A ESCOLA PRIMÁRIA
É muito curioso o facto de, sendo
Tavarede sede de concelho, com sua câmara e justiças, por mais de setecentos
anos, tenha sido, depois de elevada a Figueira da Foz do Mondego a vila, a
última freguesia deste concelho a receber a instalação de uma escola primária
oficial.
No ano de 1892 encontrámos a seguinte
notícia: "Sendo
presente o processo da criação de uma escola mista de ensino primário na
freguesia de Tavarede, concelho da Figueira da Foz, enviado a esta comissão
pelo sr. governador civil, para os fins designados na portaria de 20 de
Setembro de 1892(?), resolveu responder: 1º que não consta do mesmo processo
estar satisfeito o disposto no nº 3º do ofício do ministério do reino de 7 de
Abril de 1885; 2º que as circunstâncias financeiras daquele município não
consentem por enquanto aumento de despesas (sessão
da comissão executiva de 22 de Março)".
Não
havia dinheiro, portanto não havia escola. Mas já havia muito tempo que se
pedia a escola, pois o povo tavaredense sentia a necessidade da instrução.
" Desde 1889 que por parte de alguns beneméritos vizinhos de Tavarede se
fazem baldados esforços afim de alcançar para a localidade o provimento duma
cadeira de instrução primária. Parece incrível que se regateiem aplausos e
auxílio a tão útil tentativa. Bastará lembrar, para fazer reconhecer a urgente
necessidade da criação daquela cadeira que na freguesia existem, segundo o
recenseamento de 1890 e 1891, aproximadamente 600 crianças na idade escolar, e
que, ou não frequentam a aula mais próxima (Figueira), ou têm de caminhar diariamente,
para isso, mais dos 3 quilómetros regulamentares.
Não
podemos, por isso, senão elogiar a actual junta de paróquia, como merecem todas
as que, directa ou indirectamente, hão contribuído no mesmo sentido, fazendo
votos porque afinal se resolvam a aceder, nas regiões superiores, a de pronto
deferir o que há tanto tempo se lhes pede com inegável justiça".
Quer
dizer, os tavaredenses, na sua maioria vivendo do seu árduo trabalho na
agricultura, não provendo de recursos económicos que lhes permitissem mandar os
seus filhos aprender a ler e a escrever na vizinha cidade, e antes necessitando
deles para os trabalhos nas suas terras, eram analfabetos e analfabetos ficavam
os seus filhos. Para trabalhar com a enxada não era necessário saber ler nem
escrever.
Alguns,
poucos, com algumas pequenas disponibilidades financeiras lá mandavam os seus
filhos à Figueira. Outros, ainda, trabalhando na cidade em qualquer emprego,
como trabalhadores braçais, por exemplo, aproveitavam para frequentar a escola
depois do trabalho, na escola oficial ou em escolas particulares que então
haviam. Eram esses, que aprendiam as primeiras letras que melhor se apercebiam
da falta de uma escola em Tavarede e que mais insistiam pela sua criação.
Em
Abril de 1895, paroquiava esta paróquia havia pouco tempo, o padre Joaquim da
Costa e Silva, que dispunha de grande influência política, chegando a ser,
posteriormente, vereador da Câmara Municipal, promoveu mais uma iniciativa para
a criação de uma escola de instrução primária para a sua freguesia, "a
qual é a única deste concelho que não tem uma escola oficial!". Que se
saiba, naquele tempo não existia na terra do limonete nem escola oficial nem
particular...
O
último recenseamento das crianças em idade escolar atestara que aqui havia mais
de 800 crianças "que poderiam receber a benéfica luz da instrução. Nestas
condições, têm direito os povos daquela freguesia à instrução dos seus filhos,
e por isso é de crer que os esforços do digno pároco de Tavarede sejam coroados
do melhor êxito e que o governo atenda aos legítimos interesses daqueles povos,
dando-lhes a instrução necessária, sem o que não haverá cidadãos prestantes e
úteis".
Até
que, em reunião camarária, foi deliberado prover e tomar a seu cargo a casa
para a escola mista e de habitação do professor de Tavarede. E, em Março de
1896, "na primeira reunião do conselho superior de instrução pública deve
ser aprovada a criação de uma escola mista na freguesia de Tavarede, deste
concelho, há tempo requerida pela Câmara Municipal e em harmonia com o decreto
de 27 de Junho de 1895", escrevia num jornal figueirense o seu
correspondente na nossa terra.
Em
Abril de 1896, e depois de se noticiar a próxima publicação no Diário do
Governo do decreto para a criação da escola mista em Tavarede, o jornal "O
Povo da Figueira" escrevia: "Com um melhoramento importante acaba de
ser dotada esta povoação devendo-se a iniciativa dele em primeiro lugar ao
reverendo vigário desta freguesia, sr. Joaquim da Costa e Silva, que mostrou
mais uma vez o seu interesse por tudo quanto reverte em benefício da sua
paróquia; e em segundo lugar ao sr. dr. José dos Santos Pereira Jardim,
deputado às cortes, por tomar na devida consideração a petição que para tal fim
lhe foi apresentada pelo mesmo reverendo vigário.
Refiro-me à escola mista que em breve vai ser estabelecida nesta localidade, onde as crianças podem receber gratuitamente a luz da instrução.
Maria Amália de Carvalho, a
primeira professora oficial de Tavarede.
(desenho de João Nunes da Silva Proa,
exposto na biblioteca da SIT)
Os
chefes de família que avaliam bem as dificuldades que lhes têm surgido até hoje
para a educação intelectual de seus filhos, devem mostrar-se reconhecidos para
com aqueles que desinteressadamente pugnam pelos melhoramentos desta terra. São
dignos, pois, de todos os encómios o reverendo vigário pela reconhecida boa
vontade com que zela os interesses dos seus paroquianos, e o sr. dr. José
Jardim pelos esforços que empregou junto ao governo, para em tão pouco espaço
de tempo conseguir, lutando com bastantes dificuldades, a criação da mesma
escola, instituição esta de grande importância e incontestável utilidade para
Tavarede.
Não
é esta a nossa terra natal, mas temos aqui o nosso domicílio; por conseguinte
sentimos como todos os tavaredenses verdadeiro e natural regozijo quando alguma
coisa se faça em prol desta terra.
Foi
na segunda-feira passada que o reverendo vigário recebeu do sr. dr. José
Jardim, directamente de Lisboa, a notícia de ter sido criada a referida escola;
por este motivo, foi aquele sr. cumprimentado à noite pela “Estudantina Recreio
Tavaredense”. Afinal, tinha demorado, mas até meteu música...
amigo senhor Vitor, vou levar a dona Preciosa este artigo que só lí hoje, a escola onde ela estudou, adorei a história, ela ficará emocionada, obrigada, um bom ano ao senhor e família, amiga Lilia - Pederneiras-Brasil
ResponderEliminarNo meu conceito, Tavarede podia ter mais desenvolvimento, do que tem 1ª não vejo esse edificio do chop China ter alguma margem, para desenvolver Tavarede , pois já precisa de uma Pensao economica com esse grande edificio do cho China Já podia circular , alguns auto-carros com destino de sairem dos 4 caminhos para o HDFF assim como irem ao mercado, Bem; Tavarede continua a cair de Pobre
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