dia de S. João, mas sim o da festejada merenda grande, tão suspirado por todos os operários que até Setembro gozam 2 horas de sesta. Tavarede oferecia-nos mais um tom de quem estava em festa, do que a sua aparência habitual de monótona pacatez. Um grande cortejo de meninas e meninos, alunos da nossa escola elementar, conduzindo cestos caprichosamente engrinaldados de flores, percorreram muitas ruas da localidade. À noite a exma. srª. D. Maria Amália de Carvalho, sua inteligente professora, reuniu em sua casa muitas meninas suas discípulas e outras das suas relações, e ali estiveram em animado convívio até perto da meia noite".


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